Conversando com o Chat GPT

Sumário

Chat GPT e inteligência artificial 

A diferença entre a experiência sensorial e emocional e sua descrição

 

Chat GPT e inteligência artificial

 

Eu praticamente não uso o Chat GPT. Prefiro escrever eu mesmo, e pesquisar no Google à moda antiga, como eu fazia nas bibliotecas, buscando nos ficheiros as referências bibliográficas.

Uma coisa é ter a resposta, outra é aprender. Eu prefiro aprender. Quem se contenta com a resposta fast food, por preguiça, comodidade ou pressa, não aprende. O cérebro se atrofia. É o que está acontecendo hoje, robôs fazendo a pesquisa sem esforço mental, atrofiando as funções cerebrais cognitivas e de pensamento crítico, para sobrar tempo para o indivíduo, não usar o ócio criativo dos filósofos antigos, continuar preso nas telas consumindo gotas de dopamina de curto efeito, por horas a fio.

Em busca de respostas e soluções rápidas e prontas, por comodidade, o homo sapiens está terceirizando sua sapiência para sistemas inteligentes. Até que ponto isso é uma decisão sábia, inteligente e segura? Estamos bifurcando o ramo de nossa árvore evolutiva, criando algo que herda nossa inteligência e se desvinculará de forma exponencialmente rápida, sem nosso controle nem conhecimento, e nos estamos acomodando em consumir uma informação que não geramos, para solucionar problemas e questões de curto prazo.

Claro que o Chat GPT – como de resto conteúdos gerados pela inteligência artificial – é útil em muitos casos. Mas creio que, se queremos aprender mesmo – aprender e pensar – e não apenas ter respostas a questões ou problemas postos por outros, é melhor algo mais trabalhoso, que ajude o cérebro a se evoluir.

Eu compararia o Chat GPT com a Medicina alopática de impacto químico imediato contra a dor ou no tratamento de algumas doenças. Resolve no imediato, mas pode causar dependência; são respostas “prontas para pensar” oferecidas pela inteligência artificial. São soluções para problemas. Não ensinam, não ajudam a pensar, nem a evoluir intelectualmente, apenas resolvem problemas. Na área cognitiva, considerando o cérebro, é melhor usar algo próximo da homeopatia, mais natural.

A inteligência artificial em geral, e em particular o Chat GPT, se inserem na larga história humana de busca de menor esforço, praticidade e eficiência. De início, a questão era a energia para produzir esforço físico. Os homens, fisicamente menos potentes, usaram animais de tração e carga para arar o campo e transportar pedras e madeiras. Também usaram outros homens como escravos para os mesmos propósitos. Com a mecanização, animais e escravos humanos foram substituídos por animais e escravos metálicos, movidos a vapor e a combustíveis fósseis.

Resolvida a questão da energia para deslocamento físico, um novo problema se colocou: como facilitar a solução de cálculos. Não mais movimento e espaço, mas a solução de equações matemáticas. Já se conhecia o ábaco, depois surgiram calculadoras mecânicas, e por fim as digitais.

Nas últimas décadas, as necessidades e demandas de comodidade humana atingiram um nível bem mais alto. Da energia física para a matematização, e desta para a organização de fluxos de informação. Isto se destinava a pesquisas e manipulação de metadados.

Mais recentemente, passou-se da informação para o nível mais complexo e sofisticado da linguagem, tanto para a produção de conhecimentos novos quanto para programações digitais.

Em resumo, o percurso da busca humana por menor esforço e maior eficiência passou pelas fases de energia física, cálculo matemático, informação, linguagem e conhecimento.

Todas as atividades anteriores eram feitas pelo ser humano de forma artesanal, manual, com baixa eficiência, com limitações, certo, mas com total controle humano, a partir de conhecimentos e habilidades “naturais”. Nessa última fase, entretanto, a da linguagem e do conhecimento, as ações passam a ser feitas em parte cada vez maior por sistemas operacionais inteligentes, aos quais os seres humanos outorgam crescente autonomia, conhecimento, e sobretudo capacidade operacional e decisória. Portanto, outorgavam poder. De forma parecida com os contratualistas, que diante do caos e da insegurança concordaram em entregar porções do poder a uma autoridade superior, capaz de organizar a sociedade, a atual geração sempre foi entregando ou “terceirizando”, por comodidade, conforto e eficiência, o esforço físico, lógico-matemático, informático, cognitivo e de produção linguística a outras entidades – animais, humanos, máquinas mecânicas e sistemas computacionais. Só que, em vez de paz e segurança, como pretenderam os contratualistas, no novo contrato social com os sistemas inteligentes, a humanidade opta por um conforto arriscado, pelo qual cedem a sistemas inteligentes, capazes de evoluir em aprendizado e conhecimento, parcelas crescentes do controle sobre sua própria segurança, rotina, comportamento e existência.

Sem se darem conta.

Dito isto, que uso o Chat GPT simplesmente para pesquisa, ou mesmo para entender como funcionam ou “pensam” as máquinas, não para escrever ou pensar por mim.

Abaixo, algumas interações que fiz.

 

A diferença entre a experiência sensorial e emocional e sua descrição

 

Nada se compara à experiência sensorial ou de vida. Ela é mais impactante que toda abstração teórica. Explicar teoricamente, por exemplo, o que é a fala, ou o sabor de um sorvete, é um empobrecimento grotesco, brutal e injusto com a extraordinária riqueza da experiência dos sentidos e de sua impressão em nossa alma.

Da mesma forma, nenhuma religião ou teologia é capaz de explicar Deus, nem nossa relação com Ele.

Por exemplo, como explicar a interação de uma boa conversa? A mera descrição técnica, física, anatômica, seria ridiculamente pobre, se comparada com a experiência de realmente conversar com alguém, duas pessoas completas interagindo.

Por isso, perguntei ao Chat GPT como seria o processo de fala, do ponto de vista físico e anatômico. Para isso, sim, posso usar o Chat, não tenho competência nem conhecimento para explicar por mim mesmo. A resposta, que sintetizo aqui:

A fala é a interação coordenada de múltiplos sistemas anatômicos e fisiológicos, que transformam energia aerodinâmica em sinais acústicos modulados. O mecanismo pode ser descrito em três etapas: respiração, fonação e articulação/resonância. Na primeira, do mecanismo respiratório, está a dimensão de energia. Nela interagem pulmões, diafragma, músculos intercostais, traqueia, com a função de gerar a pressão subglótica necessária. Mas é necessário o controle expiratório fino, com ativação coordenada dos músculos respiratórios. O ar é impulsionado dos pulmões, passando pela traqueia até a laringe. A pressão do ar subglótico mantém a vibração das pregas vocais. Na segunda, relative ao mecanismo fonatório, atuam laringe, cartilagens e cordas vocais. Sua função é converter fluxo de ar em vibração sonora. O ar sob pressão força a separação das pregas vocais; a elasticidade tecidual promove sua reaproximação, gerando ciclos vibratórios. A frequência de vibração determina a altura da voz, e a amplitude da vibração influencia sua intensidade. O som resultante é um “zumbido laríngeo”, rico em harmônicos, mas ainda não inteligível. O terceiro mecanismo é a articulação e modulação do som (ressonância). Dela participam faringe, cavidade oral, cavidade nasal, língua, lábios, palato duro, véu palatino, mandíbula. Sua função é moldar o som em unidades linguísticas (vogais e consoantes). Para as vogais, as cavidades supraglóticas funcionam como filtros acústicos, amplificando ou atenuando determinados harmônicos. Para as consoantes, movimentos da língua, dos lábios, do palato e da mandíbula produzem constrições, oclusões ou aberturas. O véu palatino regula o acoplamento entre cavidade oral e nasal, permitindo sons orais ou nasais. Por fim, a integração neurofuncional. O córtex motor, áreas de linguagem e circuitos subcorticais coordenam a programação e execução motora.

Chatérrimo e ao mesmo tempo brilhante e certíssimo, não? Multiplique essa descrição, e terá uma conversa entre pessoas.

O que quero dizer aqui é: nenhuma descrição técnica é capaz de traduzir a imensa riqueza de uma fala. De uma voz. De um canto. De uma conversa.

Da mesma forma, nenhuma religião ou teologia é capaz de explicar Deus, nem nossa relação com Ele.