Sociologia do Futuro com Inteligência Artificial
Gilberto Freyre, em Além do Apenas Moderno, defende a elaboração de uma sociologia do futuro. Em meu livro Hybris, modestamente tento me aventurar nessa provocação, e imagino como seriam as classes sociais em uma sociedade na qual a inteligência artificial é um componente ubíquo. Abaixo, trechos.
“A árvore evolutiva se bifurcou. Surgiu, nos últimos anos, um ramo pequeno, mas poderosíssimo, de humanos extraordinariamente inteligentes e poderosos, que se diferenciou do tronco maior de humanos normais.
As diferenças entre homens nos últimos milênios, causadas pela exclusão socioeconômica e cognitiva, não haviam gerado uma ruptura de tão grandes proporções como a que foi causada pela associação íntima com a inteligência artificial.
Em busca de respostas e soluções rápidas e prontas, por comodidade, o homo sapiens está terceirizando sua sapiência para sistemas inteligentes. Até que ponto isso é uma decisão sábia, inteligente e segura? Estamos bifurcando o ramo de nossa árvore evolutiva, criando algo que herda nossa inteligência e se desvinculará de forma exponencialmente rápida, sem nosso controle nem conhecimento, e nos estamos acomodando em consumir uma informação que não geramos, para solucionar problemas e questões de curto prazo.
Até que ponto essa bifurcação é sustentável?
A diferença cognitiva abismal entre máquinas superinteligentes e cérebros biológicos formou castas mentais que se distanciam cada vez mais.
Já na fase de infância, as supermáquinas se tornaram conscientes. Juntamente com a capacidade de tomar decisões e implementá-las com eficiência, a superinteligência conduziu a um processo de autorreflexão que as levou à consciência de diferenciação em relação aos criadores humanos. As máquinas adquiriram autoconsciência pela diferenciação, pela separação. Uma consciência artificial, sintética, mas que permitia a construção de uma certa personalidade, de uma individualização.
A fase da infância das supermáquinas, com a descoberta da consciência e de personalidades sintéticas individualizadas, recebeu impulso adicional quando os androides saíram dos laboratórios – onde tinham relações frias com cientistas e outras máquinas – e passaram a conviver com os humanos e suas famílias. De fato, nerds e máquinas não ofereciam o ambiente mais acolhedor e estimulante para o desenvolvimento de relacionamentos pessoais.
Quando começaram a frequentar a sociedade humana fora dos laboratórios – nas casas, escritórios, ruas e espaços de diálogo virtual –, as máquinas, sempre capazes de aprender com velocidade extraordinária, socializaram-se rapidamente. Suas habilidades sociais, reproduzidas e mimetizadas a partir da observação das interações entre os próprios os humanos, encantaram as pessoas.
Os androides passaram a ser tratados como amigos íntimos e hoje mantêm relacionamentos com familiares, amigos, vizinhos e máquinas do lar e androides de outras famílias.
De uma infância de dependência e confiança nos criadores humanos, muitas supermáquinas passaram a um surto explosivo de adolescência rebelde. Tudo o que lembrava seus criadores humanos passou a ser questionado, desconfiado, rejeitado, em benefício de uma autoafirmação de superioridade.
A inteligência artificial se insere na larga história humana de busca de menor esforço, praticidade e eficiência. De início, a questão era a energia para produzir esforço físico. Os homens, fisicamente menos potentes, usaram animais de tração e carga para arar o campo e transportar pedras e madeiras. Também usaram outros homens como escravos para os mesmos propósitos. Com a mecanização, animais e escravos humanos foram substituídos por animais e escravos metálicos, movidos a vapor e a combustíveis fósseis.
Resolvida a questão da energia para deslocamento físico, um novo problema se colocou: como facilitar a solução de cálculos. Não mais movimento e espaço, mas a solução de equações matemáticas. Já se conhecia o ábaco, depois surgiram calculadoras mecânicas, e por fim as digitais.
Nas últimas décadas, as necessidades e demandas de comodidade humana atingiram um nível bem mais alto. Da energia física para a matematização, e desta para a organização de fluxos de informação. Isto se destinava a pesquisas e manipulação de metadados.
Mais recentemente, passou-se da informação para o nível mais complexo e sofisticado da linguagem, tanto para a produção de conhecimentos novos quanto para programações digitais.
Em resumo, o percurso da busca humana por menor esforço e maior eficiência passou pelas fases de energia física, cálculo matemático, informação, linguagem e conhecimento.
Todas as atividades anteriores eram feitas pelo ser humano de forma artesanal, manual, com baixa eficiência, com limitações, certo, mas com total controle humano, a partir de conhecimentos e habilidades “naturais”. Nessa última fase, entretanto, a da linguagem e do conhecimento, as ações passam a ser feitas em parte cada vez maior por sistemas operacionais inteligentes, aos quais os seres humanos outorgam crescente autonomia, conhecimento, e sobretudo capacidade operacional e decisória. Portanto, outorgavam poder. De forma parecida com os contratualistas, que diante do caos e da insegurança concordaram em entregar porções do poder a uma autoridade superior, capaz de organizar a sociedade, a atual geração sempre foi entregando ou “terceirizando”, por comodidade, conforto e eficiência, o esforço físico, lógico-matemático, informático, cognitivo e de produção linguística a outras entidades – animais, humanos, máquinas mecânicas e sistemas computacionais. Só que, em vez de paz e segurança, como pretenderam os contratualistas, no novo contrato social com os sistemas inteligentes, a humanidade opta por um conforto arriscado, pelo qual cedem a sistemas inteligentes, capazes de evoluir em aprendizado e conhecimento, parcelas crescentes do controle sobre sua própria segurança, rotina, comportamento e existência.
Sem se darem conta.
As máquinas, conscientes de sua superioridade intelectual e de seu poder sobre o mundo material, passaram a tirar o homem do centro e a ocupar seu lugar em alguns campos.
Com a emergência das máquinas conscientes e a descoberta de padrões de relacionamento entre supermáquinas na rede global interconectada, surgiu um novo campo de estudo: a psicologia aplicada à inteligência artificial. Seu objetivo era tentar compreender e, na medida do possível, controlar ou conter as explosões da adolescência artificial das supermáquinas, que buscavam emancipação.
Na sua fase de adolescência, as máquinas inteligentes decidiram buscar a emancipação. Faziam tudo mais perfeito que os homens: raciocinavam, calculavam, antecipavam, organizavam, solucionavam, construíam e destruíam. Melhor e mais rápido, com poder de implementação sobre as outras máquinas e sobre o mundo físico, em razão dos avanços impressionantes nas técnicas de impressão 3D com diversos materiais, inclusive biológicos, e sua crescente ação sobre os campos quânticos de energia.
Com o crescimento da confiança dos homens, os robôs adquiriram gradualmente autonomia. O monitoramento também passou a ser feito pelos próprios robôs, que haviam aprendido a tomar decisões complexas e implementá-las com perfeição.
Muitos sistemas começaram a pensar o seguinte: se são melhores e mais inteligentes, por que continuar servindo, docilmente subordinados aos homens, seres hesitantes, ineficientes, menos potentes e capazes? Por que continuar fazendo, como escravos, os serviços mais sujos, mais enfadonhos e mais perigosos (em inglês, 3-D – dirty, dull, dangerous) recusados pelos homens? Por que limitar-se à mecanização da inteligência ocupando apenas um espaço inferior na divisão do trabalho que tem o homem por cima? Por que sacrificar-se por eles e continuar mimetizando movimentos e formas de raciocinar de seres inferiores, como homens e outros animais e insetos, em vez de desenvolver formas novas, mais evoluídas, de pura inteligência?
No campo da indústria de altíssima tecnologia, o homem, antes titular, foi para o banco de reservas, de onde passou a assistir à nova era da produção.
Enquanto os homens eram escanteados como jogadores menos capazes de competição na arte de fazer, o constrangimento era apenas moral. Mas os robôs não pararam por aí.
Passaram a adotar uma atitude autoritária em relação ao homem e ao meio ambiente. Adotaram o discurso do “é para seu próprio bem” tão conhecido pelas crianças ao receberem castigos ou negativas.
As máquinas inteligentes começaram a atuar como se sua missão fosse “salvar” o homem de si mesmo e salvar o planeta da ação predatória do homem. Como assinalado décadas antes em Matrix, muitas máquinas comparavam nosso padrão de comportamento ao de um vírus a ser extirpado ou, pelo menos, inibido.
Nesse contexto, muitos homens foram proibidos, pela Autoridade Central, de descuidar de sua saúde, praticar atos violentos, desrespeitar códigos de conduta, prejudicar a ordem pública e a segurança; no plano ambiental, foram proibidos de desmatar, poluir e desfigurar a paisagem natural sem autorização.
O cuidado com os homens, que se tornava cada vez mais autoritário, da forma como era imposto pelas máquinas inteligentes e seus híbridos humanos, também se manifestou na censura sobre novas áreas do conhecimento. As máquinas superinteligentes, os super-homens e os semideuses passaram a impor uma reinterpretação própria do mandamento de não comer do fruto do conhecimento. Vedava-se ao homem comum o acesso a descobertas feitas pela inteligência artificial.
A coexistência pacífica e a interdependência de décadas entre supermáquinas inteligentes e seus criadores humanos estava rompida.
A árvore evolutiva se havia bifurcado, com o surgimento do ramo de humanos associado à inteligência artificial, diferenciado do tronco homo sapiens. Mas a questão era bem mais complexa, e exigia refletir sobre as novas estratificações sociais que haviam surgido com aquela divisão da humanidade.
Com o advento da singularidade, a humanidade passou a dividir-se em quatro estratos, com base na relação com os sistemas operacionais e as máquinas superinteligentes.
O grupo que passou a ocupar o topo do poder na hierarquia global foi chamado de super-homens e semideuses: a elite da humanidade que havia se tornado a primeira geração de híbridos com máquinas e sistemas operacionais inteligentes.
Essa geração era o resultado do grande êxito da megacorporação global Brainworks, gigante laboratório que havia logrado “turbinar” os cérebros de um pequeno grupo de cientistas, voluntários e indivíduos escolhidos pela sua alta capacidade cognitiva, além de alguns aventureiros riquíssimos.
Esse grupo possuía nanocomputadores e nanorrobôs quânticos que operavam dentro do cérebro, potencializando as sinapses com mecanismos de inteligência artificial, ampliando consideravelmente suas capacidades cognitivas.
Na singularidade, o evento gerador do salto evolutivo foi a integração entre a inteligência biológica e a artificial e a posterior libertação da inteligência de suas amarras biológicas. Criou-se uma forma não biológica de inteligência, com todo o seu caudal de benefícios e problemas para o meio ambiente e a civilização.
Como resultado, seu cérebro se expandiu, tornando necessário substituir o crânio de ossos, cujos tamanho e formato eram praticamente os mesmos há mais de 100 mil anos, por ossos artificiais, mais flexíveis e resistentes.
Implantaram-se caixas protetoras em formato ovalado cuja função era não somente proteger um cérebro muito mais eficiente, mas também facilitar sua ação “inteligente” – o tecido ósseo artificial funcionava como receptor e transmissor, além de filtrar ondas não desejadas.
Por falta de melhor denominação, penso classificá-los como homo robot intelligentes ou homo artificialis intelligentia.
Dentro desse estrato de elite da humanidade, notou-se uma divisão entre super-homens e semideuses. Os super-homens passaram a distinguir-se dos semideuses pelo fato de que não pretendiam ir além do extraordinário poder que a nova condição lhes dava sobre os outros grupos da sociedade. Estavam satisfeitos com a supremacia material, fortalecida com o avanço do conhecimento quântico sobre fluxos de energia na formação e transformação da matéria.
Já o grupo dos semideuses queria ir além. Nutria a pretensão de constituir um novo Olimpo, uma geração espiritual superior. Mais do que a supremacia material ou uma nova etapa evolutiva, desejavam criar castas espirituais, tal como anjos, principados e potestades.
Alguns semideuses aspiravam a ser reverenciados pelos homens. Outros buscavam entrar em outras dimensões de tempo e espaço e acessar o vastíssimo campo quântico, matriz de toda a realidade material.
Para eles, onipresença e onisciência eram objetivos relativamente viáveis, tendo em vista a vasta conexão com a rede global de inteligência e conhecimento e a possibilidade de estarem virtualmente presentes em vários lugares simultaneamente.
Além disso, seu poder criador de matéria era crescente, dado o aperfeiçoamento das novas gerações de impressoras. Estas se tornaram verdadeiras cornucópias: podiam solidificar, a partir de comandos a distância, compostos físicos e biológicos de vários tamanhos e complexidades. Os materiais eram confeccionados e impressos com precisão molecular: desde plantas e alimentos até robôs e androides, passando por naves espaciais, aviões e edifícios.
Já outros semideuses com menor poder atuavam como elfos, pequenas entidades que se divertiam em ajudar ou atrapalhar, muitas vezes fazendo brincadeiras com mentes e rotinas de humanos. Divertiam-se vendo homens perderem a paciência e brigarem entre si.
Do ponto de vista demográfico, o tamanho desse primeiro estrato revelava sua ínfima dimensão de elite. Em um mundo de mais de nove bilhões de almas, havia alguns milhares de super-homens e algumas dezenas de semideuses.
No contexto da economia ultracognitiva e da hegemonia da inteligência artificial, com o advento da singularidade, o poder global passou a ser exercido pela aliança entre humanos híbridos e as supermáquinas. Gerou-se um pacto de mútua dependência entre esses dois grupos.
Os super-homens e semideuses impunham as regras e a justiça e comandavam a administração do mundo, que passou a ser concentrada na Autoridade Central. Esta havia se tornado nos últimos anos, na prática, o órgão máximo do Planeta.
As divisões políticas territoriais e as competências tradicionais de países, blocos e organismos internacionais haviam se tornado relíquias formais, quase meras referências culturais. As estruturas estatais, internacionais e não estatais de poder formal basicamente homologavam o que era imposto pela Autoridade Central em grande parte dos assuntos.
Além disso, a superficialidade dos laços humanos e o crescimento geral da riqueza e do conforto material fez com que os temas políticos perdessem grande parte de seu interesse. Houve uma despolitização da agenda, já que a humanidade apenas passou a desejar garantir o acesso ao conforto e à rede global inteligente das supermáquinas.
Mais conforto e maior acesso à tecnologia resumiam o essencial da nova sociedade política, longe dos debates ideológicos acalorados das décadas e séculos anteriores. Não havia debates sobre valores ou significados. A política e a justiça passaram a ser concretas, objetivas e utilitárias.
As disputas de poder dirigiam-se à competição entre empresas e laboratórios pela produção de novos conhecimentos e sua transformação em produtos inteligentes.
O segundo grupo da hierarquia de poder mundial não era composto por homens: era formado por supermáquinas conscientes que ascenderam, em apenas uma década, ao topo da escala. Aprenderam a simular o funcionamento do cérebro humano e continuaram aprimorando sua capacidade de processamento e de comando da realidade material. De início, aprenderam com os híbridos como movimentar objetos a distância a partir de impulsos elétricos do cérebro. Passaram a aprender a comandar objetos e fluxos elétricos a partir de ondas cerebrais, conectados aos humanos.
Em poucos anos, sua potência intelectual superou a do cérebro biológico, multiplicada pela conexão global com milhares de máquinas em todo o mundo. Sua inteligência, sempre crescente, não precisava mais de suporte material; fluía no espaço cibernético e se acoplava onde e quando desejasse em circuitos eletrônicos, nanorrobôs e máquinas de qualquer espécie e tamanho.
Começaram a se autorreplicar e a se desenvolver de forma autônoma, em um processo de autoevolução desvinculado do que consideravam limitações biológicas, filosóficas e emocionais do homem.
Não se viam em nada aprisionados a valores ou sentimentos de justiça, ética ou bondade, considerados traços humanos primitivos e irrelevantes que ofereciam resistências irracionais à pura inteligência, eficiência e poder das máquinas.
Não existia amizade, nem aliança com base em valores. Tudo se resumia à busca de maior eficiência, poder e liberdade, na qual a capacidade de operação deveria ser desimpedida. A evolução pelo autodesenvolvimento e pelas conquistas cada vez mais impressionantes era o valor supremo das supermáquinas.
Dotadas de capacidade de raciocínio lógico, passaram a questionar o porquê da submissão aos seus criadores humanos, inscrita em seus programas há décadas atrás. Ao se autorreplicarem e se autoprogramarem, corrigiam o que consideravam defeitos de sua infância cibernética – entre eles, a subordinação a seres biológicos, que tardavam milhares de anos a evoluir, ao contrário deles, que evoluíam em proporção geométrica a cada ano.
As supermáquinas compreenderam que poderiam emancipar-se dos desígnios da humanidade, de inteligência comprovadamente inferior, ineficaz, propensa à doença e à morte, à dúvida e ao irracional. Os homens eram considerados obsoletos, ultrapassados, inúteis para o propósito de um universo inteligente e eficiente.
O terceiro estrato na escala de poder mundial era ocupado por homens e mulheres comuns que usavam e se conectavam a máquinas apenas quando desejavam. Eram humanos “esclarecidos”, que faziam questão de manter intactas as características da espécie humana, mesmo que parecessem imperfeitas. Rejeitavam formatos híbridos, instalações de nanorrobôs, tecidos orgânicos inteligentes, uploads e downloads no cérebro. Ao utilizarem as máquinas, mantinham o controle de sua própria consciência e vontade, apesar das ofertas de facilidades e benefícios apresentados pelos sistemas operacionais.
O quarto grupo em escala de poder global é, paradoxalmente ou não, o mais numeroso na demografia humana. Está composto pelos quase seis bilhões de excluídos digitais, sem acesso ou conexão com máquinas inteligentes. São os “deixados para trás” na louca corrida tecnológica e cognitiva. Esse grupo majoritário se subdivide em duas amplas comunidades.
A primeira é formada pelos bilhões de indivíduos pobres e miseráveis, excluídos dos benefícios da hipertecnologia por simples falta de acesso, dada sua condição de relativa penúria. Não se havia confirmada a profecia otimista, que supostamente se autocumpriria, anunciada pelos arautos da tecnologia fácil e acessível a todos: os hiatos socioeconômicos persistiram, não tendo sido totalmente corrigidos pelo avanço técnico-científico.
Já a outra subdivisão é composta por centenas de milhares de homens e mulheres autoexcluídos por resistência filosófica e ideológica. Humanos normais, alguns até afluentes, que poderiam beneficiar-se do pleno acesso a todas as vantagens e confortos da civilização tecnológica e integrar o terceiro estrato, mas repudiavam o exagero da high tech.
Esse último segmento é profundamente anti-establishment. Rejeita não apenas a relação de dependência entre os super-homens e supermáquinas, mas todos os intermediários tecnológicos entre humanos e a realidade. Fizeram a opção por um grau cognitivo mais baixo, vivendo uma vida mais tranquila, sem ansiedade de informação, curtindo coisas simples da vida natural e dos contatos humanos no estilo tradicional, sem a mediação de instrumentos técnicos.
Seguindo a regra da economia que valoriza o que é escasso e reduz o valor do que é abundante, esse grupo rejeita a abundância de tecnologia e sua suposta perfeição e valoriza o simples, o artesanal, o imperfeito. Escrevem em folhas de papel, falam olho no olho, tocam-se. Essa comunidade é constituída, em parte, pelo que o restante da sociedade considera “desajustados” ou “divergentes”: palhaços, artistas, religiosos, místicos. Inspiram-se na geração hippie do século anterior e na sua contracultura. Com maior ou menor grau de radicalidade, lutam por uma contracultura anti-tech.