APRESENTAÇÃO

Este é um conjunto de reflexões sobre alguns temas da vida cristã.

Seu objetivo é, simplesmente, abençoar o leitor e fazê-lo meditar sobre o imenso amor de Deus.

Os textos falam de amor, da criação do universo, refletem sobre o que significa “ser”, comentam as relações entre ciência e religião, propõem trechos para leitura em família no Natal e na Páscoa, explicam o mistério da Trindade, falam da confiança em Deus, no paradoxo entre o bem e o mal, contam como a Bíblia chegou até nós, assinalam semelhanças e diferenças entre as três religiões monoteístas – cristianismo, judaísmo e islamismo – e sublinham como Deus se apresentou em algumas culturas específicas não-cristãs.

SUMÁRIO

ABENÇOAR

AMOR, VÍNCULO PERFEITO

O AMOR É UM PRODUTO DA NATUREZA BIOLÓGICA?

BUSCAR AS COISAS DO ALTO

ÁGUA VIVA

O PÃO DA VIDA

DEUS DISSE A MOISÉS: “EU SOU”. O QUE É “SER”?

A CRIAÇÃO, A PALAVRA E AS CORDAS

OS VERBOS DA CRIAÇÃO

RELIGIÃO E CIÊNCIA SÃO CONTRADITÓRIAS?

TRECHOS PARA LER EM FAMÍLIA NO NATAL

REFLEXÃO PARA O NATAL:  COMO SERIA SE JESUS NASCESSE HOJE?

TRECHOS PARA LER EM FAMÍLIA NA PÁSCOA

RITO DE CELEBRAÇÃO DA PÁSCOA JUDAICA:  UMA LEITURA CRISTÃ

DEUS EXISTE?

A TRINDADE SÃO TRÊS DEUSES?

O QUE É SALVAÇÃO?

VOCÊ CONFIA EM DEUS OU NO HOMEM?

“BEM-AVENTURADOS OS MANSOS,  PORQUE HERDARÃO A TERRA”

O MAL É MAIS FORTE QUE O BEM?

NOSSO CÉREBRO É INCLINADO AO PECADO?

O QUE É BÍBLIA?

COMO A BÍBLIA CHEGOU ATÉ NÓS?

OBJEÇÕES A JESUS E AO CRISTIANISMO

QUADRO SINÓTICO DE SEMELHANÇAS E DIFERENÇAS ENTRE CRISTIANISMO, JUDAÍSMO E ISLAMISMO

O “FATOR MELQUISEDEQUE”

CITAÇÕES

 

ABENÇOAR

Sua palavra exerce efeito no universo. Em você, nas pessoas ao seu redor, nos eventos.

Por meio de sua palavra, você pode criar, destruir, alterar o curso dos acontecimentos ou reforçá-lo, melhorar ou piorar uma situação, plantar nas pessoas sementes de bem ou de mal.

Abençoar significa dizer o bem. Transmitir o bem que temos em nós. Ou, melhor ainda, transmitir o bem d’Aquele que É a Fonte de todo o Bem.

Abençoar é multiplicar o bem, seja pelo pensar ou dizer, seja pelo ser. “Sê tu uma bênção”[1].

Por antítese, amaldiçoar é dizer o mal, transmitir o mal que há em nós.

É multiplicar o mal.

“A boca fala do que está cheio o coração. O homem bom tira do tesouro coisas boas; mas o homem mau do mau tesouro tira coisas más. Digo-vos que de toda palavra frívola que proferirem os homens, dela darão conta no dia do juízo; porque pelas tuas palavras serás justificado, e pelas tuas palavras serás condenado.”[2]

Quando abençoamos aos que nos perseguem e desejam nosso infortúnio, quebramos a dinâmica e a força do mal com a dinâmica e o poder do bem.

Essa é uma atitude fundamental da essência do cristianismo, totalmente na contramão do que o mundo nos ensina e impele.

“Eu, porém, vos digo: amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem; para que vos torneis filhos do vosso Pai Celeste.”[3]

“Amai os vossos inimigos, fazei o bem aos que vos odeiam; bendizei aos que vos maldizem, orai pelos que vos caluniam … Se fizerdes o bem aos que vos fazem bem, qual é a vossa recompensa? Até os pecadores fazem isso … Sede misericordiosos, como também é misericordioso vosso Pai. Não julgueis, e não sereis julgados; não condeneis, e não sereis condenados; perdoai, e sereis perdoados … porque com a medida com que tiverdes medido vos medirão também.”[4]

“Abençoai aos que vos perseguem, abençoai, e não amaldiçoeis … Não torneis a ninguém mal por mal … pelo contrário, se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber; porque, fazendo isto, amontoarás brasas vivas sobre a sua cabeça. Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem.”[5]

Abençoar é da própria essência de Deus, como Pai Criador.

Deus abençoou sua Criação: os animais e os homens. As bênçãos de Deus têm sempre o mesmo conteúdo: “sede fecundos, multiplicai, enchei”[6]. Fecundidade, produzir frutos, multiplicar, encher espaços, vencer, governar.

As bênçãos de Deus são a própria dinâmica da vida: reproduzir, fluir, jorrar, crescer, transbordar, preencher, estar presente. Todas expressões semânticas do sentido da vida. Na semântica da vida, as bênçãos de Deus significam o vínculo de amor dadivoso que o Criador oferece às suas criaturas.

Não receber essas bênçãos, ou não multiplicá-las por meio de nossa existência, implica colocar-se à margem da vida.

Deus foi além nas bênçãos liberadas ao homem: deu-lhes o domínio sobre os outros seres, e o alimento de toda a terra[7].

Deus abençoou diversas pessoas na Bíblia, desde Adão e Eva, e continua abençoando hoje com Sua graça e misericórdia.

A bênção dada a Abraão é grandiosa, multiplicadora e universal, por ser geradora de uma aliança:

“De ti farei uma grande nação, e te abençoarei, e te engrandecerei o nome. Sê tu uma bênção. Abençoarei os que te abençoarem, e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem. Em ti serão benditas todas as famílias da terra.”[8]

Diante das hesitações, dúvidas e temores de Abraão, Deus reafirma:

“Não temas, Abrão, Eu Sou o teu escudo, e teu galardão será sobremodo grande … Olha para os céus e conta as estrelas, se é que o podes. E lhe disse: assim será a tua posteridade. Ele creu no Senhor, e isso lhe foi imputado para justiça”.[9]

Jacó, neto de Abraão, sabia muito bem da importância da bênção divina, e buscou-a com todas as suas forças. Ele a queria tanto que deixou de lado toda ética, o que é reprovável: buscou-a de forma inescrupulosa e fraudulenta quando jovem, enganando seu pai, Isaque, e usurpando a bênção que cabia a seu irmão gêmeo, Esaú. Mais adulto, vinte anos depois, lutou com um anjo de Deus, e não o largou até ser abençoado. Jacó, renomeado Israel, é exemplo de alguém que luta em oração diante de Deus por bênçãos em sua vida, o que demonstra sua certeza no poder d’Aquele que é o Provedor de todas as bênçãos. Em resposta, Deus o perdoou por seus erros de juventude e o abençoou, dele fazendo uma grande nação, protegendo sua descendência, mostrando-o anjos e guardando Sua fidelidade.

Jacó, tal como seu pai Isaque, abençoou seus filhos, e sobre eles profetizou. Você faz o mesmo? Não podemos nunca deixar de abençoar nossos filhos e familiares. A família é uma instituição divina, e precisa que seus cabeças sejam agentes da bênção de Deus.

Deus instruiu Aarão a abençoar os filhos de Israel com uma das mais poderosas bênçãos da Bíblia:

“O Senhor te abençôe e te guarde. O Senhor faça resplandecer o Seu Rosto sobre ti, e tenha misericórdia de ti. O Senhor sobre ti levante o Seu Rosto, e te dê a Paz”[10].

Quando estamos sob a bênção de Deus, nenhum intento do maligno de nos amaldiçoar é eficaz. Foi o que aconteceu no episódio de Balaque e Balaão[11]. Balaque, rei moabita, “contratou” o profeta Balaão para que fizesse “encantamentos”. Num primeiro momento, o Senhor não o autoriza: “Não irás com eles, nem amaldiçoarás o povo; porque é povo abençoado”. O profeta reafirma seu temor a Deus, mesmo diante da promessa de riquezas: “Ainda que Balaque me desse a sua casa cheia de prata e de ouro, eu não poderia traspassar o mandado do Senhor meu Deus, para fazer coisa pequena ou grande”. Deus finalmente o autoriza a ir (mas não a amaldiçoar). No caminho, o interessantíssimo episódio da jumenta falante. Balaão mantém sua fidelidade a Deus diante da autoridade de Balaque: “Porventura não terei cuidado de falar o que o Senhor pôs na minha boca?” E, para desespero do moabita, termina por abençoar a Israel: “Eis que para abençoar recebi ordem; Ele abençoou, não posso revogar”.

Não devemos nos preocupar com maldições, invejas e diversos outros intentos do inimigo de roubar nossa paz e nossa comunhão com Deus. Se estamos sob Suas Asas, nenhum desses males nos alcançará.

Se atentamente ouvirmos a Voz do Senhor e guardarmos os Seus Mandamentos, Deus nos promete grandes bênçãos:

“Bendito serás tu na cidade, e bendito serás no campo. Bendito o fruto do teu ventre, e o fruto da tua terra, e o fruto dos teus animais … Bendito serás ao entrares, e bendito ao saíres. O Senhor fará que sejam derrotados na tua presença os inimigos que se levantarem contra ti: por um caminho sairão contra ti, mas por sete caminhos fugirão da tua presença. O Senhor determinará que a bênção esteja nos teus celeiros, e em tudo o que puseres a tua mão: e te abençoará na terra que te dá o Senhor teu Deus. O Senhor te constituirá para si em povo santo … O Senhor te dará abundância de bens … O Senhor te abrirá o seu bom tesouro, o céu, para dar chuva à tua terra no seu tempo, e para abençoar toda obra das tuas mãos … O Senhor te porá por cabeça, e não por cauda; e só estarás em cima, e não debaixo.[12]

Por outro lado, se não dermos ouvidos à voz de Deus, não cuidando de cumprir Seus Mandamentos, há uma série de maldições expressamente previstas, “porquanto não serviste ao Senhor teu Deus com alegria e bondade de coração, não obstante a abundância de tudo”[13].

A escolha é nossa: “… te propus a vida e a morte, a bênção e a maldição: escolhe, pois, a vida, para que vivas, tu e tua descendência, amando ao Senhor teu Deus, dando ouvidos à Sua Voz, e apegando-te a Ele; pois disto depende a tua vida …”[14]

“Do Senhor é a salvação, e sobre o Teu povo, a Tua Bênção”[15].

Moisés clamou assim ao Deus que lhe apareceu na nuvem: “Senhor, Senhor Deus compassivo, clemente e longânimo e grande em misericórdia e fidelidade”[16].

De fato, a bênção de Deus aparece muitas vezes na forma de sua Misericórdia e Benignidade.

Nelas temos que aprender a descansar, lançando por terra toda a nossa ansiedade. Esse é um passo de fé: aquietar nosso coração e descansar na certeza de que Ele vai nos abençoar.

Assim aparece, por exemplo, no Cântico de Maria: “A Sua Misericórdia vai de geração em geração sobre os que O temem”[17].

Assim também aparece, especialmente, nos Salmos.

“Bondade e misericórdia certamente me seguirão todos os dias de minha vida”[18].

“Sacia-nos de manhã com a tua benignidade”[19].

 “Quanto a mim, porém, sou como a oliveira verdejante na Casa de Deus. Confio na Misericórdia de Deus para todo o sempre”[20].

“A Misericórdia do Senhor é de eternidade a eternidade sobre os que o temem”[21].

“Rendei graças ao Senhor, porque Ele é Bom, porque Sua Misericórdia dura para sempre”[22].

AMOR, VÍNCULO PERFEITO

Casais, poetas, amigos, pais, filhos, militantes, fãs, todos amamos alguém.

O amor é talvez o tema mais falado, cantado, refletido, desejado, festejado ou chorado na história da humanidade.

Sua experiência, positiva ou não, sua conquista ou perda, causam euforia e depressão, felicidade e sofrimento, liberdade e dependência.

Ele habita o coração, mas também o cérebro. Invade a alma, o inconsciente, todo o ser. Além do sentimento, também se manifesta em compromissos, comportamentos e atitudes. Ele muda nossa cosmovisão e nossa atitude diante da vida.

O amor permeia os planos espiritual, emocional, mental, biológico e existencial.

Escritores, músicos, psicólogos, neurologistas, teólogos, fabricantes e vendedores de produtos de toda sorte há séculos tentam decifrar, compreender e lidar com sua complexidade.

Será possível definir amor?

É o mais fácil e o mais difícil. Uma criança e um casal o compreendem, e talvez um velho sábio não.

É impossível reduzi-lo a uma explicação única e abrangente. Impossível e indesejável, porque isso seria matá-lo, encerrando-o em uma gaiola racional ou comportamental. Ao contrário, o amor liberta a alma e a vida. Ele existe para ser vivido, desfrutado, provado.

Amor, vínculo perfeito: a força de gravidade da alma

Revesti-vos de amor, que é o vínculo da perfeição. (Colossenses 3: 14)

No original grego, as palavras deste versículo são amor / agápe (αγάπη), vínculo de união (συμδεσμός) e perfeição final (τελειότητός).

O amor é a mais poderosa força de atração entre seres. Uma força de gravidade existencial, afetiva e espiritual tão forte que é capaz de unir almas, tornando um dois (ou mais) seres.

Por isso, é o vínculo perfeito: o amor torna um.

Sem perder sua individualidade, os seres que se amam tornam-se um. O homem se une à sua mulher, e ambos se tornam um. Os primeiros cristãos eram um só coração e alma. Jesus roga ao Pai que sejamos um com Ele, assim como Ele é um com o Pai. Pai, Filho e Espírito são um.

O amor une seres individuais e faz nascer, nessa comunhão, um ser maior, mais rico, mais complexo, mais belo, mais perfeito.

Tal como a gravidade dos corpos celestes rege, pela força de atração, a harmonia das constelações e galáxias, permitindo a fusão de elementos cósmicos em estrelas e a organização de sistemas solares, o amor, como força de atração que cada alma tem em si, é capaz de reger de forma harmônica as vidas, vinculando-as de forma tão plena a ponto de unir seres, existências, caminhos, vidas.

No amor, nascemos de novo a partir do outro. Somos novas criaturas, com novo nome, nova vida, novo ser.

Devemos parte de nosso ser ao outro que amamos. Somos parte de outrem, e o outro é parte de nós. O amor nos torna completos. Plenos, cheios, inteiros.

Quando não temos ou perdemos amor, voltamos a ser incompletos, imperfeitos, inadequados, vazios. Por isso, amar e ser amados nos torna vulneráveis e dependentes.

O amor nos humaniza. Sua ausência nos torna menos humanos.

Se o amor é uma força de gravidade afetiva e espiritual, e se no amor nascemos de novo a partir do outro, só é possível haver amor quando há entrega e cuidado.

O amor precisa de dedicação, de cuidado, de tempo, de atenção, de paciência, de perseverança, senão murcha e seca. O amor precisa ser exercitado, senão atrofia.

Maridos, amai vossa mulher, como também Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela. (Efésios 5: 25)

Essa entrega deve ser feita com generosidade e confiança, sem medo, apesar da posição de vulnerabilidade em que nos colocamos.

No amor não existe medo; antes, o perfeito amor lança fora o medo. Ora, o medo produz tormento; logo, aquele que teme não é aperfeiçoado no amor. (I João 4: 18)

 Formas de amor

Quais os tipos e formas de amor? Há vários, dependendo de quem ama, de quem é amado e da intensidade.

Na língua grega, o conceito de amor pode ser expresso de formas distintas: agápe (αγάπη), amor espiritual, incondicional, muitas vezes traduzido como caridade; filia (φιλια) quando se refere à amizade fraterna; storgé (στοργή), a afeição familiar, também fraternal; e eros (έρως), o romance apaixonado, o amor físico, íntimo, inclusive sexual.

Essas categorias de amor são analisadas por C. S. Lewis no livro “Os quatro amores”.

O amor agápe (αγάπη) se dirige a alguém de forma incondicional, independentemente de qualquer qualidade que seu objeto possua, ou das circunstâncias. Lewis o considera o maior dos amores, e sublinha que Deus é cheio desse tipo de amor.

Filia (φιλια), amizade fraterna, representa uma forte ligação entre pessoas que compartilham interesses ou a vida em comum. Não tem base biológica, nem se associa ao impulso emotivo. Lewis compartilha com os filósofos clássicos a opinião de que este é um amor admirável, porque se baseia no relacionamento social.

Storgé (στοργή), afeição familiar, fraternal, aparece como a mais natural (biológica), emotiva e difundida forma de amor. É tido como incondicional, não há coerção, não depende do comportamento – podendo, muitas vezes, ser “exigido” e até “abusado” pelos que os recebem.

Eros (έρως), para Lewis, tem o sentido de “estar apaixonado” – que não necessariamente implica sexualidade. Nela, pode haver devoção cega, com a possibilidade, inclusive, de deterioração “demoníaca”, pela idolatria.

Para Freud, a natureza humana traz em si a dualidade dos instintos eros e thánatos (Θάνατος, morte). Para ele, eros representa o instinto de vida, amor e sexualidade, o impulso em direção à atração e à reprodução, ao passo que thánatos representa o instinto de morte, agressão, repulsão, destruição.

Seria possível associar cada uma dessas quatro formas de amor a um verbo específico. Cada verbo corresponderia a uma força de atração (gravidade afetiva) diferente entre seres.

Eros corresponderia ao possuir, porque deseja ter posse do objeto amado, lança-se para agarrá-lo, conquistá-lo, penetrá-lo, movido, em linguagem bem popular, pelo chamado “tesão”.

Storgé corresponderia ao pertencer afetivamente a uma família, uma tribo, um clã, quem sabe mesmo a uma cultura, região ou um país, como signo de identidade.

Filia corresponderia ao conviver (etimologicamente, “viver com”) em laços de amizade, fraternidade, a partir de experiências partilhadas, de um caminhar lado a lado, de uma peregrinação ao longo da vida, rumo a um destino comum.

Agápe corresponderia ao ser, porque busca unir-se ao outro no plano existencial, em comunhão plena, acima de qualquer intenção de posse ou pertencimento, levando bem mais além a aproximação característica do filia.

Quando Jesus pergunta a Pedro se ele O ama, emprega agapás (αγαπάς), mas Pedro responde com filo (φίλο) (João 21: 16). Evidentemente, essa conversa transcorreu em aramaico, mas o sentido foi captado e reproduzido em grego pelo apóstolo João. Imagino a tristeza de Jesus com essa resposta. Ele quer de nós um amor ágape, espiritual, pleno, e não apenas nossa amizade (filia).

Já Paulo, quando recomenda que nos amemos uns aos outros com amor fraternal (Romanos 12: 10), emprega filia.

É importante distinguir entre amor e paixão. Amor é duradouro, constante, perseverante, decidido. Paixão é explosiva, inconstante, insegura. Mas há coincidências. Ambos são forças poderosas, capazes de construir, motivar, impulsionar, tirar ânimo de onde não resta mais nada. Ambos são irracionais, inconscientes, ilógicos.

A propósito, leia, neste site, o texto “O amor é um produto da natureza biológica?” (na parte “Perguntar não é pecado”). O amor de Deus por nós tem o padrão de um amor apaixonado, irracional, capaz de entregar sua vida divina pelo resgate de seres como nós!…

No famoso livro “A arte de amar”, Erich Fromm indaga se o amor é uma arte ou apenas uma sensação prazerosa. Se é uma arte, requer conhecimento e esforço. Se é uma sensação de prazer, experimentá-lo é questão de sorte. Fromm acredita no amor como arte, mas reconhece que a maioria pensa que se trata de sorte e acaso. Em sua “teoria do amor”, Fromm discorre sobre os “objetos amorosos”: amor entre pais e filhos, amor fraternal, materno, erótico, amor a si mesmo e amor a Deus.

Na Bíblia, o amor é ao mesmo tempo um mandamento de Deus e um fruto do Espírito.

A Palavra de Deus nos “ordena” amar alguns “objetos” (no sentido de Erich Fromm): Deus, o próximo, o estrangeiro, o bem, maridos e esposas, inimigos, e assim por diante.

O maior mandamento é:

Amarás, pois, o SENHOR, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de toda a tua força. (Deuteronômio 6: 5)

Outro maior mandamento, considerado por Jesus equivalente ao primeiro, é:

Amarás o teu próximo como a ti mesmo. (Levítico 19: 18)

Ora, se o amor nasce da alma, do coração (e não da mente racional, que comanda o comportamento), como pode Deus obrigar-nos a amar?

Há três respostas possíveis.

Deus sabe que a existência humana é inviável e impossível sem amor, e por isso nos ensina a viver em amor – tanto nas motivações internas, como nas atitudes externas.

Deus sabe que nosso coração pode ser enganoso e perverso (Jeremias 17: 9), desviando-nos do caminho do bem, e por isso o transforma, operando em nós o querer e o efetuar (Filipenses 2: 13).

O amor é um fruto do Espírito Santo (Gálatas 5: 22-23). Precisamos viver e andar no Espírito (idem, 25), produzindo frutos espirituais.

Se não temos amor (o que é infelizmente muito comum), podemos pedir àquEle que é plenamente Amor que nos encha com Seu Espírito e produza em nós frutos de Seu Amor.

I Coríntios 13

Este trecho da Bíblia, escrito por Paulo à igreja em Corinto, contém a descrição mais poética, profunda e ao mesmo tempo educativa e prática de como o amor deve ser vivido, e de sua posição na escala das virtudes do espírito humano.

A estrutura do texto é bem definida. Paulo analisa a motivação interior e as características externas do amor verdadeiro, e finaliza destacando seu lugar entre as virtudes espirituais.

O apóstolo começa dizendo que, sem amor, nosso palavreado, nossos discursos, por mais convincentes, eruditos, cosmopolitas e poliglotas que sejam (“línguas dos homens e dos anjos”), valem tanto quanto o repicar de um metal (“o bronze que soa ou como o sino que tine”), que ecoa no vento por alguns segundos e desaparece. Metáfora compreendida pela comunidade grega, orgulhosa de seus belos discursos e peças de retórica.

Em seguida, na mesma linha, Paulo afirma que, sem amor, nada somos, ainda que tenhamos as virtudes espirituais valorizadas pela comunidade judaico-cristã – o dom de profecia, o conhecimento de todos os mistérios e de toda a ciência, e uma fé tamanha, capaz de transportar montes.

E o que aconteceria se, generosamente, como sinal evidente de nossa boa vontade, distribuíssemos todos os nossos bens e nossa fortuna para sustento dos pobres? Ou, de forma mais dramática, se entregássemos o próprio corpo para ser queimado? Nada disso nos aproveitaria, se não tivermos amor.

Dessa forma, Paulo inicia sua dissertação sobre o amor enfatizando esses três verbos: ser, fazer, ter. Sem amor, nada somos, nada fazemos, nada temos. Tudo desaparece no ar como um som efêmero, nada nos aproveita, mesmo que tenhamos uma sincera boa vontade e nos sacrifiquemos completamente. Somente com amor há sentido e concretude no que somos, no que fazemos e no que possuímos.

Tudo isso está no plano de nossa motivação interior. Paulo nos ensina que temos que ser movidos, intimamente, pelo amor.

Depois de afirmada a motivação interior, o apóstolo passa a descrever as características concretas do amor no plano exterior, que é o dos relacionamentos.

O amor é paciente e bondoso; não arde em ciúmes, não é invejoso, não se ufana, não trata com leviandade, não se ensoberbece, não é orgulhoso nem vaidoso; não se porta com indecência, não é grosseiro nem egoísta, não busca seus interesses, não se irrita, não se ressente do mal, não guarda mágoas; não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade; tudo sofre, nunca desiste, suporta tudo com fé, esperança e paciência.

Paulo finaliza situando o amor no plano mais elevado das virtudes espirituais, afirmando sua eternidade e sua superioridade.

O amor é eterno. Profecias desaparecerão; línguas cessarão; ciência desaparecerá. Nossos dons de conhecimento e as nossas profecias são imperfeitos, incompletos e parciais. Quando, porém, vier o que é perfeito, então, o que é em parte será aniquilado. Porque, agora, vemos obscuramente e conhecemos em parte; no mundo celestial, veremos face a face e conheceremos plenamente. Fé, esperança, amor: o maior destes é o amor.

Em todo o capítulo, Paulo emprega o conceito agápe (αγάπη).

É interessante examinar o sentido original, em grego, da frase traduzida como “o amor jamais acaba”, ou “o amor é eterno”, ou “a caridade nunca falha” (H αγαπη ουδεποτε εκπιπτει). Paulo não empregou o termo “eterno” (αιώνιος), e sim uma palavra (εκπίπτει) que tem o sentido de algo que não é dedutível, não se reduz, não se apequena. O sentido não é propriamente o de tempo (que acaba ou não), nem de algo que falha, mas de tamanho, de volume, de quantidade. Na visão bíblica, o amor é infinito, e não pode ser limitado, nem reduzido, nem descontado – ao contrário das profecias, das línguas e da ciência, que serão aniquiladas e desaparecerão.

Entretanto, o amor, apesar de infinito, pode se esfriar e acabar. É sobre este mistério que Jesus nos adverte, quando fala do final dos tempos:

E, por se multiplicar a iniqüidade, o amor de muitos se esfriará. (Mateus 24: 12)

 Deus É Amor

João, o discípulo que Jesus mais amava, afirma:

Quem não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor. (I João 4: 8)

No original grego, o sentido é, evidentemente, o de ágape (θεὸς ἀγάπη ἐστίν).

Também no versículo que sintetiza o amor de Deus pelo mundo (cosmos), João emprega ágape (ἠγάπησεν θεὸς τὸν κόσμον):

Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.  (João 3: 16)

Em suas epístolas, Paulo também emprega o amor em sentido ágape.

Deus derramou o seu amor no nosso coração, por meio do Espírito Santo. (Romanos 5: 5)

Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores. (Romanos 5: 8)

Em língua hebraica, no Antigo Testamento, o equivalente a ágape é ahvá (אהבה). É com esse termo que Deus declara seu amor ao seu povo:

O SENHOR os amou (Deuteronômio 7: 8)

Ele os amará, e abençoará (Deuteronômio 7: 13)

Em várias traduções modernas da palavra amor, no Antigo Testamento, o termo original, na verdade, equivale à graça e bondade de Deus, que são infinitas e eternas.

Como Jesus manifesta o amor de Deus?

Deus é Amor, e Ele nos amou primeiro

Nisto se manifestou o amor de Deus em nós: em haver Deus enviado o seu Filho unigênito ao mundo, para tenhamos vida por meio dele.

Se Deus de tal maneira nos amou, devemos nós também amar uns aos outros. Se amarmos uns aos outros, Deus permanece em nós, e o seu amor é, em nós, aperfeiçoado.

Deus é amor, e aquele que permanece no amor permanece em Deus, e Deus, nele.

Nós amamos porque Ele nos amou primeiro.
(I João 4: 9, 11, 12, 16, 19)

Ele entregou Sua Vida por nós

Ninguém tem maior amor do que este: de dar alguém a sua vida pelos seus amigos.
(João 5: 13)

O amor de Deus excede, de fato, todo o entendimento e conhecimento (γνωσεως) (Efésios 3: 19).

Ele está no próximo

Amarás ao Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças, e de todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo. (Lucas 10: 27)

Se alguém disser: amo a Deus, e odiar a seu irmão, é mentiroso; pois aquele que não ama a seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê. (I João 4: 20)

O Rei, respondendo, lhes dirá: Em verdade vos afirmo que, sempre que o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes. (Mateus 25: 40)

Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem … Porque, se amardes os que vos amam, que mérito tereis? (Mateus 5: 44, 46)

O Amor nos une a Deus

Para que todos sejam um, como tu, ó Pai, o és em mim, e eu, em ti; que também eles sejam um em nós … Eu neles, e tu em mim, para que eles sejam perfeitos em unidade (João 17: 21 e 23)

A imagem dessa união é o encontro entre Jesus e a igreja, representados como noivos em uma festa de casamento – anunciada desde os Cantares de Salomão, e explícita no Apocalipse:

Fiquemos alegres e felizes! Louvemos a sua glória! Porque chegou a hora da festa de casamento do Cordeiro, e a noiva já se preparou para recebê-lo.

E vi a Cidade Santa, a nova Jerusalém, que descia do céu. Ela vinha de Deus, enfeitada e preparada, vestida como uma noiva que vai se encontrar com o noivo.

(Apocalipse 19: 7 e 21: 2)

O amor de Deus nos torna humanos e divinos

Mais que plenamente humanos, o amor de Deus nos torna seres divinos. Deus nos fez à Sua imagem e semelhança, e nós participamos da natureza divina (II Pedro 1: 4). A capacidade de amar é um dos traços mais evidentes disto.

O amor de Deus também nos torna vitoriosos:

Em todas estas coisas, porém, somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou. (Romanos 8: 37)

Quando amamos alguém, e principalmente quando amamos a Deus, nascemos de novo. Temos nova vida, novo ser, e até um novo nome. É preciso nascer de novo no Espírito, como disse Jesus a Nicodemos.

Amar é um ato de fé. Apesar de todas as circunstâncias, amar é acreditar em uma vida partilhada com alguém. É o que Deus nos ensina. Apesar de nossas falhas, Ele tem fé em nós, e deseja que tenhamos fé nEle.

Quem nos separará do Amor de Cristo?

Será tribulação, ou angústia, ou perseguição, ou fome, ou nudez, ou perigo, ou espada? … Eu estou certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor. (Romanos 8: 35 e 38-39).

Ninguém, nem nenhuma força no universo, é capaz de nos afastar do amor de Deus. Somente nós mesmos – pela nossa vontade ou pelas nossas atitudes – podemos nos privar desse amor. O uso que fazemos de nossa própria liberdade é a única coisa que pode nos afastar do amor de Deus.

Tenho, porém, contra ti que abandonaste o teu primeiro amor. Lembra-te, pois, de onde caíste, arrepende-te e volta à prática das primeiras obras. (Apocalipse 2: 4 e 5)

  

O AMOR É UM PRODUTO DA NATUREZA BIOLÓGICA?

 O amor apaixonado é mesmo cego, e nos torna bobos. Está comprovado cientificamente.

Após anos de estudo sobre o amor romântico, a antropóloga Helen Fisher publicou o livro “Por que amamos: a natureza e a química do amor romântico” (Why We Love: The Nature and Chemistry of Romantic Love, Henry Holt, 2004), no qual demonstra, com base em pesquisas neurofisiológicas, que amar é uma poderosa necessidade humana, tanto quanto comer ou dormir.

A ciência está penetrando em áreas antes monopolizadas pela filosofia e pela arte, na busca de causas e mecanismos que expliquem desde a criação do mundo até processos emocionais, desde o macrocosmo até os mistérios dos sentimentos pessoais. Nessa pesquisa sobre o amor, Hellen Fischer invade, com ferramentas de Antropologia e das Neurociências, um terreno até então exclusivamente percorrido por poetas, psicólogos, músicos e pintores.

A cientista “escaneou” cérebros de pessoas apaixonadas e verificou que as áreas “primordiais” daquele órgão vital se “acendiam” com maior fluxo de sangue, ao passo que outras áreas, responsáveis pelo pensamento crítico, ficavam bloqueadas.

Quem está apaixonado muda de “astral”, não dorme direito e se comporta de maneira obcecada. Psicólogos já desconfiavam disto, mas os fenômenos ainda não tinham sido comprovados no plano químico-biológico. Segundo Fisher, grande parte disso resulta da ação de substâncias como norepinephrina, serotonina e dopamina (o neurotransmissor do romance), que geram compulsões de sonhar acordado, fantasiar, adorar musas, elevar o humor e a energia. Além disso, produz-se dependência emocional, ansiedade, possessividade – todas essas, causas de reações físicas como aceleração dos batimentos cardíacos e sensação de falta de ar.

Olhar fotos, ouvir a voz ou recordar momentos provocam alterações cerebrais em pessoas apaixonadas. Os homens tendem à maior atividade em regiões do cérebro associadas ao processamento visual, ao passo que as mulheres, em áreas ligadas à motivação e à atenção.

A conclusão da pesquisa de Fisher aponta no sentido de que a paixão romântica não é uma emoção individual, mas um mecanismo tão poderoso no cérebro quanto a fome. Trata-se de um produto da evolução ligado, funcionalmente, às necessidades de acasalamento e reprodução (atração sexual e vida em companhia de longo prazo).

O amor romântico, ainda segundo Fisher, adquire um “sentido especial” que concentra a intensa atenção do apaixonado (que fica obcecado). Mesmo sabendo que não gosta de alguns aspectos da pessoa amada, o apaixonado deixa-os de lado e se concentra no que adora.

Como somos imagem e semelhança de Deus – e, portanto, alguns desses aspectos são herança divina –, é interessante o paralelo entre essas descobertas e nosso conhecimento sobre a forma como Deus age.

Certamente – e felizmente –, o amor de Deus não é racional. É apaixonado, irracionalmente generoso e dadivoso com seus filhos e filhas. Por isso, bloqueia no “cérebro divino” toda memória de nossos erros e pecados e tem por nós um olhar de perdão e misericórdia. Somente por paixão é capaz de se sacrificar por nós, entregando Seu Filho para morrer uma morte brutal que cabia a nós, a fim de nos libertar e nos levar de volta a Ele. Deus é divinamente obcecado por nós, com uma possessividade e um ciúme divinos (não humanos). Ele sofre com nossa falta de amor por Ele, com nosso desleixo, descaso, esquecimento e desprezo. Não se trata de “emoção” divina, mas da própria estrutura de seu Ser, que, por ser Amor, necessita relacionar-se profundamente com seus filhos e filhas.

BUSCAR AS COISAS DO ALTO

Leia Colossenses 3: 1-14 e medite, em oração.

Onde está sua vida? No alto, ou na terra?

Onde está sua esperança? Nas coisas deste mundo, ou na eternidade?

No dinheiro, na carreira, nas conquistas materiais, na busca do sucesso, do reconhecimento, nas emoções e alegrias deste tempo passageiro?

Olhe para trás em sua vida. O que você construiu? Em que valores e premissas você baseou suas decisões?

Agora, olhe para frente. Como você se vê nos próximos anos? Você tem esperança?

“Se a nossa esperança em Cristo se limita apenas a esta vida, somos os mais infelizes de todos os homens”[23].

Nossa verdadeira pátria é a pátria celestial[24].

Pense nas coisas lá do alto, não nas que estão aqui na terra.

Busque as coisas do alto, onde Cristo vive, à direita de Deus.

Sua verdadeira vida está escondida, juntamente com Cristo Jesus. Ela não aparece aqui, no tempo presente, da mesma forma que Jesus não está manifestado em plenitude. O que você vê de si mesmo não é o que você realmente é, mas uma imagem distorcida pelas lentes tortas da opressão deste mundo. Seu verdadeiro ser está oculto, e um dia vai se manifestar.

Ao abandonar o pecado, você morreu para este mundo, em Cristo. E, em Cristo, você ressuscitou.

Sua vida não mais pertence a você somente, mas ao Senhor. Ele a resgatou, livrando-a da morte.

Portanto, não é somente você quem vive, mas Cristo vive em você[25].

Quando o Cristo, que é a nossa vida, se manifestar, então nossa verdadeira vida será manifestada com Ele, em glória.

Paulo nos admoesta: “andai no Espírito e jamais satisfareis à concupiscência da carne. Porque a carne milita contra o Espírito, e o Espírito, contra a carne, porque são opostos entre si; para que não façais o que, porventura, seja do vosso querer … Ora, as obras da carne são conhecidas e são: prostituição, impureza, lascívia, idolatria, feitiçarias, inimizades, porfias, ciúmes, iras, discórdias, dissensões, facções, invejas, bebedices, glutonarias e coisas semelhantes a estas, a respeito das quais eu vos declaro, como já, outrora, vos preveni, que não herdarão o reino de Deus os que tais coisas praticam” (Gálatas 5: 16 a 21).

O profeta Isaías faz este apelo: “Buscai o Senhor enquanto se pode achar, invocai-o enquanto está perto. Deixe o perverso o seu caminho, o iníquo os seus pensamentos; converta-se ao Senhor, que se compadecerá dele, e volte-se para o nosso Deus, porque é rico em perdoar. Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos, os meus caminhos, diz o Senhor. Porque, assim como os céus são mais altos do que a terra, assim são os meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os meus pensamentos, mais altos do que os vossos pensamentos. Porque, assim como descem a chuva e a neve dos céus, e para lá não tornam, sem que primeiro reguem a terra e a fecundem, e a faça brotar, para dar semente ao semeador e pão ao que come, assim será a palavra que sair da minha boca: não voltará para mim vazia, mas fará o que me apraz, e prosperará naquilo para que a designei.[26]

Deus derruba todas as barreiras culturais, históricas e sociais. Ele é o Deus das Nações. Não há mais diferença entre grego e judeu, circunciso ou incircunciso, bárbaro ou romano, escravo ou livre, rico ou pobre, norteamericano ou latinoamericano, europeu ou africano, doutor ou analfabeto, megainvestidor ou catador de lixo, conservador ou progressista, são-paulino, corintiano, flamenguista, vascaíno ou tricolor, religioso ou cientista. O mesmo é o Senhor de todos, rico para com todos os que o invocam com coração sincero[27].

Cristo é tudo em todos.

Este é o apelo de Paulo: “Rogo-vos, pois, … que andeis de modo digno da vocação a que fostes chamados, com toda humildade e mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor, esforçando-vos diligentemente por preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz. Há um só Senhor, uma só fé, um só batismo, um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, age por meio de todos e está em todos”[28].

Deixemos fora a velha natureza humana, e revistamo-nos da nova natureza, que o Senhor nos dá, para que sejamos realmente feitos segundo a imagem do Criador.

Somente pelo Espírito de Deus conseguiremos esse revestimento. Nenhum ascetismo, rigor disciplinar, ritual religioso ou obra humana são suficientes. Os frutos do Espírito são amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio. E os que são de Cristo Jesus crucificaram a carne, com as suas paixões e concupiscências. Se vivemos no Espírito, andemos também no Espírito[29].

Esse revestimento traz consigo ternos afetos de misericórdia, bondade, humildade, mansidão, longanimidade, perdão mútuo.

E, acima de tudo, o AMOR, que é o vínculo da perfeição.

ÁGUA VIVA

 “Quem crer em mim, como diz a Escritura, do seu interior fluirão rios de água viva.”

(João 7: 38)

“Se conheceras o dom de Deus … tu lhe pedirias, e ele te daria água viva.”

(João 4: 10).

Que promessa maravilhosa no faz Jesus!

Rios de água viva fluindo de nosso coração!

Mas, na maioria das vezes, sentimos essa fonte jorrar por pouco tempo, mas nosso coração está rachado, e não permite que a fonte continue a jorrar. Ela se seca.

O profeta Jeremias explica porque isso ocorre:

“Porque dois males cometeu o meu povo: a mim me deixaram, o manancial de águas vivas, e cavaram cisternas, cisternas rotas, que não retêm as águas.” (Jeremias 2: 13)

Muitas vezes, abandonamos o manancial de águas vivas, que é o Senhor, e passamos a vida construindo poços em busca de outras águas. Gastamos tempo, energia, recursos, relacionamentos e saúde em busca de outras fontes, que não a que Deus nos oferece, e, no final, descobrimos que tudo o que construímos foram cisternas rachadas.

Você tem essa sensação em sua vida?

Mas Deus continua nos clamando, pela boca do profeta Isaías, a todos nós que somos sedentos, e que não temos nada a oferecer, mas tudo a receber de graça de nosso Pai, que tudo nos provê em Seu Amor:

Ah! Todos vós, os que tendes sede, vinde às águas; e vós, os que não tendes dinheiro, vinde, comprai e comei; sim, vinde e comprai, sem dinheiro e sem preço, vinho e leite. Por que gastais o dinheiro naquilo que não é pão, e o vosso suor, naquilo que não satisfaz? Ouvi-me atentamente, comei o que é bom e vos deleitareis com finos manjares. Inclinai os ouvidos e vinde a mim; ouvi, e a vossa alma viverá; porque convosco farei uma aliança perpétua …

Buscai o SENHOR enquanto se pode achar, invocai-o enquanto está perto. Deixe o perverso o seu caminho, o iníquo, os seus pensamentos; converta-se ao SENHOR, que se compadecerá dele, e volte-se para o nosso Deus, porque é rico em perdoar.

Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos, os meus caminhos, diz o SENHOR, porque, assim como os céus são mais altos do que a terra, assim são os meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os meus pensamentos, mais altos do que os vossos pensamentos.

Porque, assim como descem a chuva e a neve dos céus e para lá não tornam, sem que primeiro reguem a terra, e a fecundem, e a façam brotar, para dar semente ao semeador e pão ao que come, assim será a palavra que sair da minha boca: não voltará para mim vazia, mas fará o que me apraz e prosperará naquilo para que a designei.” (Isaías 55: 1-3 e 5-11).

O PÃO DA VIDA

 “Você tem fome de quê?”, pergunta a letra de uma conhecida banda de rock brasileira.

Qual seu prato preferido?

Qual o alimento preferido de sua alma? Quando você sente fome em sua alma? Quando seu ser parece ter tudo, mas ainda assim sabe que falta algo?

Qual tem sido sua dieta espiritual? Ela é saudável? Ou sua alma tem vivido de “fast-food”? Você tem participado do banquete que Deus te oferece, como convidado especial, ou se contenta de congelados espirituais, esquentados no microondas da correria de sua rotina, ou de salgadinhos e doces que alegram um pouco o paladar, mas não alimentam?

A nossa alma tem fome de alimento saudável, que nos sustenta de forma equilibrada e nos dá força. Somente um único alimento pode saciá-la: o pão da vida. Jesus é o pão da vida. O que chega a ele jamais terá fome, e o que crê nele jamais terá sede (João 6: 35).

“O verdadeiro pão do céu é meu Pai quem vos dá. Porque o pão de Deus é o que desce do céu e dá vida ao mundo … Eu sou o pão da vida … Eu sou o pão vivo que desceu do céu. Se alguém dele comer, viverá eternamente.” (João 6: 32, 33, 48 e 51)

O que comemos torna-se parte de nosso corpo. Se nos alimentarmos de Jesus, Ele entrará em nosso ser e nos dará sua natureza eterna.

“Em verdade, em verdade vos digo: se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tendes vida em vós mesmos. Quem comer a minha carne e beber o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia. Pois a minha carne é verdadeiramente comida, e o meu sangue é verdadeiramente bebida. Quem comer a minha carne e beber o meu sangue permanece em mim, e eu, nele. Assim como o Pai, que vive, me enviou, e igualmente eu vivo pelo Pai, também quem de mim se alimenta por mim viverá.” (João 6: 53 a 57)

Apesar de saber disso, a maior parte do tempo passamos dedicando nossa vida a obter coisas que perecem. O livro de Eclesiastes nos ensina a não “correr atrás do vento”, trabalhando para satisfazer nossa vaidade.

No Sermão da Montanha, Jesus ensinou que a vida não consiste na abundância dos bens que possuímos, e que não devemos estar ansiosos pela vida e pelo sustento, porque a vida é mais do que o alimento, e ilustrou com duas parábolas (Lucas 12: 15 – 30).

“O campo de um homem rico produziu com abundância. E arrazoava consigo mesmo, dizendo: Que farei, pois não tenho onde recolher os meus frutos? E disse: Farei isto: destruirei os meus celeiros, reconstruí-los-ei maiores e aí recolherei todo o meu produto e todos os meus bens. Então, direi à minha alma: tens em depósito muitos bens para muitos anos; descansa, come, bebe e regala-te. Mas Deus lhe disse: Louco, esta noite te pedirão a tua alma; e o que tens preparado, para quem será?”

A segunda parábola veio com um ensinamento fundamental para nossa civilização da ansiedade e do culto pela vitória a qualquer preço:

“Por isso, eu vos advirto: não andeis ansiosos pela vossa vida, quanto ao que haveis de comer, nem pelo vosso corpo, quanto ao que haveis de vestir. Porque a vida é mais do que o alimento, e o corpo, mais do que as vestes. Observai os corvos, os quais não semeiam, nem ceifam, não têm despensa nem celeiros; todavia, Deus os sustenta. Quanto mais valeis do que as aves! Qual de vós, por ansioso que esteja, pode acrescentar um côvado ao curso da sua vida? Se, portanto, nada podeis fazer quanto às coisas mínimas, por que andais ansiosos pelas outras? Olhai os lírios; eles não fiam, nem tecem. Eu, contudo, vos afirmo que nem Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles. Ora, se Deus veste assim a erva que hoje está no campo e amanhã é lançada no forno, quanto mais tratando-se de vós, homens de pequena fé! Não andeis, pois, a indagar o que haveis de comer ou beber e não vos entregueis a inquietações. Porque os gentios de todo o mundo é que procuram estas coisas; mas vosso Pai sabe que necessitais delas.”

Vamos nos alimentar do Pão da Vida!

DEUS DISSE A MOISÉS: “EU SOU”. O QUE É “SER”?

 É ter consciência da própria essência como pessoa, de sua identidade, do que lhe torna absolutamente único no universo. É mais que “existir”.

Desligue todos os ruídos de sua vida e pense: “Quem sou eu”?

Passamos a maior parte do tempo na correria e na rotina, conjugando outros verbos de nossa vida: “ter”, “fazer”, “existir” etc. Nos encontros, sempre nos apresentamos aos outros com o que fazemos e o que temos. Quase nunca paramos para “ser” quem realmente somos. Essa questão existencial é a mais fundamental.

Deus se revela a Moisés como “EU SOU”

Quando Moisés se encontra com Deus no Monte Sinai, ele indaga que dirá aos israelitas quando lhe perguntarem “qual é o Seu Nome”?

O Senhor responde: “E-hieh Asher E-hieh” (אֶהְיֶה אֲשֶׁר אֶהְיֶה). “E-hieh (אֶהְיֶה) enviou-me a vocês” (Êxodo 3: 14).

A tradução mais corrente é:

EU SOU O QUE SOU ou “EU SOU QUEM SOU … “EU SOU enviou-me”.

No versículo seguinte (Êxodo 3: 15), o SENHOR revela de forma mais detalhada Sua Identidade:

O SENHOR, o Deus de vossos pais, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó”.

Deus se revela como Aquele que é, mas não no plano intelectual, abstrato e racional: Ele É não apenas no sentido filosófico, mas sobretudo no plano da relação concreta de vida com seus filhos. Portanto:

  1. i) Ele É por si próprio (Puro SER)
  2. ii) Ele É Senhor e Deus (Deus Soberano)

iii) além disso, Ele É o Senhor, o Deus de… (nossos pais, nossa sociedade, nosso tempo, nossa vida).

Deus pronuncia dois Nomes acerca de Si Mesmo:

O SENHORIHVH (יְהוָה) e o SenhorElohi (אֱלֹהֵי).

O SENHOR se revela como IHVH (יְהוָה), o tetragrama impronunciável para os judeus. Estes não o pronunciam por temor de Deus, pelo desejo de não errar e pelo respeito ao mandamento de não pronunciá-lo em vão. Ao se referirem a Deus, os judeus dizem Hashem, que significa “O Nome”. Sempre quando aparece IHVH (יְהוָה) nos Textos Sagrados, os judeus lêem Adonai, que significa “meu Senhor”. De sua parte, os ocidentais pronunciam como Javé ou Jeová, sem preocupação com a pronúncia correta.

Já o Nome Elohim (אֱלֹהִים) aparece, na forma plural, desde o início da criação (Gênesis 1: 1).

Os dois Nomes SENHOR e Deus / IHVH Elohim  (אֱלֹהִים    יְהוָה) aparecem juntos em Gênesis 2: 4.

Deus diz a Moisés que “este é o Meu Nome eternamente” (Êxodo 3: 15) – ou “Meu Nome para sempre”, ou “Eterno” – Shemi Leolam (לְעֹלָם  שְּׁמִי).

Em síntese, o sentido do Nome de Deus é “EU SOU”.

Deus É.

Isso é tudo. Ele É o único que É por si próprio.

Como uma estrela que brilha por luz própria.

Todos os outros seres do universo recebem a existência, a essências e as qualidades d’aqu’Ele que é por Si Mesmo.

O que é “SER”?

Vários filósofos, há dois milênios e meio, têm-se dedicado a refletir sobre o que é SER.

Dessa reflexão surge a Ontologia, o ramo da Filosofia que se dedica ao estudo do SER (οντος – ontos, em grego, significa ser).

Parmênides de Eléia (“Da Natureza”) é considerado o pai da Ontologia. Em seu poema épico, o personagem viaja por dois caminhos: o da verdade ou realidade eterna (aletheia) e o da opinião ilusória (doxa). Essa verdade eterna somente poderia ser compreendida pelo saber perfeito. Daí a diferença entre sophia (sabedoria verdadeira e eterna) e doxa (mera opinião, mutante e confusa).

Segundo o filósofo, tudo o que existe é o ser; seu inverso, o não-ser, não existe. A conhecidíssima angústia de Hamlet, “ser ou não ser, eis a questão” nasce dessa dicotomia.

Nada nasce do nada, segundo Parmênides. Não há criação. O ser não pode vir do não-ser. Em sua visão, a existência das coisas é eterna, e o universo é contínuo, imóvel, estático, eternamente estável.

Parmênides reflete sobre o vir-a-ser, que entende como uma mistura entre o ser e o não-ser. A vontade (desejo de que algo se realize) gera um vir-a-ser. Mas esse vir-a-ser é uma ilusão, porque só existe o ser. Ele explica o cosmos como um vir a ser, e portanto como uma ilusão, e não uma realidade do ser.

De acordo com Parmênides, o pensamento e o ser são a mesma coisa. Pensar em algo significa que esse algo existe.

Ainda segundo o filósofo, toda a realidade está incorporada na individualidade divina do SER Absoluto que permeia todo o universo. Esse SER é não-criado, onipresente e único (não há nenhum outro SER Absoluto).

Platão vai se inspirar nessa visão para desenvolver sua teoria metafísica das ideias puras.

Para Santo Agostinho, o mundo é uma mescla de ser e não-ser, e carrega dentro de si um processo de transformação que o faz caminhar do ser para o não-ser (ou vice-versa). Deus é Eterno e Imutável, constitui a Plenitude o SER, a Perfeição Máxima, o Bem Supremo.

Para Agostinho, o mal equivale ao não-ser, pois é o contrário de Deus, que é SER. Por isso, o mal está destinado à destruição, ao desaparecimento. Nesse sentido, ele diverge do pensamento dos maniqueístas, que acreditavam em dois princípios igualmente poderosos, o bem e o mal, que lutavam entre si para o controle do mundo. Só há um princípio, o do bem, comandado por Deus, que é infinitamente Bom, e Fonte de toda bondade.

Em “Confissões”, Santo Agostinho discorre sobre a “Palavra Criadora”. A Voz de Deus ecoou no silêncio para criar céus e terra por meio de palavras audíveis, que foram pronunciadas e sumiram. Antes dos céus e da terra havia somente o Verbo, junto ao Deus Criador, por meio do qual Este pronuncia tudo eternamente. O Verbo é “coeterno” com Deus. Tudo o que Deus diz que se faça realiza-se. Para Deus, não há diferença entre o dizer e o criar.

Tomás de Aquino (“Suma Teológica”) faz uma síntese do cristianismo a partir dos parâmetros aristotélicos. Nas suas demonstrações lógicas da existência de Deus, destaca duas que têm relação com o “ser”. A primeira é que há um SER necessário para a existência do universo: existem seres que podem ser ou não ser (contingentes); logo, é preciso que haja um ser que fundamente a existência dos seres contingentes e que não tenha a sua existência fundada em nenhum outro ser (ou seja, que exista por si próprio). A segunda é que há graus de perfeição nos seres (uns são mais perfeitos que outros); como qualquer graduação pressupõe um parâmetro máximo, logo deve existir um SER que tenha este padrão máximo de perfeição, sendo a causa da perfeição dos demais seres. A lógica aponta para um SER Perfeito.

São Tomás de Aquino discute sobre a questão do ser em “Ente e Essência”. A Essência de Deus coincide com Sua Existência e Seu Próprio SER. Ele é Puro SER. Tem as perfeições de todos os outros gêneros existentes. Deus é Puro Ato, sem qualquer potencialidade (transformação ou movimento para algo mais perfeito).

Para Tomás de Aquino, Deus é a causa motora do universo, é Eterno, existe por Si Mesmo e para sempre, é necessariamente Uno, incorpóreo, Infinito em sua Essência e Poder, totalmente Perfeito, Onisciente, dotado de vontade e de amor.

O teólogo recorda que o nome “Deus” vem do grego Theós (Θεός), que por sua vez vem de theástai (que significa ver, considerar). Deus é Aquele que tudo vê, tudo conhece.

Para o teólogo, Deus é totalmente livre (não está obrigado ou coagido em relação a nada), e criou todas as coisas livremente, e não em virtude de alguma necessidade sua.

A matéria não é eterna, não estava em estado de potencialidade antes da criação; o “ser” foi criado do “não-ser” por Deus (“causalidade divina”). Deus é Criador de todas as coisas visíveis e invisíveis.

Tomás de Aquino estabelece uma hierarquia entre o SER Divino e todas os outros seres, que recebem elementos e qualidades desse SER. Essa hierarquia em graus de perfeição leva em conta o quanto cada ser recebe da “forma de Deus” e o quanto tem de potência ou de ato puro (os inferiores são mais potência, e os superiores, mais ato). Deus é Ato Puro, Ato de SER Pleno. Todos os seres do universo são mais ou menos perfeitos em relação ao SER Pleno, Deus, Fonte de toda a existência. Para São Tomás, no ápice da criação encontram-se os anjos, que são puros espíritos ou puras formas.

O homem é um ser dotado de duplo compromisso. Por sua alma, pertence aos seres imateriais, mas não é uma inteligência pura, como os anjos, porque está ligado à matéria. A alma humana é um horizonte onde se tocam os mundos material e espiritual.

Ainda segundo Tomás de Aquino, toda a criação é boa, tudo o que existe é bom, por participar do SER de Deus, recebendo Suas Características. O mal é a ausência da Perfeição Divina, e sua essência é a privação ou ausência do bem (ou seja, das características do SER Divino). Nada é real, nada existe, fora de Deus. Ele é o Primeiro Motor, a Causa Primeira e a Inteligência ordenadora do universo.

Para São Tomás, a criação é uma “ação transitiva” que vem de Deus, isto é, algo que emana d’Ele e retornará a Ele (exitus-reditus, ou saída-retorno). Essa visão é herdada da cosmologia grega. Tudo emana de Deus e retornará a Ele. Deus é o princípio e o fim, o alfa e o ômega. Ele criou o mundo por amor, e imprimiu em cada ser um “movimento” (poderíamos dizer, uma força de “gravidade”) que o atrai para Si Mesmo.

A questão do ser é fundamental em Heidegger (“O ser e o tempo”). Mesmo sendo ateu e simpatizante do nazismo, ele traz uma percepção intuitivamente bíblica: faz a diferença entre o ser e o que é gerado pelo ser. O ser é o verbo que o cria, bem como a propriedade de existência. Para ele, não fazemos mais a diferença entre o SER original e os outros seres criados, porque a técnica e o materialismo fizeram o homem esquecer-se da questão central do ser. Em nosso quotidiano, esquecemos essa questão essencial (“fechamento ôntico”), distraímo-nos – e esquecemos de que nos esquecemos disso.

Mas Heidegger faz a diferença ontológica entre o SER e o “sendo”, ou os seres criados, para evitar o pensamento de um “sendo supremo” (e não um verdadeiro SER supremo), quer o chamem de Deus, quer o chamem de ideias (Platão). Para ele, o homem, como ser finito que consegue refletir e ter consciência disso, sabe que seu destino é a morte. O filósofo ainda destaca a importância do Dasein (“ser-lá”), que é o “ser no mundo”, concreto, real, histórico.

A filosofia existencialista é profundamente influenciada por Heidegger.

A ontologia também é estudada pela física quântica. Stephen Hawking (“O Grande Desenho”) acredita que a Filosofia não tem evoluído, e que cabe hoje à Física dar respostas a questões filosóficas sobre a origem do universo e sua evolução. Humberto Eco contesta essa opinião, buscando resgatar o prestígio da Filosofia.

Tomás de Aquino afirma que tudo o que havia escrito sobre Deus “foi sutilmente considerado por vários filósofos pagãos, ainda que alguns deles hajam incidido em certos erros… Há, contudo, outras coisas que a doutrina cristã nos transmite acerca de Deus. Trata-se de coisas que os filósofos pagãos não conseguiram atingir. Para isto, segundo a fé cristã, recebemos uma iluminação que ultrapassa a razão humana.”

Deus, que fez o mundo e tudo o que nele existe, é o SENHOR do céu e da terra e não mora em templos feitos por seres humanos. Um desses templos é a Filosofia, incluindo a Teologia. Deus é muito maior, mais belo e mais complexo do que podemos compreender.

Qual a interpretação bíblica para o SER?

Ser significa ser criado por Deus.

Deus se revela como Aquele que é (Puro SER), mas não no plano intelectual, filosófico, abstrato e racional: Ele É sobretudo no plano da relação concreta com seus filhos. Essa reflexão precisa ir muito além do que pode apreender a Filosofia. Mais do que qualquer especulação racional, a questão do Ser deve ser considerada à luz da experiência da vida concreta, principalmente da interrelação entre os seres e o Criador.

Conta-se que Tomás de Aquino entrou em êxtase durante uma missa que celebrava e disse, ao voltar a si: “depois de tudo o que vi, considero palha todos os meus escritos”.

Uma criança feliz brincando no parquinho entenderá muito mais facilmente o que significa “ser” do que um velho filósofo fechado em seu gabinete de leitura. Deus oculta muitos mistérios aos sábios e entendidos, e os revela aos simples, humildes, que são como crianças na fé. Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus.

Todas as coisas, vivas e inanimadas, foram feitas por Deus. Desde as partículas subatômicas até as galáxias, desde os protozoários até os anjos, desde os insetos até os mamíferos mais complexos, desde as pedras até os homens, desde a poeira cósmica até as estrelas. Cada coisa que existe, existe porque Deus a criou do nada. Minerais, vegetais, animais, espirituais.

A vida é uma centelha divina, uma qualidade especial de Deus colocada em seres especiais. Alguns são dotados de racionalidade e inteligência superiores, como os homens e os anjos.

Os homens são criaturas especiais, pois foram concebidos à imagem e semelhança de Deus. No homem – ao contrário dos anjos, que são seres espirituais –, convergem as dimensões das outras criaturas do universo – minerais, biológicas e espirituais. O homem aparece como o ápice da Criação neste mundo, o último a ser criado entre os seres descritos no Gênesis. Deus ordena aos anjos protegerem e cuidarem dos homens (e nunca o contrário).

A Bíblia não registra nenhum sacrifício feito por Deus em favor de nenhum anjo. Mas enfatiza o amor inexplicavelmente grande pelo homem, a ponto de fazê-lo entregar Seu próprio Filho em sacrifício, a fim de resgatá-lo a preço de sangue e dar-lhe a vida eterna (João 3: 16).

Na tese de Parmênides, adotada pela grande maioria do pensamento científico, nada vem do nada; não existe criação nem geração; a matéria é eterna, apenas se modificou. Hawking, que partilha dessa visão, argumenta que não há necessidade (nem prova) de um Deus causador do Big Bang.

Ao contrário dessa visão, o Gênesis afirma claramente um ato de criação no princípio – Bereshit (בְּרֵאשִׁית). As palavras em hebraico para o ato são: “criou” – bara (בָּרָא) –, usada para céus e terra e para o homem, e “faça-se” ou “haja” – iei (יְהִי) –, usada para todo o restante da criação. Na criação do homem, ao contrário de todos os outros seres, Deus dialoga consigo mesmo (inclusive para a formação da mulher) e com sua criatura.

Deus viu que sua criação era boa, ficou satisfeito e a abençoou.

O que havia antes dos céus e da terra? Somente o Criador, com Seu Verbo e Sua Sabedoria.

Deus só queria que o homem conhecesse o bem, e que fosse inocente para o mal. Por isso, proibiu-o de comer da árvore do conhecimento do bem e do mal (Gênesis 3: 17) – conhecimento reservado a Deus e aos anjos. Deus não estava proibindo que o homem tivesse conhecimento do mundo, mas apenas conhecimento do mal. Deus deixou o homem no jardim para guardá-lo e cuidá-lo (o que exigia, portanto, conhecer).

Deus sabia que, ao comer do fruto do conhecimento do bem e do mal, o homem passaria a conhecer o ser e o não ser (que é o mal), e que, com isso morreria. Em outras palavras, seria invadido pelo não-ser, deixaria de existir. Esse é o sentido do pecado e da morte – a aniquilação do não-ser pelo ser, como resultado da ira de Deus.

Segundo Parmênides, o conhecimento da verdade somente pode ser atingido pelo pensamento racional (λóγος – logos). No Evangelho, logos é traduzido como a Palavra ou o Verbo, referindo-se a Jesus.

No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Tudo foi feito por meio d’Ele, e sem Ele nada do que foi feito se fez. A vida estava n’Ele, e a vida era a luz dos homens. (João 1: 1 a 4)

Como visto, Tomás de Aquino afirma que a criação emana de Deus e retornará a Ele. No Apocalipse, Jesus afirma que Ele é o princípio e o fim, o alfa e o ômega. Ele criou o mundo por amor, e imprimiu em cada ser uma força de “gravidade” que atrai para Si Mesmo, quando partilha de Sua Essência. Mas essa força de atração espiritual, que é o amor, tem como contrapartida outra força, de repulsão, que repele e destrói tudo o que se confronta com a Essência Divina, considerando-o inimigo de Deus.

E, então, virá o fim, quando Ele entregar o Reino ao Deus e Pai, quando houver destruído todo principado, bem como toda potestade e poder. Porque convém que Ele reine até que haja posto todos os inimigos debaixo dos pés. O último inimigo a ser destruído é a morte… Quando, porém, todas as coisas lhe estiverem sujeitas, então o próprio Filho também se sujeitará àquele que todas as coisas lhe sujeitou, para que Deus seja tudo em todos. (I Coríntios 15: 24 a 26 e 28)

Deus faz e refaz a criação. Ele tem prazer com as coisas boas, mas sente uma ira destruidora com o que é mau. Ele faz novas todas as coisas (novo céu, nova terra, novo homem) e destrói tudo o que não estiver de acordo com Sua Intenção pura e perfeita. Ele redime e renova sua criação, e lança no lago de fogo tudo o que agride Sua Essência Divina.

Como Puro Ser, é Ele quem estabelece o padrão do Ser, como algo pleno, puro, perfeito. Tudo o que não se ajustar a esse padrão se inclina ao não-Ser, e, portanto, à aniquilação.

A ressurreição, nessa perspectiva, significa entrar definitivamente no plano do Ser pleno, cheio da Essência Divina, redimido de tudo o que é não-Ser, após os anos de peregrinação na terra. Isto é o céu: o Ser pleno, tal como Deus planejou.

Pois é assim também a ressurreição dos mortos. Semeia-se o corpo na corrupção, ressuscita na incorrupção… Semeia-se corpo natural, ressuscita corpo espiritual… O primeiro homem, Adão, foi feito alma vivente. O último Adão, porém, é espírito vivificante… O primeiro homem, formado da terra, é terreno. O segundo homem é do céu. (I Coríntios 15: 42, 44 e 45)

Deus transforma o corruptível em incorruptível, transforma o Ser para torná-lo perfeito, e destrói o corrompido, transformando-o em não-Ser. É essa a vitória do Ser, que é eterno, sobre a morte, o fim, o nada, não-Ser.

E, quando este corpo corruptível se revestir de incorruptibilidade, e o que é mortal se revestir de imortalidade, então, se cumprirá a palavra que está escrita: tragada foi a morte pela vitória. Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão? (I Coríntios 15: 54 e 55)

O mal e a própria morte, que nos aparecem como tão poderosos, contundentes e concretos em nosso mundo, estão destinados à destruição eterna. Para o lago do fogo apocalíptico irão o diabo, a besta, o falso profeta, a morte e o próprio inferno, além de todos os que não forem achados no Livro da Vida (Apocalipse 20: 10 e 14).

No Livro da Vida estão inscritos aqueles que receberam plenamente a Essência de Deus, sua Vida Eterna, que constitui a plenitude de nosso Ser, tal qual Deus a concebeu.

A vida eterna é produto na crença no Filho de Deus, por meio do qual todos fomos criados, e que nos transmite a plenitude do Ser de Deus. A vontade de Deus é que todo o homem que crer em Seu Filho receba a vida eterna (João 6: 40, 47). 

E a vida eterna é esta: que te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste. (João 17: 3)

Deus nos deu a vida eterna; e esta vida está no seu Filho. (I João 5: 11)

A CRIAÇÃO, A PALAVRA E AS CORDAS

O que é a voz, ou o canto? É um sopro através das cordas vocais. Tendo isto em mente, este texto lê Gênesis 1 e João  1 na perspectiva da “Teoria das Cordas” da Física Quântica.

Bereshit Bará Elohim… No princípio, Deus criou os céus e a terra: o mundo celestial, espiritual, e o mundo terreno, da matéria.

A terra era sem forma e vazia. Embora já existisse no pensamento de Deus, elaborado em sua infinita Sabedoria, não havia ainda sido formada: não tinha massa, peso, velocidade, lugar. Mesmo o tempo não existia. Era vazia. Apenas um conceito.

Havia trevas sobre a face do abismo. Um abismo intransponível entre o Criador e sua criação, povoado pelo escuro mais absoluto.

O Sopro de Deus, que é o Espírito, pairava sobre as águas. As águas eram cordas quânticas, que não haviam sido tocadas por nenhum sopro. As águas-cordas eram matéria vazia e sem forma. Uma ideia na Mente de Deus, plena de sabedoria, mas ainda sem concretude física.

Deus quis estender a ponte sobre o abismo de trevas e dar forma à matéria. O abismo que separa o Ser do não-ser. O que Existe por Si Mesmo do que não existe.

O que mais, senão a luz, poderia atravessar o abismo de trevas? A luz emana do Ser para criar os seres.

Deus lançou uma ponte de luz para criar as coisas e os seres que estavam do outro lado do abismo.

E Deus soprou. O vento de seu Sopro, que é o Espírito, fez vibrar cordas quânticas da eternidade. A Voz de Deus. O sopro, através das cordas, proferiu a Palavra, o Verbo, o Logos, uma música celestial que ecoou pelo universo e foi criando as coisas e os seres. Deus falou, cantou.

Seu sopro saiu de Seu Peito e fez vibrar as cordas eternas, formando a Palavra, o Verbo, que ecoou: “Haja luz”; “Haja firmamento”; “Haja luzeiros”, estrelas, planetas, luas, galáxias, constelações.

Tudo o que existe foi feito por meio dessa Voz, desse Verbo, que estava no Peito de Deus desde o princípio. Sem Ele, nada do que foi feito se fez. Sem a Palavra proferida por Deus, a matéria, as águas ancestrais, continuariam sem forma e vazias, e o abismo de trevas continuaria em seu lugar.

O Verbo não somente fez as coisas, mas as relações entre todas elas, na forma de leis naturais – físicas, químicas, biológicas e de outras ciências ainda não descobertas, mas que regem todo o universo. Inclusive a evolução foi guiada por Ele.

Ele separou as águas debaixo e acima do firmamento. Há matérias, disformes ou já formadas, que estão além de nossa percepção e compreensão. Há leis e reações naturais que ainda são mistério.

Algumas coisas Deus falou e foram criadas. Outras, Ele separou. Ele deu nomes a algumas, deu ordens à matéria, para produzir vida vegetal e animal.

E viu Deus que era bom. Não havia mais abismo de trevas, porque Ele estabeleceu a ponte de luz com sua criação – a ponte entre o Ser e o não-ser. Ele transmitiu o Ser para seres que não eram. E tudo abençoou com o dom da fecundidade.

No final desse processo criador, Ele fez o homem, como nenhum outro ser, nem mesmo os celestiais. Transmitiu Seu Ser a uma criatura feita à Sua imagem e semelhança. Ele não disse “Faça-se o homem”, nem o separou de outras criaturas. Ele fez esse ser com Suas Próprias Mãos, usando inclusive as leis naturais de evolução que havia criado. Com elas, moldou a terra, a matéria já criada, e soprou nele o fôlego de vida, Seu próprio Espírito, fazendo alma vivente. Criou, assim, um ser misto de matéria e espírito, terreno e celestial, pertencendo ao mesmo tempo a essas duas dimensões da criação. Deu-lhe o domínio sobre as criaturas: a inteligência, que é um dom divino, e a capacidade de continuar criando.

Deus ainda continua criando. A gênese, o sopro, a formação, tudo continua sendo feito. A gênese não é um acontecimento longínquo perdido no início ancestral cósmico da história da eternidade. Continua acontecendo e se renovando a cada momento.

Deus não deixou de soprar. Se Ele deixar de fazê-lo por algum instante, as cordas deixam de vibrar, e o que existe simplesmente deixa de ser. Vivemos dessa respiração eterna do Criador.

Essa respiração também é uma seiva eterna de vida. Ele, a videira, e nós, os ramos, que produzem frutos. Arrancados dessa videira, só há morte, que é o não-ser.

Tudo que existe no mundo material nasce de um sopro de Deus por cordas quânticas eternas, que formam a Palavra criadora, a Voz divina, o Verbo que dá vida eternamente. Este é o Filho Unigênito, nascido do peito de Deus, porque Foi o Primeiro de tudo. O Primeiro e o Último.

 

OS VERBOS DA CRIAÇÃO

Uma leitura dos verbos mencionados durante a criação (primeiro capítulo de Gênesis) leva à reflexão.

O verbo “criar” (bara) é usado para céus e terra, os animais e o homem (1, 21, 27).

“Fazer” (raiash) é usado para o firmamento, sol, lua, animais e homem (7, 16, 25, 26).

“Dizer” (iomer) – “disse Deus” – é empregado para luz, firmamento, ajuntamento das águas abaixo do céu, relva, luzeiros, seres aquáticos, animais, homem, bênção e doação de toda a planta e animal ao homem (3, 6, 9, 11, 14, 20, 24, 26, 28, 29).

“Ser” (iehi), também traduzido como “haver” – “seja”, “haja” – é o mais empregado: luz, firmamento, luzeiros, “houve tarde e manhã”, “e assim se fez” (literalmente, “houve sim”) (3, 5, 6, 8, 9, 11, 13, 14, 15, 19, 23, 24, 30).

“Considerar” (iré), traduzido como “viu Deus que”, sempre seguido de “era bom” (literalmente, “que bom”), aplicado a luz, terra e mar, plantas e árvores, animais, toda a criação (4,10,12,21,25,31).

“Abençoar” (ivere) é usado para os animais e homens, seguido de fecundidade, multiplicação (22, 28).

Na criação do homem são empregados quatro desses verbos: criar (mesmo que céus, terra, animais), fazer (mesmo que firmamento, sol, lua, animais), dizer (mesmo que luz, firmamento, ajuntamento das águas abaixo do céu, relva, luzeiros, seres aquáticos, animais) e abençoar (mesmo que animais). O homem é uma criação complexa.

Por um lado, o homem foi feito com as mesmas palavras que os animais, mas é objeto de um diálogo interno (“façamos”) e de dois verbos adicionais, próprios da imagem e semelhança de Deus: “dominar” e “dar” (Deus: “eis que vos tenho dado” plantas, animais), que remetem a poder, inteligência, responsabilidade, cuidado.

Por outro lado, Elohim foi explícito em sua satisfação com os animais (“viu que era bom” – 25), mas não com o homem; a satisfação com o homem fica diluída no meio do que “viu Elohim tudo o quanto fizera, e eis que tudo era muito bom” (31). Depois de milênios de desilusões e iras com o homem, ápice de sua criação, Deus somente manifestará alegria plena (a mesma do Gênesis) ao se referir a Jesus: “Este é meu Filho amado (agapitos), em quem tenho grande alegria (eudokisa)” (Mateus 3: 17). Alguns outros, séculos antes, satisfizeram o coração de Deus – Noé, Abraão, José, Moisés, Davi, Daniel –, mas não plenamente como Jesus. O Pai se agradou completamente de Jesus, o novo Adão, que abre uma nova linhagem espiritual e mesmo criacional, para resgatar a frustrada alegria divina com sua maior criação.

RELIGIÃO E CIÊNCIA SÃO CONTRADITÓRIAS?

 Sim e não. Tudo depende da forma como qualificamos os dois conceitos.

Se os dois significam amor do conhecimento (scientia) e, para tanto, busca da verdade em seu sentido mais amplo, não há contradição. A motivação e o objetivo são os mesmos. O que há é apenas uma diferença de método entre a fé e a razão.

Como afirma Ross Douglas, “existe uma verdade objetiva que pode ser conhecida em parte por meio do Cristianismo, mas também da Ciência. Toda verdade é a verdade de Deus, quer venha do estudo da natureza, quer venha da revelação de Deus”.

Se ambas buscam conhecimento e verdade, a principal diferença entre Ciência e Religião é, portanto, de método. Ambas são honestas na busca, mas aceitam como legítimos tipos diferentes de provas e evidências. Como se verá abaixo, há um “método científico” rigoroso em seus pressupostos e provas, todos baseados na materialidade. Há também um “método religioso”, que vai além da materialidade tangível, visto que parte de um pressuposto espiritual, que aceita como provas elementos intangíveis, mas também evidências materiais (manifestações físicas da presença divina). O “método religioso” é mais humano, mais aberto, mais tolerante, empregando elementos da psiqué descartados pela Ciência para compreender a Deus: intuições, sonhos, desejos, visões, situações, sentimentos, sensibilidades, capacidade de maravilhar-se diante da natureza, da harmonia cósmica, da beleza da vida e da criação. Tudo isso pode ser prova legítima da presença e da ação de Deus.

Pode Deus ser apreendido pelas “Ciências Duras”, ou as “Ciências Brandas” são parceiros incontornáveis dessa busca? A Ciência tem-se interessado cada vez mais por estudos sobre eternidade – vida após a morte –, por meio de disciplinas como biologia, neurologia, psicologia e genética. Biólogos afirmam que o homem tem uma “predisposição genética” para a espiritualidade. O gene VMAT2, responsável pelo fluxo de substâncias químicas que regulam o humor, é considerado pelo biólogo Dean Hamer como “o gene de Deus”. Hamer sustenta que a espiritualidade é uma das heranças e um dos instintos mais básicos do homem. Estudos neurológicos identificaram os circuitos neurais ativados pela “imersão religiosa” e comprovaram que a espiritualidade tem também uma base biológica. Psicólogos afirmam que o homem tem sentidos e instintos que o levam a acreditar em coisas invisíveis, desconhecidas, incomensuráveis, poderes e entidades sobrenaturais. Entretanto, alguns cientistas consideram o pensamento mágico e o misticismo “erros conceituais da infância” que podem ser “eliminados” pelo pensamento científico e pelo amadurecimento psicológico.

Nosso cérebro é desenhado para buscar padrões, ordens e lógicas no universo. A ideia de um Deus responderia a essa “necessidade” de racionalização de nosso cérebro, que contém embutida, geneticamente, essa predisposição para o invisível e sobrenatural.  Grande parte da ciência contemporânea, entretanto, acredita que o universo é um caos, onde tudo é aleatório e casual, e que a própria Ciência é uma fabricação de nosso cérebro para dar ordem a esse caos. Nessa perspectiva, tanto a Religião quanto a Ciência seriam produtos artificiais de nosso cérebro para compreender e dar sentido ao caos do universo. Mais um ponto fundamental de contato entre Religião e Ciência. Deus seria, nesse caso, uma antropomorfização da lógica que nosso cérebro procura no universo. 

Se deixamos de lado uma visão mais ampla da busca do Conhecimento e da Verdade e comparamos as formas humanas de construir esses objetivos, evidentemente haverá contradições entre Ciência e Religião. Que geram desconfianças e suspeitas mútuas.

Ciência significa um corpo organizado de conhecimentos construídos de forma sistemática, com base em métodos rigorosos de pesquisa e experimentação, a partir de paradigmas teóricos reconhecidos como válidos e eficazes pela generalidade da comunidade científica. Nesse percurso, parte-se da observação da natureza, que gera perguntas sobre causas e efeitos ou problemas a serem resolvidos, para o que se empregam hipóteses e métodos estritos de pesquisa e trabalho, com ferramentas mais ou menos sofisticadas, visando a resultados previstos, reprodutíveis, testados, comprovados e demonstrados, que podem ser apresentados em formas de leis, teorias e paradigmas. Idealmente, os cientistas e as instituições de pesquisa não devem ater-se a crenças e sentimentos – embora a escolha do objeto, das teorias, das ferramentas e dos paradigmas pressuponham alguma afeição ao objeto e a adesão a alguma forma de crença, ainda que revestida de validade racional.

Religião significa “religar” (religio) o homem a Deus. Para isso, constrói-se um conjunto de crenças em realidades “sobrenaturais” – acima do “natural”, ou seja, do empiricamente observável, explicável e demonstrável –, transcendentais – além do normal, do visível – e sagradas – revestidas de respeito místico – que se cristalizam em tradições, rituais e códigos de conduta morais.

Quando essas crenças, tradições, rituais e códigos assumem o lugar da busca da verdade e do pleno conhecimento, cria-se a religiosidade, com um Deus fabricado à imagem e semelhança do homem (e não o inverso), útil para os propósitos humanos (e não o inverso), com mandamentos feitos por homens, e forja-se artificialmente Seu plano eterno. Essa religiosidade está mais comprometida com a estabilidade de seu poder e status do que com a verdade e o conhecimento. Portanto, está em permanente confronto com a Ciência.

Por seu turno, quando a Ciência reivindica demonstrar a existência de Deus com métodos rigorosos de pesquisa e experimentação, a partir de paradigmas teóricos, visando a resultados previstos, reprodutíveis, testados, comprovados – em suma, uma lei ou teoria geral do Divino –, reduzindo a complexidade da Criação à inteligibilidade e ao método científico disponíveis, cria-se a ciência estritamente humana, cética, cega e surda ao pleno conhecimento de Deus. Evidentemente, em permanente confronto com a verdadeira religião.

Como comparar coisas tão diferentes como Ciência e Religião?

Há três formas possíveis:

  1. i) a atitude diante do conhecimento;
  2. ii) a busca das causas primeiras, da origem de tudo;

iii) a busca do fim de todas as coisas, da razão última, do sentido de tudo.

 Atitude diante do conhecimento

A busca do conhecimento pode ter várias motivações: simples curiosidade, necessidade, amor ao objeto de estudo, ambição de lucro e poder ou temor reverencial e adoração.

“O temor do Senhor é o princípio do conhecimento”. (Provérbios 1: 7)

“O temor do Senhor é o princípio da sabedoria, e o conhecimento do Santo, a prudência”. (Provérbios 9: 10)

Para o cientista, a paixão pelo conhecimento e pela descoberta lembra, no crente, a paixão pela descoberta dos caminhos de Deus, e da forma como Ele se revela por meio da Criação.

A compreensão da intrincada lógica e racionalidade da natureza e sua evolução é um fim em si mesmo para o cientista, que não se preocupa em investigar se há uma inteligência e uma sensibilidade que dão origem a essa lógica e racionalidade.

Para o crente, entretanto, tudo isso são sinais de Deus, de Sua Sabedoria, Bondade, Perfeição, Poder e Amor por sua obra, que é a Criação. A busca dos mistérios de Deus encobertos na Criação é a descoberta do próprio Deus.

O verdadeiro crente não teme as descobertas científicas. Se Deus é verdadeiro, Ele estará sempre presente nas descobertas, mesmo que elas destruam todas as ideias preconcebidas sobre o funcionamento do universo e da vida. Essas ideias são fruto da capacidade limitada de compreensão do homem. Quando esta se expande e aprofunda, muitos dos paradigmas e teorias naturalmente devem ser revistos.

Da mesma forma, destruir conceitos e visões adotados pela teologia vigente e pelas instituições religiosas tampouco autoriza a Ciência a comprovar a inexistência de Deus.

A Ciência moderna emprega a dúvida como recurso metodológico para a busca do conhecimento. Nada é absoluto. Somente é possível chegar a verdades parciais e provisórias, até que novas verdades – teorias, leis, paradigmas – sejam comprovadas. Não há dogmas eternamente válidos. Tudo tem que ser provado, demonstrado de forma convincente.

Por seu turno, a busca de Deus parte de noções absolutas e eternas. Em lugar da dúvida, o valor essencial é a fé. A melhor definição de fé está inscrita na Epístola aos Hebreus:

“Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não vêem.” (Hebreus 11: 1)

Para o Cristianismo, portanto, a fé é um fundamento e uma prova. De coisas que não estão à vista, no presente, mas sim de uma esperança de algo que não pode ser visto hoje.

Na Ciência, o fundamento é a experiência passada, que é compreendida e determinada, e a prova, algo que demonstra cabalmente uma realidade visível, palpável, mensurável, e que pode ser atestada pela repetição de outros agentes. Na fé, o fundamento é a esperança de algo futuro, e a prova, a convicção plena de algo que não pode ser hoje demonstrado.

A Fé subverte o tempo da Ciência, e considera como prova hoje algo que somente poderá ser demonstrado no futuro. A Fé é a promessa de que uma Palavra vai se cumprir.

Na Ciência, se algo não se comprova empiricamente, abandona-se a tese. A teoria perde sua garantia e credibilidade e é abandonada.

Na Fé, se algo não se comprova empiricamente, não se abandona a crença; aguarda-se, com paciência e esperança, a realização da promessa. A Palavra não perde sua credibilidade, nem é abandonada. Tudo é questão de tempo. A garantia de tudo é a confiança no Autor da Promessa, que é Fiel e não tardará em cumpri-la.

Além disso, a esperança dos crentes não está neste mundo, mas na eternidade.

A verdadeira Fé é racional e inteligente. Deus convida a renovar a fé e o espírito, a não nos conformarmos com este mundo e a transformar nossa mentalidade e nosso entendimento, e não engessá-los em dogmas e práticas religiosas:

“E vos renoveis no espírito da vossa mente” (Efésios 4: 23)

“E não sede conformados com este mundo, mas sede transformados pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus.” (Romanos 12: 2)

Nesse sentido, Fé e razão não se contradizem, mas se fortalecem mutuamente. É necessário, entretanto, checar as Escrituras, que são a verdadeira base da Fé. Somente cabe dúvida sobre aquilo que não está de acordo com as Escrituras (sabendo, inclusive, que a interpretação destas pode variar com o próprio avanço da Ciência). Ora, em nenhum lugar da Bíblia está escrito que a terra era plana, ou que era o centro do universo, ou que confrontasse a evolução das espécies. Deus cria Seus seres usando as leis e processos da natureza que Ele criou.

São Tomás de Aquino, em sua “Súmula contra os gentios”, afirma que as verdades da razão natural não contradizem as verdades da fé cristã. Acrescenta que a verdade da fé cristã ultrapassa as capacidades da razão humana, mas nem por isso os princípios inatos à razão podem estar em contradição com a verdade sobrenatural.

Em sua “Suma Teológica”, São Tomás afirma que a fé é um antegozo do conhecimento que nos fará felizes no futuro. Recordando São Paulo, acrescenta que a fé já faz viver em nós as coisas esperadas, a felicidade futura, à guisa de prelúdio. No sentido tomista, portanto, a fé é um conhecimento de seres humanos, imperfeitos, decaídos, mas que terão pleno conhecimento de todas as coisas na eternidade. A fé, portanto, é uma ciência imperfeita, de seres terrenos, mas que já sabem o que vai se realizar quando se tornarem seres celestiais.

A atitude diante do conhecimento deve ser de humildade, e não de arrogância.

“O Senhor conhece os pensamentos dos sábios, que são vãos.” (I Coríntios 3: 20)

“Mas Deus escolheu as coisas loucas deste mundo para confundir as sábias. E Deus escolheu as coisas fracas deste mundo para confundir as fortes.” (I Coríntios 1: 27)

“Naquela mesma hora se alegrou Jesus no Espírito Santo, e disse: Graças te dou, ó Pai, Senhor do Céu e da terra, que escondeste estas coisas aos sábios e inteligentes, e as revelaste às criancinhas. Assim é, ó Pai, porque assim te aprouve.” (Lucas 10: 21)

 Busca das causas primeiras, da origem de tudo

A ciência está penetrando em áreas antes monopolizadas pela religião, pela filosofia e pela arte, na busca de causas e mecanismos que expliquem desde a criação do mundo até processos emocionais, desde o macrocosmo até os mistérios dos sentimentos pessoais.

Segundo Ross Douglas, “o problema básico não é entre criacionismo e evolução, mas entre teísmo e naturalismo; no primeiro, Deus criou o universo e ainda o sustenta; no segundo, há uma tentativa de explicar o universo e, especificamente, o homem, sem referência a Deus; o problema é realmente a idolatria, em que o lugar de Deus é substituído por um princípio ou processo como, por exemplo, o acaso”.

Essas questões centrais não são novas; são debatidas pelo homem há 2.500 anos, desde a Grécia antiga.

Na Teogonia de Hesíodo, todas as coisas surgiram do caos primordial. Insatisfeito, Epicuro questionava: “mas de onde veio o caos”? O conhecimento da natureza, para este filósofo, tornaria a humanidade mais feliz, na medida em que lhe permitiria conhecer o funcionamento do universo, desmistificando-o e rompendo com explicação antropomórfica dos fenômenos, como se a natureza fosse “boa” ou “má” por vontade dos deuses.

Outro elemento fundamental é o “atomismo” grego de Demócrito, reinterpretado por Epicuro. A ciência contemporânea, tributária dessa visão, decompõe todos os materiais e processos (desde elementos químicos e genéticos até fenômenos psicossociais) em seus componentes básicos e acredita ser possível recompô-los e recombiná-los para reproduzir as mesmas realidades ou criar novas formas, ou mesmo seres. O que os gregos chamavam de “átomos”, atualmente costuma-se chamar de “tijolinhos”, mas a lógica é a mesma: tudo poderia ser decomposto e reconstruído – inclusive a vida…

No sistema epicurista, o universo é formado por átomos que se chocam fortuitamente, por uma leve inclinação em sua trajetória, para constituir a matéria. Entretanto, ao contrário do atomismo de Demócrito, onde o encontro dos átomos é determinado e necessário, Epicuro afirma que existe uma “inclinação espontânea” dos átomos, que se desviam por alguma vontade, desejo ou afinidade com outros átomos (clinamen, paregklisis), indeterminada no tempo e no espaço (ou, pelo menos, não determinada cientificamente). Se não houvesse essa inclinação, simplesmente não haveria choques de partículas, e, portanto, não haveria matéria. Não haveria nada. Hoje, a física quântica confirma essa teoria. Ora, como não ver a vontade de Deus por trás dessa indeterminação de choques de partículas, que se aproximam, seja por gravidade, seja por “afinidade”?

Como dito acima, para o crente, a busca dos mistérios de Deus encobertas na Criação é a descoberta do próprio Deus.

“Os céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento anuncia a obra de suas mãos.” (Salmo 19: 1)

“Porque as suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto o Seu Eterno Poder, como a Sua Divindade, se entendem, e claramente se vêem pelas coisas que estão criadas” (Romanos 1: 20)

As descobertas científicas, para o crente, comprovam a sofisticação e a perfeição da vontade criadora. Seja no macrocosmo, no microcosmo, seja ainda um belo amanhecer, um pôr do sol ou uma paisagem extraordinária. Deus está por trás de toda essa beleza e complexidade.

Os pais da Ciência moderna – Copérnico, Galileu, Kepler, Bacon, Newton, Pasteur e Einstein, entre tantos outros brilhantes cientistas – eram homens de fé. O diretor do Projeto Genoma Humano, Francis Collins, defende evidências da existência divina e afirma não haver incompatibilidade entre Deus e a ciência.

Por outro lado, Darwin, ao demonstrar a teoria da evolução, demoliu crenças arraigadas – embora o próprio evolucionismo implique a necessidade lógica de um começo para tudo, não sendo admissível que tudo tenha tido origem no labirinto de um caos aleatório. Stephen Hawking sustenta que não há necessidade de uma causa sobrenatural para o Big Bang. A Física contemporânea defende a tese de que, no princípio, colisões aleatórias de átomos produziram coleções de substâncias, seguidas de moléculas que se autorreplicavam “por pura sorte”, que depois formaram seres com carga genética, de tal maneira que geraram a “ilusão” de que alguém os teria desenhado. Richard Dawking, ferrenho defensor do darwinismo, afirma que essa “ilusão” enganou a humanidade até o século XIX, quando a Ciência teria triunfado ao comprovar a inexistência de uma inteligência responsável pelo processo evolutivo.

É correto dizer que esses avanços científicos comprovam a inexistência de Deus? Ou, por outro lado, eles revelam, de forma mais precisa, as leis naturais que o Criador fez? Se essas descobertas contradizem a teologia vigente, o que deve ser mudado é a teologia, já que esta resulta da compreensão limitada do homem.

Para o crente, Deus se revela, em todo o Seu Poder e Majestade, por meio da natureza que Ele criou. Torna-se inescusável quem compreende isto e não dá glória ao Criador, fechando seu entendimento e seu coração e preferindo a loucura de glorificar a criatura.

“Porquanto, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças, antes em seus discursos se desvaneceram, e o seu coração insensato se obscureceu. Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos. E mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível, e de aves, e de quadrúpedes, e de répteis … Pois mudaram a verdade de Deus em mentira, e honraram e serviram mais a criatura do que o Criador, que é bendito eternamente.” (Romanos 1: 21 a 25)

 Busca do fim de todas as coisas, da razão última, do sentido de tudo

Em debate na Universidade de Oxford, em fevereiro de 2012, o Arcebispo de Canterbury, Rowan Williams, e o biólogo evolucionista Richard Dawking, divergiram sobre o conceito de consciência. Dawking, materialista, afirmou que a consciência emerge do funcionamento do cérebro evoluído, uma “ilusão” que pode ser compreendida pela convergência da neurociência e da ciência da computação. O Arcebispo, ao contrário, considerava a consciência reflexiva uma das provas de que Deus não somente existia, mas dava sentido à existência das coisas.

A Ciência busca chegar a teorias gerais explicativas do funcionamento do universo pelo amor ao conhecimento. Não há uma busca transcendental do sentido e da razão de ser. Investiga-se o Que e o Como.

A busca de Deus deseja ir mais além, e mostrar que há um sentido e uma vontade por detrás de todas as forças e leis que governam a natureza. O interesse não está no Que e no Como, mas no Por Quê e no Para Quê. O universo e a natureza não são fruto do acaso, nem de leis impessoais, mas de um Grande Arquiteto que criou tudo com sentido, com razão, com finalidade. O Seu Amor pela criação, pela sua obra, pelos seus filhos.

O conhecimento de Deus (Romanos 1: 21) – γνοντες  τον  θεον – e mesmo seu pleno conhecimento (Colossenses 1: 10) – επιγνωσει  του  θεου – têm a mesma raiz do conhecimento filosófico e científico grego (gnose). No Antigo Testamento, em hebraico, o conceito de conhecimento de Deus (Provérbios 2: 5; Oséias 6: 6) – אֱלֹהִים וְדַעַת – tem sentido semelhante, de entender, compreender, ter sabedoria, “agarrar pelo fio” algo.

Deus é um fenômeno complexo, difícil de apreender por meio da busca apenas de provas materiais, de uma única categoria de evidências que se podem medir, prever, testar e reproduzir, como exigidas pelo método científico atual. A Ciência “carnal”, humana, é necessariamente limitada. O modelo atualmente vigente da física somente é capaz de conhecer 4 % da matéria e da energia do universo (incluindo o “bóson de Higgs”, chamado de “partícula de Deus”). Ficam fora do atual conhecimento 96 % do universo (composto de 23 % de matéria escura e 73 % de energia escura). A Ciência busca simplificar, o que é impossível para um fenômeno complexo como Deus. Para compreender Deus, e mesmo prová-lo, a Ciência deve reconhecer sua incapacidade de entender todo o universo, que vai além do material, com seus métodos hoje disponíveis. O valor de “interdisciplinaridade” e o pluralismo metodológico devem ser empregados para estudar esse objeto extraordinário que é Deus.

A negação de Deus, pela simples incapacidade de estudá-lo com as ferramentas atuais, é em si uma atitude anticientífica, porque a Ciência deve estar permanentemente aberta ao desconhecido, e não fechar-se no que já sabe.

A Teoria das Cordas – caminho para compreender a “Mente de Deus”?

A história da Ciência é a história de mudanças de paradigmas. Ptolomaico, copernicano, newtoniano, relatividade, quântico… A cada mudança de paradigma, mudava-se a visão do universo, com reflexos imediatos na religiosidade. No momento atual, como anunciado por Einstein, o desafio da Ciência é integrar as teorias da relatividade (que explica o macrocosmo) e quântica (que explica o microcosmo), a fim de produzir uma “Teoria do Todo”, completa, capaz de compreender o funcionamento do universo. Nessa tentativa, Einstein buscava compreender “a Mente de Deus.”

Hoje, uma nova teoria tem chances de unificar as da relatividade e a quântica. Nossa visão tridimensional da realidade está em vias de ser superada por uma nova visão de um universo composto, não de partículas, como sempre se pensou, mas de minúsculas “vibrações energéticas” – unidades de energia que vibram como cordas em diferentes tons, que dão origem às partículas subatômicas. Trata-se da “Teoria das Cordas”, que se baseia na bela imagem de um universo que “toca música” em harmonia desde a escala mais ínfima até o cosmos.

Essa teoria tem origem em Pitágoras, na Grécia antiga, que estudava a relação entre matemática e música na harmonia do universo, usando justamente instrumentos de cordas.

Nessa versão, em vez de partículas subatômicas materiais, os “quarks” são unidades de energia que têm a forma de pequeníssimos filamentos ou cordas em vibração, produzindo sons infinitamente pequenos. De acordo com os “sons” que produzem, ao vibrarem de distintas maneiras, esses “quarks” podem criar distintas partículas e propriedades – formando matérias, átomos, moléculas, substâncias, seres.

Segundo o físico Michio Kaku, a física seria a harmonia dos sons produzidos por essas cordas; a química, a melodia dessas vibrações; e o universo, a sinfonia cósmica de todas essas cordas vibrando. Nós seríamos melodias, músicas cósmicas tocadas pelas vibrações quânticas.

Segundo essa teoria, não haveria apenas um único universo, mas vários universos paralelos em hiperespaços de 11 ou 12 dimensões (há controvérsia entre os físicos), que coexistiriam como “bolhas” e que poderiam comunicar-se entre si por túneis. O número 12 está muito presente na Bíblia e na organização humana do tempo-espaço: 12 tribos de Israel, 12 apóstolos, 12 portas da Nova Jerusalém, 12 meses do ano (divisão da trajetória elíptica solar), entre outros.

A Teoria das Cordas permitiria explicar fenômenos antes mesmo do Big Bang, que é interpretado como uma colisão ou fusão de universos.  

Nessa visão, a “Mente de Deus” seria música cósmica ressoando em diversas dimensões no hiperespaço, e além do tempo. No Gênesis, Deus poderia ter “cantado” (e não simplesmente falado) “faça-se”… Somos, então, músicas de Deus…

Embora esteja longe de ter sido “cientificamente” comprovada, a Teoria das Cordas está ganhando vários adeptos na comunidade científica. Ao contrário da Teoria do Big Bang, que admitiu não necessitar da presença de qualquer vontade criadora, a Teoria das Cordas decorre da inquietação de Einstein de buscar identificar a “Mente de Deus” que cria o universo, e admite a possibilidade de um universo multidimensional – que pode abrigar, de forma compatível, conceitos religiosos como “além”, “eternidade”, “vida eterna” e “seres celestiais”.

Conclusão

Como disse Louis Pasteur, “Um pouco de ciência afasta de Deus. Muita ciência aproxima dEle.” Quando se começa a compreender os segredos do universo, muitas vezes a mente se orgulha do conhecimento e se acha autossuficiente, descartando a necessidade de um Deus criador. Mas ao continuar no conhecimento da ciência, a mente volta a se convencer de que somente um Criador infinito e profundamente sábio e poderoso é capaz de dar à natureza a harmonia e a perfeição.

Ele estava no começo, e estará no fim. Ele é o Alfa e o Ômega.

“No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez.” (João 1: 1 a 3)

Diz a Sabedoria: “O SENHOR me possuiu no princípio de seus caminhos, desde então, e antes de suas obras. Desde a eternidade fui ungida, desde o princípio, antes do começo da terra.” (Provérbios 8: 22 a 23)

“Eu sou o caminho, e a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai, senão por mim”. (João 14: 6)

“E, quando todas as coisas lhe estiverem sujeitas, então também o mesmo Filho se sujeitará Àquele que todas as coisas lhe sujeitou, para que Deus seja tudo em todos.” (I Coríntios 15: 28)

 

TRECHOS PARA LER EM FAMÍLIA NO NATAL

 “Portanto, o Senhor mesmo vos dará um sinal: eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho, e lhe chamará Emanuel.”

(Isaías 7: 14)

 “O povo que andava em trevas viu uma grande luz, e sobre os que habitavam na região da sombra de morte resplandeceu-lhes a luz. Tu multiplicaste este povo e a alegria lhe aumentaste; todos se alegrarão perante ti … Porque tu quebraste o jugo que pesava sobre ele, a vara que lhe feria os ombros e o cetro do seu opressor … Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; e o principado está sobre os seus ombros; e o seu nome será Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz.”

(Isaías 9: 2, 3, 4 e 6)

 “E repousará sobre ele o Espírito do SENHOR, e o Espírito de sabedoria e de inteligência, e o Espírito de conselho e de fortaleza, e o Espírito de conhecimento e de temor do SENHOR … Mas julgará com justiça os pobres, e repreenderá com eqüidade os mansos da terra, e ferirá a terra com a vara de sua boca, e com o sopro dos seus lábios matará o ímpio. E a justiça será o cinto dos seus lombos, e a verdade, o cinto dos seus rins. E morará o lobo com o cordeiro, e o leopardo com o cabrito se deitará, e o bezerro, e o filho de leão, e a nédia ovelha viverão juntos, e um menino pequeno os guiará … Não se fará mal nem dano algum em todo o monte da minha santidade, porque a terra se encherá do conhecimento do SENHOR, como as águas cobrem o mar.”

(Isaías 11: 2, 4, 5, 6, 7 e 9)

“Ora, o nascimento de Jesus Cristo foi assim: estando Maria, sua mãe, desposada com José, sem que tivessem antes coabitado, achou-se grávida pelo Espírito Santo. Mas José, seu esposo, sendo justo e não a querendo infamar, resolveu deixá-la secretamente. Enquanto ponderava nestas coisas, eis que lhe apareceu, em sonho, um anjo do Senhor, dizendo: ‘José, filho de Davi, não temas receber Maria, tua mulher, porque o que nela foi gerado é do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho e lhe porás o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo dos pecados deles.’

Ora, tudo isto aconteceu para que se cumprisse o que fora dito pelo Senhor por intermédio do profeta: ‘Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho, e ele será chamado pelo nome de Emanuel (que quer dizer: Deus conosco).’

Despertado José do sono, fez como lhe ordenara o anjo do Senhor e recebeu sua mulher. Contudo, não a conheceu, enquanto ela não deu à luz um filho, a quem pôs o nome de Jesus.”

(Mateus 1: 18 a 25)

 “Tendo Jesus nascido em Belém da Judéia, em dias do rei Herodes, eis que vieram uns magos do Oriente a Jerusalém. E perguntavam: Onde está o recém-nascido Rei dos judeus? Porque vimos a sua estrela no Oriente e viemos para adorá-lo. Tendo ouvido isso, alarmou-se o rei Herodes, e, com ele, toda a Jerusalém; então, convocando todos os principais sacerdotes e escribas do povo, indagava deles onde o Cristo deveria nascer. Em Belém da Judéia, responderam eles, porque assim está escrito por intermédio do profeta:

‘E tu, Belém, terra de Judá, não és de modo algum a menor entre as principais de Judá; porque de ti sairá o Guia que há de apascentar a meu povo, Israel.’

Com isto, Herodes, tendo chamado secretamente os magos, inquiriu deles com precisão quanto ao tempo em que a estrela aparecera. E, enviando-os a Belém, disse-lhes: ‘Ide informar-vos cuidadosamente a respeito do menino; e, quando o tiverdes encontrado, avisai-me, para eu também ir adorá-lo.’

Depois de ouvirem o rei, partiram; e eis que a estrela que viram no Oriente os precedia, até que, chegando, parou sobre onde estava o menino. E, vendo eles a estrela, alegraram-se com grande e intenso júbilo. Entrando na casa, viram o menino com Maria, sua mãe. Prostrando-se, o adoraram; e, abrindo os seus tesouros, entregaram-lhe suas ofertas: ouro, incenso e mirra.”

(Mateus 2: 1 a 11)

 “No sexto mês, foi o anjo Gabriel enviado, da parte de Deus, para uma cidade da Galiléia, chamada Nazaré, a uma virgem desposada com certo homem da casa de Davi, cujo nome era José; a virgem chamava-se Maria.

E, entrando o anjo onde ela estava, disse: ‘Alegra-te, muito favorecida! O Senhor é contigo.’ Ela, porém, ao ouvir esta palavra, perturbou-se muito e pôs-se a pensar no que significaria esta saudação.

Mas o anjo lhe disse: ‘Maria, não temas; porque achaste graça diante de Deus. Eis que conceberás e darás à luz um filho, a quem chamarás pelo nome de Jesus. Este será grande e será chamado Filho do Altíssimo; Deus, o Senhor, lhe dará o trono de Davi, seu pai; ele reinará para sempre sobre a casa de Jacó, e o seu reinado não terá fim.’

Então, disse Maria ao anjo: ‘Como será isto, pois não tenho relação com homem algum?’

Respondeu-lhe o anjo: ‘Descerá sobre ti o Espírito Santo, e o poder do Altíssimo te envolverá com a sua sombra; por isso, também o ente santo que há de nascer será chamado Filho de Deus … Porque para Deus não haverá impossíveis em todas as suas promessas.’

Então, disse Maria: ‘Eis aqui a serva do Senhor; que se cumpra em mim conforme a tua palavra.’ ”

(Lucas 1: 26 a 38)

 “Naqueles dias, foi publicado um decreto de César Augusto, convocando toda a população do império para recensear-se … José também subiu da Galiléia, da cidade de Nazaré, para a Judéia, à cidade de Davi, chamada Belém, por ser ele da casa e família de Davi, a fim de alistar-se com Maria, sua esposa, que estava grávida.

Estando eles ali, aconteceu completarem-se-lhe os dias, e ela deu à luz o seu filho primogênito, enfaixou-o e o deitou numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na hospedaria.

Havia, naquela mesma região, pastores que viviam nos campos e guardavam o seu rebanho durante as vigílias da noite. E um anjo do Senhor desceu onde eles estavam, e a glória do Senhor brilhou ao redor deles; e ficaram tomados de grande temor. O anjo, porém, lhes disse: ‘Não temais; eis aqui vos trago boa-nova de grande alegria, que o será para todo o povo: é que hoje vos nasceu, na cidade de Davi, o Salvador, que é Cristo, o Senhor. E isto vos servirá de sinal: encontrareis uma criança envolta em faixas e deitada em manjedoura.’

E, subitamente, apareceu com o anjo uma multidão da milícia celestial, louvando a Deus e dizendo: ‘Glória a Deus nas maiores alturas, e paz na terra entre os homens, a quem ele quer bem.’

E, ausentando-se deles os anjos para o céu, diziam os pastores uns aos outros: ‘Vamos até Belém e vejamos os acontecimentos que o Senhor nos deu a conhecer.’ Foram apressadamente e acharam Maria e José e a criança deitada na manjedoura.”

(Lucas 2: 1- 16)

REFLEXÃO PARA O NATAL:
COMO SERIA SE JESUS NASCESSE HOJE?

 Como seriam os detalhes do nascimento de Jesus se isso acontecesse em nossos dias?

Reúna sua família e peça para cada um preencher o que está faltando na narrativa. Depois, leiam os trechos completos e vejam como poderia ter sido hoje…

Feliz Natal!

“José subiu da cidade de …………………….., para a cidade de ………………………, a fim de alistar-se com Maria, sua esposa, que estava grávida. Estando eles ali, aconteceu completarem-se-lhe os dias.

E ela deu à luz o seu filho primogênito, enfaixou-o e o deitou num(a) …………………….., porque não havia lugar para eles no(a) ………………………….

Tendo Jesus nascido em ………………………, em dias do ………………………, eis que vieram uns …………………………… E perguntavam: ‘Onde está o recém-nascido Rei dos judeus? Porque vimos a sua estrela e viemos adorá-lo.’

E eis que a estrela os precedia, até que, chegando, parou sobre onde estava o menino.

Entrando em ………………………., viram o menino com Maria, sua mãe. Prostrando-se, o adoraram; e, abrindo os seus tesouros, entregaram-lhe suas ofertas: ………………….., …………………… e ……………………………

Havia, naquela mesma região, …………………………….. que viviam nos(as) ……………………….. e guardavam …………………………….. durante as vigílias da noite.

E um anjo do Senhor desceu onde eles estavam, e a glória do Senhor brilhou ao redor deles; e ficaram tomados de grande temor.

O anjo, porém, lhes disse: ‘Não temais; eis aqui vos trago boa-nova de grande alegria, que o será para todo o povo: é que hoje vos nasceu o Salvador, que é Cristo, o Senhor. E isto vos servirá de sinal: encontrareis uma criança envolta em ………………….. e deitada em ………………………………….

E, subitamente, apareceu com o anjo uma multidão da milícia celestial, louvando a Deus e dizendo: ‘Glória a Deus nas maiores alturas, e paz na terra entre os homens, a quem ele quer bem.’ ”

TRECHOS PARA LER EM FAMÍLIA NA PÁSCOA

 No primeiro dia da Festa dos Pães Asmos, vieram os discípulos a Jesus e lhe perguntaram: Onde queres que te façamos os preparativos para comeres a Páscoa? E ele lhes respondeu: Ide à cidade ter com certo homem e dizei-lhe: O Mestre manda dizer: O meu tempo está próximo; em tua casa celebrarei a Páscoa com os meus discípulos. E eles fizeram como Jesus lhes ordenara e prepararam a Páscoa. Chegada a tarde, pôs-se ele à mesa com os doze discípulos. Enquanto comiam, tomou Jesus um pão, e, abençoando-o, o partiu, e o deu aos discípulos, dizendo: Tomai, comei; isto é o meu corpo. A seguir, tomou um cálice e, tendo dado graças, o deu aos discípulos, dizendo: Bebei dele todos; porque isto é o meu sangue, o sangue da [nova] aliança, derramado em favor de muitos, para remissão de pecados. E digo-vos que, desta hora em diante, não beberei deste fruto da videira, até aquele dia em que o hei de beber, novo, convosco no reino de meu Pai. E, tendo cantado um hino, saíram para o monte das Oliveiras.

Então, Jesus lhes disse: Esta noite, todos vós vos escandalizareis comigo; porque está escrito: Ferirei o pastor, e as ovelhas do rebanho ficarão dispersas. Disse-lhe Pedro: Ainda que venhas a ser um tropeço para todos, nunca o serás para mim. Replicou-lhe Jesus: Em verdade te digo que, nesta mesma noite, antes que o galo cante, tu me negarás três vezes.

Em seguida, foi Jesus com eles a um lugar chamado Getsêmani e disse a seus discípulos: Assentai-vos aqui, enquanto eu vou ali orar; e, levando consigo a Pedro e aos dois filhos de Zebedeu, começou a entristecer-se e a angustiar-se. Então, lhes disse: A minha alma está profundamente triste até à morte; ficai aqui e vigiai comigo. Adiantando-se um pouco, prostrou-se sobre o seu rosto, orando e dizendo: Meu Pai, se possível, passe de mim este cálice! Todavia, não seja como eu quero, e sim como tu queres. E, voltando para os discípulos, achou-os dormindo; e disse a Pedro: Então, nem uma hora pudestes vós vigiar comigo? Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; o espírito, na verdade, está pronto, mas a carne é fraca. Tornando a retirar-se, orou de novo, dizendo: Meu Pai, se não é possível passar de mim este cálice sem que eu o beba, faça-se a tua vontade.

Falava ele ainda, e eis que chegou Judas, um dos doze, e, com ele, grande turba com espadas e porretes, vinda da parte dos principais sacerdotes e dos anciãos do povo. E logo, aproximando-se de Jesus, lhe disse: Salve, Mestre! E o beijou. E eis que um dos que estavam com Jesus, estendendo a mão, sacou da espada e, golpeando o servo do sumo sacerdote, cortou-lhe a orelha. Então, Jesus lhe disse: Embainha a tua espada; pois todos os que lançam mão da espada à espada perecerão. Acaso, pensas que não posso rogar a meu Pai, e ele me mandaria neste momento mais de doze legiões de anjos? Como, pois, se cumpririam as Escrituras, segundo as quais assim deve suceder?

E os que prenderam Jesus o levaram à casa de Caifás, o sumo sacerdote, onde se haviam reunido os escribas e os anciãos. Jesus, porém, guardou silêncio. E o sumo sacerdote lhe disse: Eu te conjuro pelo Deus vivo que nos digas se tu és o Cristo, o Filho de Deus. Respondeu-lhe Jesus: Tu o disseste; entretanto, eu vos declaro que, desde agora, vereis o Filho do Homem assentado à direita do Todo-Poderoso e vindo sobre as nuvens do céu. Então, o sumo sacerdote rasgou as suas vestes, dizendo: Blasfemou! Que necessidade mais temos de testemunhas? Eis que ouvistes agora a blasfêmia! Que vos parece? Responderam eles: É réu de morte. Então, uns cuspiram-lhe no rosto e lhe davam murros, e outros o esbofeteavam, dizendo: Profetiza-nos, ó Cristo, quem é que te bateu!

Ora, estava Pedro assentado fora no pátio; e, aproximando-se uma criada, lhe disse: Também tu estavas com Jesus, o galileu. Ele, porém, o negou diante de todos, dizendo: Não sei o que dizes. Então, começou ele a praguejar e a jurar: Não conheço esse homem! E imediatamente cantou o galo. Então, Pedro se lembrou da palavra que Jesus lhe dissera: Antes que o galo cante, tu me negarás três vezes. E, saindo dali, chorou amargamente.

Estando, pois, o povo reunido, perguntou-lhes Pilatos: A quem quereis que eu vos solte, a Barrabás ou a Jesus, chamado Cristo? Mas os principais sacerdotes e os anciãos persuadiram o povo a que pedisse Barrabás e fizesse morrer Jesus Vendo Pilatos que nada conseguia, antes, pelo contrário, aumentava o tumulto, mandando vir água, lavou as mãos perante o povo, dizendo: Estou inocente do sangue deste [justo]; fique o caso convosco! E o povo todo respondeu: Caia sobre nós o seu sangue e sobre nossos filhos! Então, Pilatos lhes soltou Barrabás; e, após haver açoitado a Jesus, entregou-o para ser crucificado.

Logo a seguir, os soldados do governador, levando Jesus para o pretório, reuniram em torno dele toda a coorte. Despojando-o das vestes, cobriram-no com um manto escarlate; tecendo uma coroa de espinhos, puseram-lha na cabeça e, na mão direita, um caniço; e, ajoelhando-se diante dele, o escarneciam, dizendo: Salve, rei dos judeus! E, cuspindo nele, tomaram o caniço e davam-lhe com ele na cabeça. Depois de o terem escarnecido, despiram-lhe o manto e o vestiram com as suas próprias vestes. Em seguida, o levaram para ser crucificado. E, chegando a um lugar chamado Gólgota, que significa Lugar da Caveira, deram-lhe a beber vinho com fel; mas ele, provando-o, não o quis beber. Depois de o crucificarem, repartiram entre si as suas vestes, tirando a sorte.

Contudo, Jesus dizia: Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem.

E foram crucificados com ele dois ladrões, um à sua direita, e outro à sua esquerda. Um dos malfeitores crucificados blasfemava contra ele, dizendo: Não és tu o Cristo? Salva-te a ti mesmo e a nós também. Respondendo-lhe, porém, o outro, repreendeu-o, dizendo: Nem ao menos temes a Deus, estando sob igual sentença? Nós, na verdade, com justiça, porque recebemos o castigo que os nossos atos merecem; mas este nenhum mal fez. E acrescentou: Jesus, lembra-te de mim quando vieres no teu reino. Jesus lhe respondeu: Em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso.

Desde a hora sexta até à hora nona, houve trevas sobre toda a terra. Por volta da hora nona, clamou Jesus em alta voz, dizendo: Eli, Eli, lamá sabactâni? O que quer dizer: Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste? E Jesus, clamando outra vez com grande voz, entregou o espírito.

Eis que o véu do santuário se rasgou em duas partes de alto a baixo; tremeu a terra, fenderam-se as rochas; abriram-se os sepulcros, e muitos corpos de santos, que dormiam, ressuscitaram. O centurião e os que com ele guardavam a Jesus, vendo o terremoto e tudo o que se passava, ficaram possuídos de grande temor e disseram: Verdadeiramente este era Filho de Deus.

No findar do sábado, ao entrar o primeiro dia da semana, Maria Madalena e a outra Maria foram ver o sepulcro. E eis que houve um grande terremoto; porque um anjo do Senhor desceu do céu, chegou-se, removeu a pedra e assentou-se sobre ela. O seu aspecto era como um relâmpago, e a sua veste, alva como a neve. E os guardas tremeram espavoridos e ficaram como se estivessem mortos. Mas o anjo, dirigindo-se às mulheres, disse: Não temais; porque sei que buscais Jesus, que foi crucificado. Ele não está aqui; ressuscitou, como tinha dito. Vinde ver onde ele jazia. Ide, pois, depressa e dizei aos seus discípulos que ele ressuscitou dos mortos e vai adiante de vós para a Galiléia; ali o vereis. É como vos digo!

E, retirando-se elas apressadamente do sepulcro, tomadas de medo e grande alegria, correram a anunciá-lo aos discípulos. E eis que Jesus veio ao encontro delas e disse: Salve! E elas, aproximando-se, abraçaram-lhe os pés e o adoraram.

Naquele mesmo dia, dois deles estavam de caminho para uma aldeia chamada Emaús, distante de Jerusalém sessenta estádios. E iam conversando a respeito de todas as coisas sucedidas. Aconteceu que, enquanto conversavam e discutiam, o próprio Jesus se aproximou e ia com eles. Os seus olhos, porém, estavam como que impedidos de o reconhecer. Então, lhes perguntou Jesus: Que é isso que vos preocupa e de que ides tratando à medida que caminhais? E eles pararam entristecidos. Um, porém, chamado Cleopas, respondeu, dizendo: És o único, porventura, que, tendo estado em Jerusalém, ignoras as ocorrências destes últimos dias? Ele lhes perguntou: Quais? E explicaram: O que aconteceu a Jesus, o Nazareno, que era varão profeta, poderoso em obras e palavras, diante de Deus e de todo o povo, e como os principais sacerdotes e as nossas autoridades o entregaram para ser condenado à morte e o crucificaram. Ora, nós esperávamos que fosse ele quem havia de redimir a Israel; mas, depois de tudo isto, é já este o terceiro dia desde que tais coisas sucederam. É verdade também que algumas mulheres, das que conosco estavam, nos surpreenderam, tendo ido de madrugada ao túmulo; e, não achando o corpo de Jesus, voltaram dizendo terem tido uma visão de anjos, os quais afirmam que ele vive. De fato, alguns dos nossos foram ao sepulcro e verificaram a exatidão do que disseram as mulheres; mas não o viram. Então, lhes disse Jesus: Ó néscios e tardos de coração para crer tudo o que os profetas disseram! Porventura, não convinha que o Cristo padecesse e entrasse na sua glória? E, começando por Moisés, discorrendo por todos os Profetas, expunha-lhes o que a seu respeito constava em todas as Escrituras. Quando se aproximavam da aldeia para onde iam, fez ele menção de passar adiante. Mas eles o constrangeram, dizendo: Fica conosco, porque é tarde, e o dia já declina. E entrou para ficar com eles. E aconteceu que, quando estavam à mesa, tomando ele o pão, abençoou-o e, tendo-o partido, lhes deu; então, se lhes abriram os olhos, e o reconheceram; mas ele desapareceu da presença deles. E disseram um ao outro: porventura não nos ardia o coração, quando ele, pelo caminho, nos falava, quando nos expunha as Escrituras?

Falavam ainda estas coisas quando Jesus apareceu no meio deles e lhes disse: Paz seja convosco! Eles, porém, surpresos e atemorizados, acreditavam estarem vendo um espírito. Mas ele lhes disse: Por que estais perturbados? E por que sobem dúvidas ao vosso coração? Vede as minhas mãos e os meus pés, que sou eu mesmo; apalpai-me e verificai, porque um espírito não tem carne nem ossos, como vedes que eu tenho. Dizendo isto, mostrou-lhes as mãos e os pés. A seguir, Jesus lhes disse: São estas as palavras que eu vos falei, estando ainda convosco: importava se cumprisse tudo o que de mim está escrito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos. Então, lhes abriu o entendimento para compreenderem as Escrituras; e lhes disse: Assim está escrito que o Cristo havia de padecer e ressuscitar dentre os mortos no terceiro dia e que em seu nome se pregasse arrependimento para remissão de pecados a todas as nações, começando de Jerusalém.

Disse-lhes, pois, Jesus outra vez: Paz seja convosco! Assim como o Pai me enviou, eu também vos envio. E, havendo dito isto, soprou sobre eles e disse-lhes: Recebei o Espírito Santo.

Seguiram os onze discípulos para a Galiléia, para o monte que Jesus lhes designara. E, quando o viram, o adoraram; mas alguns duvidaram. Jesus, aproximando-se, falou-lhes, dizendo: Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra. Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século.

Não vos compete conhecer tempos ou épocas que o Pai reservou pela sua exclusiva autoridade; mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra. Ditas estas palavras, foi Jesus elevado às alturas, à vista deles, e uma nuvem o encobriu dos seus olhos. E, estando eles com os olhos fitos no céu, enquanto Jesus subia, eis que dois varões vestidos de branco se puseram ao lado deles e lhes disseram: Varões galileus, por que estais olhando para as alturas? Esse Jesus que dentre vós foi assunto ao céu virá do modo como o vistes subir.

REFERÊNCIAS:

Mateus 26: 17-19; 26-31; 33-34; 36-42; 47; 49; 51-54; 57; 63-70; 74-75

Mateus 27: 17; 20; 24-35; 38; 45-46; 50-52; 54

Mateus 28: 1-9; 16-20

Lucas 23: 34; 39-43

Lucas 24: 13-32; 36-40; 44-47

João 20: 21-22

Atos 1: 7-11

RITO DE CELEBRAÇÃO DA PÁSCOA JUDAICA:
UMA LEITURA CRISTÃ

 Haggadah de Pessach

Introdução

O Haggadah de Pessach é a liturgia seguida no jantar da Páscoa tradicional judaica, em grande parte seguida por Jesus e seus discípulos na Santa Ceia.

Este texto adapta a seqüência dos elementos, orações e ritos seguidos até hoje pelas famílias judaicas ao contexto da última Ceia pascal que Jesus teve com seus discípulos, incluindo citações das Escrituras e comentários próprios.

Disse Jesus: “Desejei muito comer convosco esta Páscoa, antes que padeça;  porque vos digo que não a comerei mais até que ela se cumpra no Reino de Deus”. (Lc 22: 15-16)

O Seder é a ordem da haggadah.

Sobre a mesa, deve ser colocada a Kearah  (travessa) com os elementos que farão parte da celebração com três Matzot (pães asmos, representando a Trindade).

Kadesh

Recita-se o Kidush

Preparai o banquete do Rei Supremo. Este é o banquete do Santo, bendito seja Ele.

(Bendito és tu, Adonai nosso Deus, Rei do Universo, que nos conservou em vida e nos fez alcançar esta época solene)

(Bendito és Tu, Adonai nosso Deus, Rei do Universo, que cria o fruto da videira)

Todos:

Bendito és Tu, Adonai nosso Deus, Rei do Universo, que nos escolheu dentre os povos e nos santificou por Tua misericórdia e por Teus mandamentos. Em teu amor por nós, Adonai, nosso Deus, Tu nos deste dias, festas e épocas solenes para a alegria. Este dia de festa dos pães asmos , época  de nossa libertação, dia que, em Teu amor, Tu consagraste a uma santa convocação em memória da saída do Egito. Pois nos escolheste dentre os povos e nos santificaste. Tu nos deste dias festivos  por herança, com alegria e regozijo. Bendito és Tu, Adonai, que santifica a todos os que se voltam para Ti.

[#beber o primeiro cálice]

Urchats

Segundo a tradição , o chefe da casa lava as mãos (ablução), servido por sua mulher.

Jesus disse: “o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir, e dar sua vida em resgate de muitos”. (Mc 10:45)

Em sua última ceia de Pessah, Ele ofereceu um exemplo desse serviço: ao invés de se deixar lavar as mãos, lavou os pés de seus discípulos. (Jo 13: 4 – 10)

Karpas

A Karpas (salsa), por sua cor verde, simboliza a vida. A água salgada representa as lágrimas, significando que a vida é cheia de dores e sofrimentos. A salsa também representa o buquê de hissopo que os israelenses usaram para marcar, com o sangue do cordeiro, as portas e umbrais de suas casas.

“Porque o Senhor passará para ferir aos egípcios; porém, quando vir o sangue na verga da porta, e em ambas as umbreiras, o Senhor passará aquela porta ( Pessah), e não deixará ao destruidor entrar em vossas casas, para vos ferir”. (Ex 12:23)

O Sangue do Senhor Jesus, derramado para a remissão dos pecados (Mt 26: 28) é a Nova Aliança (Mc 14: 24).

“Havendo Por Ele feito a paz pelo sangue da sua cruz, por meio dEle reconciliasse consigo mesmo todas as coisas, tanto as que estão na terra como as que estão nos céus”. (CL 1: 20) “Nem por sangue de bodes e bezerros, mas por Seu próprio sangue, entrou uma vez no Santuário, havendo efetuado uma eterna redenção”. (Hb 9: 12)

“Quase todas as coisas, segundo a Lei, se purificam com sangue; sem derramamento de sangue não há remissão”. (Hb 9: 22)

“Tendo, pois, irmãos, ousadia para entrar no Santuário, pelo sangue de Jesus, pelo novo e vivo caminho que Ele nos consagrou, pelo véu, isto é, pela sua carne, e tendo um grande sacerdote sobre a casa de Deus, cheguemo-nos com verdadeiro coração, em inteira certeza de fé;  tendo os corações purificados da má consciência, e o corpo lavado com água limpa”. (Hb 10: 19 – 22)

“E por isso também Jesus, para santificar o povo pelo seu próprio sangue, padeceu fora da porta”. (Hb 13: 12)

Referências no Apocalipse: 1:5, 5:9, 7:14 e 12:11

Todos:

Bendito é Tu, Adonai nosso Deus, Rei do Universo, que cria o fruto da terra

Vachats

O Matzah (pão asmo) é partido em dois, sendo um pedaço maior que o outro. O maior é escondido para ser comido mais tarde como Afikomen, e o menor é recolocado entre as duas Matzot. Após a ceia, ela deverá ser encontrada, a fim de que o jantar possa ser concluído.

O Messias veio (primeira parte do pão, menor, pois Ele veio como Filho do Homem, servo sofredor, sem bela aparência externa – Isaías 53 -, despojado de Sua Glória – Fp 2: 6 a 8); mas voltará no final dos tempos, quando todos O reconhecerão em Glória (segunda parte).

Maggid

Maggid é a narração da história do pessah. Uma história de liberdade e redenção. O povo de Israel, que sofria sob a servidão dos egípcios, clamou a Adonai. Ele ouviu o clamor, viu a aflição e a opressão do povo e o livrou da escravidão.

“Portanto dize aos filhos de Israel: Eu sou o Senhor, e vos tirarei de debaixo das cargas dos egípcios, vos livrarei da sua servidão e vos resgatarei com braço estendido e com juízos grandes. Eu vos tomarei por meu povo, e serei vosso Deus; e sabereis que Eu Sou o Senhor Vosso Deus, que vos tirou de debaixo das cargas dos egípcios; e Eu vos levarei à terra, acerca da qual levantei minha mão, que a daria a Abraão, Isaque e Jacó,  e vo-la darei por herança. Eu sou o Senhor”. (Ex 6: 6 – 8)

Notem as expressões de redenção: “vos tirarei de debaixo das cargas”, “vos livrarei da servidão”, “vos resgatarei com braço estendido”.

Muitos são hoje oprimidos pelo pecado, angústias e perseguições. Que todos encontrem o livramento por Yeshuah haMashiah  (Jesus, o Messias), que nos promete o fardo leve  (Mt 11: 30).

Todos:

Eis o pão de miséria que nossos pais comeram no Egito. Aquele que tiver fome, venha e coma! Aquele que está em necessidade, venha festejar a Páscoa conosco!

Manichtanah

O participante mais jovem faz as quatro perguntas tradicionais:

“Em que esta noite é diferente das outras?

Nas outras noites, nós não molhamos os alimentos nenhuma vez, mas hoje molhamos duas vezes;

Nas outras noites, nós comemos hametz (alimento com fermento) ou Matzah, e hoje só comemos Matzah;

Nas outras noites, nós comemos diversas verduras, mas hoje só comemos ervas amargas;

Nas outras noites, comemos e bebemos sentados ou reclinados, mas hoje estamos todos reclinados.”

Todos:

Adonai ajudou a nossos pais e a nós mesmos, pois não foi apenas um que tentou nos exterminar; são muitos que, em cada século, se erguem contra nós para nos destruir, mas o Santíssimo – bendito seja Ele – nos guarda de suas mãos.

(#pôr o cálice na mesa)

Todos:

Deus nos fez sair do Egito, não por meio de um anjo ou de um mensageiro, mas o Santo – bendito seja Ele – Ele mesmo nos fez sair, com toda a Sua Glória. “Eu passarei pela terra do Egito esta noite, e ferirei todo o primogênito na terra do Egito, desde os homens até aos animais. E sobre todos os deuses do Egito farei juízos.  Eu sou o Senhor” (Ex 12: 12).

As 10 pragas

Dam (sangue); Tsfardea (rãs); Kinim (vermes); Arov (animais ferozes);

Dever (peste); Sh’hin (úlceras); Barad (granizo); hoshech (trevas); Macat

B’eorot (morte dos primogênitos)

[#para cada praga, colocar uma gota de vinho, tirada com a ponta do dedo, sobre o prato]

Dayenu

Significa “isso já nos bastaria”. Na tradição hebraica, são mencionadas 14 maravilhas feitas por Deus para tirar o povo de Israel do Egito. Após cada menção, os participantes dizem

Dayenu, indicando que a graça do Senhor nos basta, e que qualquer coisa que Ele nos faz já é o bastante para nós. Por exemplo:

Se o Senhor nos tivesse feito sair do Egito sem ferir os egípcios (Todos: Dayenu)

Se Ele tivesse fendido o mar sem nos fazer atravessar a pé ( Dayenu)

Se Ele satisfizesse nossas necessidades sem nos nutrir do maná (Dyenu)

Se Ele nos tivesse conduzido ao Monte Sinai sem nos dar a  Torah (lei) (Dayenu)

Se Ele nos tivesse dado a Torah sem nos deixar entrar na terra de Israel (Dayenu)

Se Ele nos tivesse deixado entrar na terra de Israel sem construir o Templo (Dayenu)

Os Judeus messiânicos acrescentam, ao final:

Todos:

Mas Ele não somente construiu o Templo para os sacrifícios pela expiação dos pecados, mas Ele nos deu Yeshuah Bem David  (Jesus, filho de David), Seu Filho unigênito, como sacrifício pelos nossos pecados. “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu Seu Filho Unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”(Jo 3: 16).Yeshuah também disse “Derrubai este templo, e em três dias o levantarei” (Jo 2: 19). Somente após a ressureição os discípulos compreenderam que Yeshuah falava de si mesmo.

Todos:

Bendito és Tu, Adonai nosso Deus, Rei do Universo, que cria o fruto da videira.

[#beber o segundo cálice]

Matzah

Os Israelitas, ao fugirem apressadamente do Egito, tomaram pão sem fermento (pão asmo)
 (Ex 12: 39).

[#tomar a primeira parte do Matzah que está entre os dois Matzah]

(Bendito és Tu, Adonai nosso Deus, Rei do Universo, que nos santificou com Seus mandamentos e nos ordenou comer Matzah)

Maror

A Maror (ervas amargas) é lembrança da vida amarga infligida aos israelenses no Egito. Em todas as épocas, devemo-nos considerar como tendo saído nós mesmos do Egito (Bechol), que significa nossa libertação do pecado e da opressão.

A Charosset (compota de maçã, nozes, canela e vinho) representa a argamassa de fazer tijolos, em memória do trabalho de construção de edifícios no Egito.

(Bendito é Tu, Adonai nosso Deus, Rei do Universo, que nos santificou com Seus mandamentos e nos ordenou comer Maror)

[#tomar uma porção de Matzah, passar na raiz forte e no Charosset e comê-lo]

Koreh

[#tomar duas porções de Matzah e fazer um sanduíche com Maror e Charosset]

“Com pães asmos e ervas amargas a comerão”. (Nm 9: 11)

Z’roah

O osso de carneiro é o símbolo do cordeiro pascal sacrificado no Egito sem ter qualquer de seus ossos quebrado. Seu sangue foi colocado, pelo buquê de hissopo, sobre as portas e umbrais como sinal de  confiança e de fé na providência de Deus.

“Eis o cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo”. (Jo 1: 29)

“Por isso o Pai me ama, porque dou a minha vida para tornar a tomá-la. Ninguém ma tira de mim, mas eu de mim mesmo a dou. Tenho poder para dá-la, e poder para tornar a tomá-la.

Este mandamento recebi de meu Pai”. (Jo 10: 17-18)

“Mas, vindo a Jesus, e vendo-o já morto, não lhe quebraram as pernas (…) Para que se cumprisse a Escritura, que diz: nenhum de seus ossos será quebrado”. (Jo 19: 33 e 36).

Hagigah 

Em memória do cordeiro, que não é comido, a ceia começa com um ovo cozido. hagigah era o nome dado a um sacrifício especial no Templo, além do sacrifício do cordeiro. O ovo é o símbolo desse sacrifício adicional. É também um símbolo de luto pela destruição do Templo em Jerusalém, no ano 70 d.C.

Shulchan Orech

Comer a Ceia Festiva. Após a ceia:

Afikomen

O Afikomen é partido em pedaços menores do que uma azeitona, e são comidos em memória do cordeiro pascal.

“E, quando comiam, Jesus tomou o Afikomen e, abençoando-o, o partiu, e o deu a seus discípulos, dizendo: “Tomai, comei, isso é o meu corpo, que por vós é dado; fazei isto em memória de mim”. (Mt 26:26 e Lc 22: 19)

O Senhor Jesus foi rompido em sua carne pelo seu sacrifício. O véu do Templo foi rompido de alto a baixo, abrindo-nos o caminho do Santo do Santos.

“Eu Sou o pão que desce do céu, para que quem dele comer não morra. Eu Sou o pão vivo que desceu do céu. Se alguém comer desse pão, viverá para sempre. E o pão que eu der é a minha carne, que eu darei pela vida do mundo”. (Jo 6: 50-51)

Bedikar hamazon. Hallel

Ação de graças

Todos:

Bendito és Tu, Adonai nosso Deus, Rei do Universo, que nos alimenta, não segundo nossas obras e nossos compromissos, não segundo nosso mérito; que nos cobre de Tua bondade, que nos alimenta, bem como ao mundo inteiro, com Tua bondade, Tua graça, Tua grandeza e Tua misericórdia; Tu dás pão a toda a criatura, pois Tua bondade é eterna. Tua infinita bondade jamais nos deixou, e jamais nos deixará faltar alimento, pois tu alimentas e cuidas de todos os seres. Tua mesa está posta para todas as Tuas criaturas, como está escrito:

“Abres Tua mão, e satisfazes os desejos de todos os viventes”(Sl 145: 16). Louvado sejas, Deus Eterno, que nutres todos os seres.

O Deus Eterno quer nos alimentar, não apenas nossos corpos, mas também nossas almas.

“Que adianta a um homem ganhar todo o mundo e perder sua alma”(Mc 8: 36)

O Senhor Jesus disse: “Eu sou o pão da vida. Aquele que vem a mim não terá fome; aquele que crê em mim jamais terá sede”  (Jo 6: 35)

[#erguer o terceiro cálice]

Todos:

Eu levanto o cálice da salvação e invoco o nome de Deus

Notar o nome do cálice a salvação (Yeshuat), semelhante ao de Jesus (Yeshuah), que significa “o Deus Eterno salva”.

“E tomando o cálice, e dando graças, deu-lho, dizendo: “Bebei dele todos, porque isto é o meu sangue, o sangue da Nova Aliança, que é derramado por muitos para remissão dos pecados” (Mt 26: 27 – 28)

“Eis que dias vêm, diz o Senhor, em que farei uma aliança nova com a casa de Israel e com a cada de Judá. Não conforme a aliança que fiz com seus pais, no dia em que os tomei pela mão, para os tirar da terra do Egito; porquanto eles invalidaram a minha aliança, apesar de eu os haver desposado, diz o Senhor. Mas esta é a aliança que farei com a casa de Israel depois daqueles dias, diz o Senhor: porei minha lei no seu interrior, e a escreverei no seu coração. E Eu serei o Seu Deus, e eles serão o meu povo”. (Jr 31: 31 – 33)

Todos:

Bendito és Tu, Adonai nosso Deus, Rei do Universo, que cria o fruto da videira

[#beber o terceiro cálice]

Todos:

Bendito és Tu, Adonai nosso Deus, Rei do Universo, que cria o fruto da videira

[#beber o quarto cálice]

Cálice de Elias

O quinto cálice não é bebido. No livro de Malaquias, o último do Tanah (Antigo Testamento), está escrito que a vinda do Messias será precedida pelo retorno de Elias, o profeta (Ml 4: 5). Jesus disse que João Batista era o Elias que havia de vir (Mt 11: 14).

Conclusão: cântico de hinos

“E, tendo cantado o hino, saíram para o Monte das Oliveiras”(Mt 26: 30)

A tradição ensina que os peregrinos cantavam salmos de Hallel (113 a 118) ao subirem para o Templo.

DEUS EXISTE?

 Sim. Hoje mesmo falei com Ele, e sei que Ele falou com você. Mesmo que não tenha percebido.

Falou por meio de sua própria vida, quando você respirou ao acordar, por meio da natureza, das pessoas ao seu redor, de sons e sabores, do vento, do sol, da chuva, de gestos, sentimentos, lembranças e pensamentos.

Ele estava naquela criança de rua, naquele azul do céu, naquela música que lhe fez recordar alegrias e esperanças, naquele idoso que não consegue andar sozinho, naquele que estava com fome, com sede, mal vestido, doente, preso, naquele mato que cresce entre as falhas da calçada, naquele pássaro que canta no meio do trânsito, naquele prato de comida, naquela igrejinha humilde sem reboco, naquela lembrança de sua infância, naquela alegria singela, naquele amigo que lhe ajudou, naquela ideia que lhe iluminou no momento certo, naquele livramento do perigo, naquele momento de tribulação, angústia e tristeza.

Majestoso ou humilde, Ele está ao nosso redor, enchendo-nos de sinais de Sua Presença. Alegrando-se quando O sentimos, e entristecendo-se quando não O percebemos, ou quando exigimos sinais palpáveis, demonstráveis, mensuráveis, previsíveis e irrefutáveis de que Ele existe.

Que tal você mesmo provar se Deus existe ou não? Deixe de lado tudo o que lhe disseram teólogos, filósofos, intelectuais ou amigos, suas ideias preconcebidas e seus preconceitos e desconfianças, e vá direto à fonte. De forma franca, ousada e corajosa. Pergunte: “Você é Deus mesmo, ou é o produto da ingenuidade, do medo, da crendice e da imaginação popular? Se você é Deus, então me prove!”

Você receberá a resposta de uma forma que somente você vai entender. Sem nenhum intermediário.

Durante vários séculos, diversos teólogos, filósofos e intelectuais tentaram provar racionalmente a existência de Deus. Surgiram quatro correntes explicativas.

  1. Cosmológica – o universo (cosmos) é um efeito que exige uma causa; a única causa suficiente é Deus, o Criador.
  2. Teleológica – o universo tem uma finalidade (thelos); portanto, há um Arquiteto, um Planejador.
  3. Antropológica – a natureza moral, emocional e intelectual, os instintos religiosos, a inteligência e a consciência do homem (anthropos) pressupõem um Criador com as mesmas características.
  4. Ontológica – o homem tem a ideia inerente de um Ser Perfeito. Isto pressupõe a existência desse Ser, sem o que ele não seria Perfeito.

Os argumentos filosóficos e racionais não foram suficientes para comprovar a existência de Deus. E nem poderiam, nem deveriam. Nessa busca por explicações e demonstrações da origem do universo e da vida, os homens avançaram em rigor metodológico e investiram em provas científicas, especialmente no campo da Astronomia. A pequena fé da humanidade foi abalada nas vezes em que a Terra deixou de ser o centro do universo, o Sol deixou de circundar ao redor do Planeta, o sistema solar e a Via Láctea deixaram de ser relevantes na estrutura cósmica, o universo deixou de ser estático, com galáxias em constante expansão, o átomo foi cindido e assim por diante. Recentemente, Stephen Hawking concluiu que não havia necessidade de intervenção sobrenatural para o Big Bang, acentuando a polêmica e abalando ainda mais os homens de pouca fé.

Ora, não é correta a busca da comprovação de Deus pelos métodos puramente racionais – sejam filosóficos, sejam científicos. O caminho do convencimento da existência de Deus e da conversão à Sua Soberania não passam pelo cérebro. Passam pelo caminho do coração, de onde procedem as fontes da vida. Este é muito mais exigente do que a sede do racional, porque busca suprir necessidades espirituais e emocionais do ser humano, mais do que as satisfações racionais. São necessidades do ser, do existir, não do pensar.

Para responder à pergunta de se Deus existe ou não, de pouco adiantaria continuar elencando argumentos lógicos ou buscando refinar ferramentas e teorias de Astrofísica, Física quântica, Biologia molecular e assim por diante. Por mais avançadas que sejam, estas somente conseguem trazer respostas materiais para uma inquietação de outra natureza – espiritual, sentimental e existencial. Trata-se de planos distintos, que exigem métodos distintos – no caso da busca de Deus, métodos mais simples e humanos, sem a necessidade de qualquer equipamento.

Portanto, mais uma vez, para responder à pergunta de se Deus existe ou não, seja você mesmo o pesquisador, e vá à fonte direta como observador. Entre em contato com o objeto e o desafie a mostrar-se. Abra sua mente e seu coração, e a resposta será revelada em sua vida.

Para buscarem a Deus se, porventura, o possam achar, bem que não está longe de cada um de nós. Pois nEle vivemos, e nos movemos, e existimos. (Atos 17: 27 – 28a)

Porque os atributos invisíveis de Deus, assim o Seu Eterno Poder como também Sua própria Divindade, claramente se reconhecem desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que foram criadas. Tais homens são por isso indesculpáveis, porquanto, tendo conhecimento de Deus, não O glorificaram como Deus, nem lhe deram graças, antes, se tornaram nulos em seus próprios raciocínios, obscurecendo-se-lhes o coração insensato. Julgando-se sábios, tornaram-se loucos. (Romanos 1: 20 – 22)

Os céus proclamam a Glória de Deus, e o firmamento anuncia as obras das suas mãos. (Salmo 19: 1)

Ele existe, se revela e recompensa aqueles que O buscam com coração sincero. E Ele deseja demonstrar o quanto o ama.

A TRINDADE SÃO TRÊS DEUSES?

 Não. Esse é um dos mistérios mais importantes do cristianismo. E mais polêmicos, porque marca uma divergência fundamental com as doutrinas do judaísmo e islamismo.

“Shemah Israel, Adonai Eloheinu, Adonai Ehad!” (Deuteronômio 6: 4)

(“Ouve, Israel, o Senhor é Nosso Deus, o Senhor é UM”)

Esse é o clamor histórico da nação judaica, repetida todos os dias e em todas as celebrações. Muitos judeus morreram clamando essa profissão de fé, quando eram torturados pelos tribunais da Inquisição.

Judeus e muçulmanos questionam a doutrina cristã por considerarem que esta pretende fazer um homem tornar-se Deus. A base de toda a teologia judaica e islâmica é o Deus Pai e Criador. Não se admite a adoração a um homem considerado “filho de Deus”. Trata-se de uma idolatria, uma grave heresia, no ver daquelas grandes religiões adeptas do monoteísmo estrito e exclusivo. O Messias é um homem, e os cristãos fizeram dele um Deus, argumenta-se. Falar em Trindade (três Pessoas) significaria adorar três Deuses, o que é um politeísmo inadmissível, segundo essa visão.

Mas será que estamos falando de três Deuses, ou de um único Deus que se manifesta em três dimensões diferentes?

Vamos examinar mais de perto esse tema, que trata do que há de mais sagrado.

O que segue abaixo não tem qualquer pretensão de criar uma doutrina teológica. Não há qualquer intenção de firmar uma rigidez de pensamento sobre algo tão complexo e dinâmico como a essência de Deus. Pretende-se, apenas, contribuir para uma tentativa de compreensão das formas como Deus se manifesta, em sua unidade de essência eterna, como três pessoas distintas.

Apesar de o conceito de Trindade não estar presente na Bíblia, há indícios da manifestação do Deus uno de três formas ou dimensões, como três faces ou pessoas: Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo.

Imagem e semelhança: os homens são seres trinos

Se somos imagem e semelhança de Deus, há características divinas que se refletem em nós. Olhando para nós, mesmo em nossa condição limitada e decaída, podemos compreender alguns aspectos da constituição de Deus.

Somos seres individuais complexos, ao mesmo tempo espirituais e materiais, dotados de inteligência, vontade, capacidade criadora, sensibilidade e instintos animais, com consciente, subconsciente, inconsciente. E somos um.

Nossa constituição humana reflete a imagem da complexidade de Deus. Somos corpo, alma e espírito (I Tessalonissences 5: 23). Como humano, você é um ser trino, mas você é um.

Espírito deriva do latimspiritus” (“respiração”, “sopro”), que incorporou o mesmo sentido presente nas línguas hebraica (“ruah”) e grega (“pneuma“).

Espírito é a mente, o conjunto das faculdades intelectuais e a vontade atuante. Apesar de ser incorpóreo, ele incide sobre o mundo material. O espírito é agente causador. O espírito é criador. É a sede do pensamento, do projeto, do entendimento, da visão. O espírito (sopro) dá vida ao ser inanimado. Da mesma forma, o espírito, sede da inteligência, permite a compreensão da realidade e do ambiente. É o espírito que dá sentido a todas as coisas.

Alma deriva do latim “anima”, que se refere ao princípio que dá movimento ao que é vivo. O mesmo sentido estava presente em hebraico (“neshama“, “nephesh“) e em grego (“psiqué“).

Alma significa “alento”, “sopro”, o que a torna sinônimo da própria vida. Sua essência é totalmente incorpórea, profundamente íntima do ser, extraordinariamente sensível. É a sede da personalidade individual, da sensibilidade, dos sentimentos e emoções, da existência psicológica, do estado de ânimo, do humor, do desejo profundo.

 “Psychein”, em grego, significa “soprar”, o que lhe aproxima muito do conceito de “pneuma” (respiração, ar em movimento). Alma e espírito são, portanto, conceitos muito próximos. Ambos são o princípio e a essência da vida. Mas há sutis diferenças entre essas duas entidades intangíveis, imateriais, que estão profundamente interligadas.

A alma é mais sensível que o espírito (mente) e que o corpo. É muito mais difícil e lento curar uma enfermidade ou mancha na alma do que trabalhar a inteligência, a vontade, o corpo.

Como dito, o espírito, imaterial, incide sobre o material (corpo). Como se dá essa relação?

Segundo o racionalismo mecanicista e dualista de Descartes, corpo e espírito têm naturezas diferentes e incompatíveis: o espírito pertenceria ao mundo da racionalidade (res cogitans), enquanto o corpo, às coisas do mundo com extensão (res extensa) física, tangível, mensurável.

Já na tradição judaico-cristã, corpo e espírito, apesar de terem naturezas distintas, têm profundas interpenetrações, sendo possível a transformação de um em outro.

Pai, Filho e Espírito Santo

Como dito acima, não há qualquer pretensão de criar uma doutrina teológica. Pretende-se, apenas, contribuir para uma tentativa de compreensão das formas como Deus se manifesta, em sua unidade de essência eterna, como três pessoas distintas.

Como já dito, refletimos em nós a Trindade divina. Podemos compreender a complexidade de Deus pela forma que Ele nos criou, já que refletimos Sua imagem e somos feitos à Sua semelhança. Nosso próprio exemplo, como seres humanos, permite-nos entender como é possível ser uma unidade existencial complexa, ao mesmo tempo corpo, alma e espírito.

O Deus Pai e Criador pode ser facilmente compreendido como o espírito.

O Filho é o enlace de Deus Pai com a criação, o universo, e especialmente a humanidade; é a cabeça do corpo, e o único caminho que conduz ao Pai.

O Espírito Santo pode ser facilmente compreendido como a alma de Deus.

Deus é espírito (João 4: 24). A palavra usada pelo apóstolo é “pneuma“. No Gênesis, o Espírito de Deus que pairava por sobre as águas é retratado pela palavra hebraica “ruah”. É o espírito que cria, que sopra a vida, que chama pelo nome. Deus é a causa primeira de tudo o que existe. ELE É. Ele tem a existência – a vida – em Si mesmo. E, por SER em Si mesmo, Ele transmite o “ser”. É a Criação.

No momento da Criação, Deus Pai, o Criador, produz o universo material por meio de Sua Palavra – “Faça-se” (em hebraico, “ieai”). Esse “logos”, traduzido como Verbo, é a Palavra Viva, é o intermediário entre o Espírito do Pai – seu pensamento e vontade – e tudo o que foi criado no mundo tangível.

No princípio, era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez. Nele, estava a vida, e a vida era a luz dos homens.” (João 1: 1 a 4)

Esse Verbo é a Palavra Viva que tem a vida e dá vida, é o Filho primogênito, pois foi a primeira manifestação do Deus Pai.

Ele me disse: Tu és meu Filho, eu, hoje, te gerei.” (Salmo 2: 7)

O Filho existe como intermediário e elo entre a vontade do Pai e todas as coisas. Não é por acaso que Jesus sempre insistia que veio fazer a vontade do Pai, e que fazia tudo, não por si mesmo, mas como o Pai lhe tinha ensinado. O Filho, portanto, é o intermediário que une céus e terra, Deus e homem. Ele é o Emanuel, o Deus conosco.

Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida. Ninguém vem ao Pai senão por mim.” (João 14: 6)

Ele foi gerado na eternidade pelo Deus Pai, de quem recebeu a glória antes da Criação.

… glorifica-me, ó Pai, contigo mesmo, com a glória que eu tive junto de ti, antes que houvesse mundo.” (João 17: 5)

Mas Ele se despojou dessa glória para vir até nós, como homem.

Pois Ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens.” (Filipenses 2: 6 e 7)

Mais que como homem, Ele veio como servo. Como filho do homem, veio não para ser servido, mas para servir à humanidade, “religando-a” de volta a Deus (daí a palavra religião, em latim, “religio”, que significa justamente “religar”). Por isso Ele é nosso intercessor, nosso advogado.

Como intermediário e elo entre Deus e o homem, o Filho é o único que pode atrair para si toda a carga de maldição e pagar todo o preço do pecado que recaía sobre toda a humanidade. Por isso, Ele deu Sua própria Vida, sacrificou Sua própria Existência, entregando nas mãos do Deus Pai o Seu Espírito (“pneuma”) na cruz.

O Filho pediu ao Pai que nos enviasse o Espírito Santo em nome do Filho, para dar testemunho deste último. Aí está a Trindade.

E Eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, a fim de que esteja para sempre convosco … O Consolador, o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em Meu Nome, esse vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito … Quando, porém, vier o Consolador, que Eu vos enviarei da parte do Pai, o Espírito da verdade, que dEle procede, esse dará testemunho de Mim.” (João 14: 16 e 26 ; 15: 26)

Após Sua Ressurreição, o Filho anuncia que os fiéis serão batizados com o Espírito Santo e com poder, para que então possam sair pelo mundo dando testemunho e pregando a Palavra de salvação para toda a humanidade:

Vós sereis batizados com o Espírito Santo … recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra.” (Atos 1: 5 a 8)

Como dito acima, o Espírito Santo pode ser mais facilmente compreendido como a alma de Deus, no sentido da personalidade divina, com sua sensibilidade, seus sentimentos e emoções.

É verdade que, em nenhum momento, o Novo Testamento usa o termo grego “anima” (alma) para descrever o Espírito Santo. Todos os textos sempre usam o conceito de “pneuma” (espírito). Como dito acima, os conceitos de alma e espírito estão muito ligados.

Entretanto, como dito acima, a alma é nossa parte mais sensível. Da mesma maneira, o Espírito Santo é a mais sensível das pessoas da Trindade.

A Bíblia oferece diversos exemplos do perdão contra as ofensas ao Pai e ao Filho, mas deixa claro que não se perdoará ofensa ao Espírito Santo.

Em verdade vos digo que tudo será perdoado aos filhos dos homens: os pecados e as blasfêmias que proferirem. Mas aquele que blasfemar contra o Espírito Santo não tem perdão para sempre, visto que é réu de pecado eterno.” (Marcos 3: 28 e 29)

Todo aquele que proferir uma palavra contra o filho do homem, isso lhe será perdoado; mas, para o que blasfemar contra o Espírito Santo, não haverá perdão.” (Lucas 12: 10)

A Trindade do Deus Único

Como é possível compreender algo que é um, sendo três? Este é o mistério da unidade divina dentro da Trindade.

As três Pessoas não se confundem, mas se interpenetram profundamente, já que são completamente unidas pelo vínculo perfeito do amor, que está em sua essência mais íntima. Deus é amor, e suas três dimensões estão perfeitamente unidas nesse amor.

Em Sua Unidade, Deus é um Ser infinitamente complexo e dinâmico. Sua essência e natureza espirituais comportam a diversidade dentro de sua unidade. Em hebraico, o nome Deus é representado na forma plural – Elohim, plural de El.

Segundo a tradição rabínica, trata-se de um plural majestático, ou de Deus e seus anjos falando ao mesmo tempo. Mas também é possível interpretar Elohim como um Deus plural e complexo em sua natureza, sem perder sua essência unitária.

A Bíblia mostra exemplos de unidade na diversidade: homem e mulher se tornam um; exércitos de milhares de soldados são como um; a congregação do povo diante do Templo era como um.

O amor é o vínculo da perfeição (Colossenses 3: 14). Tão perfeito é esse vínculo que o amor produz unidade. É o que Jesus ensina:

“…a fim de que todos sejam um; como és Tu, ó Pai, em Mim e Eu em Ti, também sejam eles [um] em Nós … Eu neles, e Tu em Mim, a fim de que sejam aperfeiçoados na unidade…” (João 17: 21 e 23)

“Eu e o Pai somos um.” (João 10: 30)  

Jesus e o Deus Pai são um, a perfeita unidade em amor. Quando Jesus se batizou, essa unidade se manifestou de forma ainda mais completa com a visão do Espírito Santo, que desceu em forma de pomba, enquanto o Pai declarava “este é o meu Filho amado, em quem me comprazo”.

Aí estava a Trindade, manifestando sua unidade na explosão de amor divino daquele instante.

Depois de ressuscitado, antes de retornar ao Céu, Jesus disse aos seus discípulos:

“Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra. Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo.” (Mateus 28: 18 e 19)

Também aí está a Trindade, unida em um único nome como fonte do batismo dos filhos de Deus. Na tradição judaica, o nome é o próprio ser.

 

O QUE É SALVAÇÃO?

 Introdução

Que papo é esse? Levamos a vida o melhor que podemos, tentando vencer os problemas para ter tranqüilidade e algum conforto. Trabalhar, divertir, estudar, curtir a vida. Mais do que isso é papo para teólogo. Quero uma vida normal, sem complicações.

É assim que quase todos nós pensamos. E, em grande parte, temos razão de pensar assim. O trabalho e a rotina, as preocupações ou diversões nos fazem esquecer de um certo dia que nos aguarda no futuro.

Mas esse dia vai chegar. Nesse dia, uma decisão sobre sua vida será tomada. Para onde irá sua alma? Passado o barulho, o sofrimento e as distrações de sua vida, para onde você vai?

Certa vez, Jesus contou uma parábola:

O campo de um homem rico produziu com abundância. E arrazoava consigo mesmo, dizendo: Que farei, pois não tenho onde recolher os meus frutos? E disse: Farei isto: destruirei os meus celeiros, reconstruí-los-ei maiores e aí recolherei todo o meu produto e todos os meus bens. Então, direi à minha alma: tens em depósito muitos bens para muitos anos; descansa, come, bebe e regala-te. Mas Deus lhe disse: Louco, esta noite te pedirão a tua alma; e o que tens preparado, para quem será? (Lucas 12: 16 a 20)

Estava tudo indo muito bem na vida desse rapaz. Saúde, prosperidade, tranqüilidade e folga por muito tempo. “Descansa, come, bebe e regala-te”, disse ele à sua alma. Hoje, poderíamos acrescentar: “faça um spa, veja mais televisão, durma mais, divirta-se mais”.

Mas o dia chegou, e o rapaz caiu em si: “Louco, esta noite te pedirão a tua alma”…

O que você acha que vai lhe acontecer quando “pedirem tua alma”? Esse dia vai chegar, não há como fugir dele. Você sabe para onde irá sua vida?

Este é o tema central da Salvação.

Mas… Salvar de quê?

Talvez não sinta ou não saiba, mas sua vida está ameaçada. E não é pela violência que conhecemos e vemos nos noticiários. É um outro tipo de ameaça.

É uma ameaça que vem desde a eternidade. Uma ameaça à sua própria existência.

É dessa ameaça de extinção de sua alma que você precisa ser salvo.

Para livrar-se dela, duas coisas são necessárias: um sacrifício (que já aconteceu) e uma decisão (sua) de aceitar esse sacrifício.

Vamos falar de cada uma (sacrifício e decisão). Antes, porém, vamos falar sobre um tema que todo mundo evita, mas que originou essa situação: o pecado.

O Pecado

A situação é muito simples: algo muito grave foi cometido no plano da eternidade, e essa ofensa deve ser paga com o preço mais alto que pode haver – a vida.

Mas o que pode ser tão grave assim? E o que você teria feito para merecer essa condenação? Você provavelmente não se sentirá cúmplice ou muito menos autor de algo tão terrível.

Se o diabo, seus anjos malignos ou os criminosos deste mundo fizeram algo gravíssimo, problema deles, e certamente eles merecerão a justa condenação que Deus os infligirá. Mas você nunca fez nada de mal… Por que se preocupar?

Infelizmente, mesmo que não tenhamos cometido nada de mal neste mundo, temos uma natureza corrompida, incompatível com a natureza do Deus que nos criou. É o que se chama de natureza pecaminosa. Somos estruturalmente pecadores, mesmo que não façamos atos maus.

Um dia, minha filha de 8 anos me perguntou: “se os homens de hoje vieram dos homens das cavernas, e esses dos macacos, de onde vieram Adão e Eva?” Em outras palavras, Adão e Eva são personagens verdadeiros ou fábulas? Não é o caso de polemizar entre criacionistas e evolucionistas. Eu diria que Adão e Eva são nossos ancestrais espirituais, personagens históricos (não fábulas), mas não da história terrena, e sim da história espiritual e eterna da humanidade.

Somos herdeiros espirituais de Adão e Eva. Para o bem e para o mal. Para o bem, porque fomos feitos à imagem e semelhança de Deus, porque Ele soprou em nós seu Espírito, porque Ele nos ama e está sempre conosco, e nos oferece das delícias de Sua criação. Para o mal, porque herdamos o “pecado original” e a expulsão do Paraíso. Por causa do erro cometido por eles (que deram ouvidos à serpente e desobedeceram a Deus), a iniqüidade também entrou em nosso coração e sua culpa foi transmitida a todos nós.

Assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram. (Romanos 5: 12)

O pecado é qualquer coisa contrária ao caráter de Deus (C. C. Ryrie). É a iniqüidade encontrada no diabo na eternidade (Ezequiel 28: 15), que também está presente em nosso coração corrompido.

Como tudo que é contrário a Deus não subsistirá, o resultado do pecado é a morte.

Nós nos tornamos inimigos de Deus.

Por isso, somos condenados à morte por essa herança espiritual que vem do pecado original cometido por Adão e Eva na criação do homem.

Essa morte espiritual certa vez foi comparada com uma flor arrancada. Sem raízes, por mais bonita que seja, ela já está condenada à morte.

Como punição imediata (antes da condenação final), juntamente com Adão e Eva, fomos expulsos do Paraíso – que é o disfrutar da presença permanente de Deus e de Sua criação perfeita. Perdemos aquela comunhão perfeita, plena e inocente que havia no Paraíso.

Somos inclinados a fazer tudo o que Deus reprova. Nesse sentido, o pecado não é um ato cometido, mas uma inclinação de nosso ser, que nos afasta de Deus.

Isso é tudo? É o fim? Estamos condenados?

Graças ao sacrifício de Jesus, não.

O Sacrifício

Desde tempos imemoriais, o conceito de sacrifício está presente em todas as civilizações. O Antigo Testamento oferece diversos relatos de sacrifícios. Abraão concordou em sacrificar seu filho Isaque, convencendo a Deus de sua sinceridade – e, por isso, Deus o impediu e ofereceu um carneiro em troca para o ato. Na noite em que o anjo da morte atacou os primogênitos do Egito, todas as famílias de Israel foram orientadas a sacrificar um cordeiro, pôr seu sangue nos umbrais e nas pontas das portas e comê-lo (esta foi a primeira Páscoa), para que o anjo, ao ver o sangue do cordeiro, passasse por cima da casa e não a atacasse. Durante vários séculos, os sacerdotes sacrificaram no Templo de Jerusalém animais pelos pecados seus e do povo. O preferido para o sacrifício era o cordeiro. Todo o seu sangue (que representa a vida) devia ser derramado.

Mas milhões de animais não eram suficientes para pagar aquela dívida espiritual e eterna da humanidade.

Houve um homem que aceitou oferecer-se como sacrifício para pagar esse preço.

Vários séculos antes, o profeta Isaías já o havia previsto:

Ele tomou sobre si as nossas enfermidades e as nossas dores levou sobre si … Mas ele foi traspassado pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados. Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo caminho, mas o SENHOR fez cair sobre ele a iniqüidade de nós todos. Ele foi oprimido e humilhado, mas não abriu a boca; como cordeiro foi levado ao matadouro; e, como ovelha muda perante os seus tosquiadores, ele não abriu a boca … Porquanto foi cortado da terra dos viventes; por causa da transgressão do meu povo, foi ele ferido … Quando der ele a sua alma como oferta pelo pecado, verá a sua posteridade e prolongará os seus dias … O meu Servo, o Justo, com o seu conhecimento, justificará a muitos, porque as iniqüidades deles levará sobre si …, porquanto derramou a sua alma na morte; foi contado com os transgressores; contudo, levou sobre si o pecado de muitos e pelos transgressores intercedeu. (Isaías 53: 4 a 12)

Releia este trecho devagar. Medite:

Ele tomou sobre si as nossas enfermidades e as nossas dores levou sobre si

Ele foi traspassado pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniqüidades

O castigo que nos traz a paz estava sobre ele

O SENHOR fez cair sobre ele a iniqüidade de nós todos

Quando der ele a sua alma como oferta pelo pecado…

Levou sobre si o pecado de muitos e pelos transgressores intercedeu

Jesus Cristo, na cruz, atraiu sobre si toda a carga dos nossos pecados, iniqüidades e sofrimentos.

Para nos libertar.

Da morte, da dor, do pagamento de todas as penas que estavam imputadas.

Para nos salvar.

Ele morreu em nosso lugar.

Ele se colocou em nossa substituição no plano da condenação, para nos libertar.

Ele, com Sua Vida, pagou o preço de nosso resgate.

Estamos livres, definitivamente, das conseqüências do pecado.

Jesus nos abriu, de novo, o caminho do Paraíso da presença de Deus, que a humanidade havia perdido desde a eternidade.

Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não imputando aos homens as suas transgressões, e nos confiou a palavra da reconciliação. (II Coríntios 5: 19)

Pelo Seu Sacrifício, Jesus nos reconciliou com o Pai. O poder maligno do pecado e a morte que ele traz consigo não nos atingem mais. Não somos mais inimigos de Deus, mas nos tornamos, verdadeiramente, seus filhos queridos. Não somos mais objeto da ira de Deus, mas recebemos plenamente Seu Amor infinito.

E temos pleno acesso ao Espírito Santo.

Essa é a redenção de nossas vidas. Por sua morte e ressurreição, somos regenerados, temos nova natureza humana – a natureza que o Pai Criador sempre nos quis dar.

O Sangue de Jesus, derramado na cruz, nos liberta e purifica.

A Decisão

Mas há algo fundamental: esse sacrifício de Jesus, na cruz, feito para toda a humanidade, necessita ser aceito por cada um de nós para ser eficaz. Jesus não impõe a salvação. Ele se ofertou como sacrifício, mas esse mesmo sacrifício precisa ser aceito.

O perdão dos pecados precisa ser aceito.

Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. (João 3: 16)

Deus ofereceu seu próprio primeiro filho como sacrifício por amor de você e de toda a humanidade, para que não pereçamos. Mas, para isso acontecer, é necessário crer nele.

Esta decisão, somente você pode tomar.

Para que seja eficaz esse sacrifício que Jesus fez em seu lugar, pagando o preço que cabia a você, você precisa aceitar o perdão que ele ofereceu.

Você precisa ter fé em Cristo, como aquele que lhe substituiu na punição e lhe salvou da morte do pecado.

Fé em quê? No sacrifício de Jesus.

Somos justificados (isto é, tornados justos, sem culpa) pela fé que temos nesse sacrifício que Ele fez na cruz.

Se aceitamos esse sacrifício, temos que considerá-lo nosso Senhor, Soberano sobre nossas vidas, e nosso Salvador.

A única coisa necessária, portanto, para alcançar a salvação é crer naquele que Deus enviou – Jesus, o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo. Não é necessário sacrifício nosso para crer. Basta abrir o coração e reconhecê-lo como Senhor e Salvador.

É verdade que, uma vez tendo tomado essa decisão, nossos pensamentos e atitudes têm que mudar, para sermos coerentes com ela. Passamos a seguir a Jesus e evitamos uma vida de pecados. Jesus nos ajudará, dando poder para vencer as tentações.

A salvação também traz consigo a santificação. Deus nos separa do mundo, mas ao mesmo tempo nos ordena ser sal e luz. Ao mesmo tempo nos quer como filhos da luz, sem praticar obras más (como fazem os filhos das trevas), e também nos quer falando ao mundo de Seu Amor e de Sua Salvação justamente para os que não O conhecem.

Arrependemo-nos de tudo o de mal que fizemos, e buscamos a reconciliação com as pessoas. O perdão, aqui, é central. Temos que perdoar, assim como fomos perdoados.

Passamos a ter uma atitude de amor com todas as pessoas. Essa atitude nos leva a traduzir nossa fé praticando obras de amor e caridade.

Quando vier o Filho do Homem na sua majestade e todos os anjos com ele, então, se assentará no trono da sua glória; e todas as nações serão reunidas em sua presença, e ele separará uns dos outros…; então, dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai! Entrai na posse do reino que vos está preparado desde a fundação do mundo. Porque tive fome, e me destes de comer; tive sede, e me destes de beber; era forasteiro, e me hospedastes; estava nu, e me vestistes; enfermo, e me visitastes; preso, e fostes ver-me. Então, perguntarão os justos: Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer? Ou com sede e te demos de beber? E quando te vimos forasteiro e te hospedamos? Ou nu e te vestimos? E quando te vimos enfermo ou preso e te fomos visitar? O Rei, respondendo, lhes dirá: Em verdade vos afirmo que, sempre que o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes. (Mateus 25: 31 a 40)

O nome Jesus, em hebraico (Yeshua), significa “o Deus Eterno salva”.

Ele quer salvar você e lhe levar de volta para o amor do Pai Celestial. Ele se sacrificou por isso. Basta que você o aceite. Que Jesus te abençôe.

 

VOCÊ CONFIA EM DEUS OU NO HOMEM?

 

Leia Jeremias 17: 5 – 8

Maldito o homem que confia no homem

Bendito o homem que confia no Senhor

  • Faz da carne mortal o seu braço
  • Aparta seu coração do Senhor
  • Sua esperança é o Senhor
  • É como o arbusto solitário no deserto
  • Não verá quando vier o bem
  • Morará nos lugares secos do deserto, na terra salgada e inabitável
  • É como a árvore plantada junto às águas
  • Estende suas raízes para o ribeiro
  • Não receia quando vem o calor
  • Sua folha fica verde
  • No ano da sequidão, não se perturba, nem deixa de dar fruto

Caro irmão/irmã, não se engane. Não ponha sua confiança nos homens, nem em suas promessas, por mais poderosos que possam parecer. Confie em Deus. Descanse de suas ansiedades e ponha sua confiança naquEle que é o Todo Poderoso e fonte de todas as bênçãos, que sabe exatamente do que você precisa e quer lhe envolver com Seu cuidado e Sua Graça.

Muitas vezes, somente “entregamos para Deus” uma situação quando não podemos mais lidar com ela.

Não deveria ser o contrário? Entregar nas mãos de Deus toda situação, todo processo, todo empreendimento, desde seu início?

Entrega teu caminho ao Senhor, confia n’Ele, e o mais Ele fará – recomenda-nos Davi (Salmo 37: 5).

Nossos caminhos são terrenos. Nós os trilhamos a partir de nossa visão limitada do mundo e de nós mesmos. O caminho de Deus para nós deriva de Seu projeto para nós, que é um projeto divino.

“Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos, os meus caminhos, diz o SENHOR. Porque, assim como os céus são mais altos do que a terra, assim são os meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os meus pensamentos, mais altos do que os vossos pensamentos.” (Isaías 55: 8 a 9)

Deus vê do alto. Ele vê tudo. Nós, de baixo. Enxergamos pouco.

Certa vez, uma netinha brincava no chão ao lado de sua avó que, numa cadeira de balanço, fazia um bordado. A menina, ao ver tantos fios caídos, desordenados, comentou: “Vovó, que coisa feia você está fazendo! Eu não entendo nada desse desenho. Que confusão!” A avó sorriu, virou o pano que estava cosendo e mostrou à neta a linda costura que estava sendo formada do lado de cima. E disse: “Netinha, você está vendo de baixo o que eu ainda não terminei. Veja você de cima, como eu estou vendo; tudo vai ficar bonito quando eu terminar e arrancar os fios que estão sobrando. Mas é desse lado que você tem que olhar.”

Em nossa extrema ansiedade, nós nos inquietamos e desesperamos com os fios desordenados que caem por baixo da costura celestial que nosso Pai está fazendo desde acima, desde a eternidade. A fé é justamente ver o que não enxergamos, é a certeza dessa outra perspectiva que nos escapa neste mundo. Precisamos nos acalmar e confiar naqu’Ele que tem a costura de nossas vidas em Suas mãos.

“Confia no Senhor de todo o teu coração, e não te estribes em teu próprio entendimento. Reconhece-o em todos os teus caminhos, e Ele endireitará as tuas veredas. Não sejas sábio aos teus próprios olhos. Teme ao Senhor, e aparta-te do mal.” (Provérbios 3: 5 a 7)

“Não te deixarei, nem te desampararei. Tão-somente sê forte e mui corajoso para teres o cuidado de fazer segundo toda a lei que meu servo Moisés te ordenou. Dela não te desvies, nem para a direita nem para a esquerda, para que sejas bem-sucedido por onde quer que andares. Não cesses de falar deste Livro da Lei. Antes, medita nele dia e noite, para que tenhas cuidado de fazer segundo tudo quanto nele está escrito. Então, farás prosperar o teu caminho e serás bem-sucedido. Não to mandei eu? Sê forte e corajoso. Não temas, nem te espantes, porque o SENHOR, teu Deus, é contigo por onde quer que andares. (Josué 1: 5b; 7 a 9)

Em muitas situações na vida, é o próprio Senhor quem combate por nós. A única coisa que Ele nos pede é que tomemos posição no campo de batalha na vida.

Quando Jerusalém estava cercada de inimigos, o rei Josafá clamou ao SENHOR: “Em nós não há força para resistirmos a essa grande multidão que vem contra nós, e não sabemos o que fazer; porém os nossos olhos estão postos em Ti.” (II Crônicas 20: 12)

O SENHOR lhe respondeu: “Neste encontro, não tereis de pelejar. Tomai posição, ficai parados e vede o salvamento que o SENHOR vos dará, ó Judá e Jerusalém. Não temais, nem vos assusteis. Amanhã, saí-lhes ao encontro, porque o SENHOR é convosco.” (II Crônicas 20: 17)

O relato de tudo o que aconteceu depois pode ser lido nos versículos seguintes do mesmo capítulo.

Deus é poderoso para fazer infinitamente mais do que tudo quanto pedimos ou pensamos, conforme o Seu Poder que opera em nós (Efésios 3: 20).

Os que esperam no SENHOR renovarão suas forças, subirão com asas como águias, correrão e não se cansarão, caminharão e não se fatigarão (Isaías 40: 31).

 

“BEM-AVENTURADOS OS MANSOS,
PORQUE HERDARÃO A TERRA”

Você já dirigiu na contramão? É uma experiência terrível. Um grande perigo.

Jesus nos convida a andar na contramão. A viver perigosamente uma vida cheia de riscos. A bater de frente com os valores deste mundo e proclamar, em cada situação, que somos filhos da luz, e não das trevas, e que nossa esperança não está neste mundo.

Seguir os mandamentos de Deus é justamente andar na contramão da cultura e dos valores do mundo moderno. Muitos já disseram que ser cristão é proclamar uma contracultura – versão cristã da contracultura rebelde dos anos 1960.

Imagine se alguém decidisse escrever um evangelho deste mundo. Como seria escrito o trecho das bem-aventuranças, no Sermão da Montanha? Talvez algo assim:

– Bem-aventurados os espertos, os soberbos e os altivos de espírito, porque deles é o domínio deste mundo

– Bem-aventurados os que dão gargalhadas, porque podem zombar da desgraça dos outros

– Bem-aventurados os agressivos e competitivos, porque conquistarão a terra e, por atacarem primeiro, jamais sairão feridos

– Bem-aventurados os que não confiam em ninguém e são céticos com tudo, porque jamais serão enganados

– Bem-aventurados os auto-suficientes, porque não precisam da ajuda de ninguém e, portanto, jamais são vulneráveis

… e assim por diante.

Nessa mesma linha, Friedrich Nietzsche – talvez o principal porta-voz dessa corrente – considerou o cristianismo a “religião dos fracos”, e afirmava que os “super-homens”, os mais fortes, não se deviam deixar dominar pela “mentalidade escrava” dos mais fracos, e tinham todo o direito de impor-se pela sua própria força, realizando todo o seu desejo. “Deus está morto”, sentenciou.

Ponto por ponto, Jesus ensina justamente o contrário. A antítese dos valores que governam este mundo. Ele prega a mansidão em um mundo de violência.

Nosso mundo prega o darwinismo, a seleção natural, a lei da selva, a sobrevivência do mais forte e do mais apto, o aniquilamento dos perdedores, o individualismo, a auto-suficiência.

Jesus, ao contrário, prega a confiança no amor do Pai, a entrega de nossos caminhos nas mãos d’Ele, porque tudo opera para o bem daqueles que amam a Deus. A vencer o mal com o bem, rompendo com a espiral do mal (ver estudo sobre “Abençoar”).

As bem-aventuranças (dos mansos, humildes, pacificadores etc.) não são questão de moral abstrata, válida apenas em contextos socialmente restritos, mas sim uma regra universal de comportamento e de atitude. Aliás, antes mesmo disso, trata-se de um fruto do Espírito em um coração convertido e temente a Deus.

É importante entender bem o conceito. Ser manso não significa ser tímido, apático, covarde. Essas características pertencem a quem não tem amor próprio. Mas Jesus nos ensina que devemos também amar-nos a nós mesmos, quando nos ensina que temos que amar o próximo. Deus nos enche de força, dignidade e coragem. Portanto, ser manso não pode significar aquelas atitudes negativas.

O que é, então, ser manso? Num sentido mais geral, é ser gentil, humilde, atencioso, cortês.

Esse é um dos sinais mais evidentes da conversão de pessoas anteriormente violentas, marginais, drogados. A mansidão indica claramente a mudança de caráter.

Ser manso também é estar sossegado, tranqüilo, calmo, sereno, confiante diante de qualquer situação. Lançar fora a ansiedade diante das incertezas. Essa é uma atitude vitoriosa, de quem sabe que já alcançou a vitória final, apesar das derrotas e adversidades deste mundo.

“Aquietai-vos, e sabei que Eu Sou Deus” (Salmo 46: 10), é a certeza que temos em toda situação tensa. O Deus que tudo provê, o Todo Poderoso, que tem controle sobre todas as coisas, que nos ama e que é a fonte de todas as bênçãos, nos ensina que não devemos nos inquietar com o dia de amanhã.

“Entrega teu caminho ao Senhor, confia n’Ele, e o mais Ele fará” (Salmo 37: 5).

Ser manso também é ter domínio próprio, autocontrole. É ter domesticado nossos instintos. Vale lembrar que “domesticar” vem de “domos”, que significa “casa”. Vamos habitar na Casa de Deus. Portanto, que nosso espírito esteja domesticado, para aprendermos a agir somente sob o impulso do Espírito Santo.

Ser manso é também ser humilde de coração, como foi o próprio Jesus. Ele não invadiu Jerusalém montado a cavalo e liderando exércitos humanos fortemente armados. “Exulta, ó Jerusalém: eis aí vem o teu Rei, justo e salvador, humilde, montado em um jumento” (Zacarias 9: 9).

É agir como o publicano, que orava de cabeça baixa na sinagoga, consciente de sua pequenez e de seu pecado, reconhecendo-se miserável diante de Deus, ao contrário do fariseu, que orava de pé “de si e para si”, orgulhoso de sua própria fé e santidade.

Ser manso também é ser dócil, tanto para o próximo, quanto para Deus. Somente um coração manso e dócil acolhe a palavra de Deus, como a semente que cai em terreno fértil, ao contrário das que caem em corações com espinhos ou pedras. Isso exige atitudes de quebrantamento e esvaziamento. Que Deus cresça e que nós diminuamos; porque é na nossa fraqueza que se manifesta a força de Deus.

Basta-nos apenas a Graça de Deus, porque o Poder de Deus se aperfeiçoa na nossa fraqueza; por isso, quando somos fracos, então é que somos fortes (II Coríntios 12: 9 – 10).

Ser manso, portanto, não é ser bobo, ingênuo, sem amor próprio, desprezível para o mundo.

Deus confunde os sábios e fortes desse mundo, escolhendo os loucos, humildes e fracos. Deus não escolhe os capazes, mas capacita os Seus escolhidos. Deus revela seus mistérios aos humildes, e os esconde dos sábios e doutores. Deus abate os altivos e exalta os humildes.

A mansidão não resulta de uma moral cristã. É um fruto do Espírito, ao lado do(a) amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio (Gálatas 5: 22-25). Ao contrário das obras da carne, que são inimizades, porfias, ciúmes, iras, discórdias, dissensões, facções, invejas.

A mansidão, como todo outro dom, precisa ser exercitada. Em situações concretas, é importante parar e pensar, “como faria Jesus nesta situação”? Como todo dom, ela pode ser pedida em oração, pelo poder do Espírito.

Para terminar, medite em Colossenses 3: 12 – 17.

 

O MAL É MAIS FORTE QUE O BEM?

De um lado, a Bíblia afirma que, no final dos tempos, o Bem prevalecerá. Mas, de outro, a Psicologia confirma que, enquanto estamos no mundo, as impressões e influências negativas exercidas sobre nossa mente são mais fortes (e mais difíceis de superar) do que as marcas deixadas pelo bem.

Em um recente artigo científico, o psicólogo Roy Baumeister afirma que “O Mal é mais forte que o Bem” como princípio geral observável em fenômenos psicológicos.

Segundo o autor, as emoções negativas, a má influência dos pais e o mau retorno de nossas ações exercem impacto mais forte sobre nossa psiqué do que os elementos positivos. Da mesma forma, informações negativas são processadas e internalizadas de maneira mais completa do que as boas. Além disso, o nosso ser é mais motivado a evitar autodefinições negativas do que a buscar imagens positivas de nós mesmos. Impressões negativas e estereótipos são mais rápidos de serem formados, e mais resistentes ao desaparecimento.

O texto completo do artigo “Bad Is Stronger Than Good” está disponível em pdf no link http://www.csom.umn.edu/Assets/71516.pdf.

O artigo trata principalmente do mal recebido e seu efeito em nossa mente.

Desde o Éden, o mal ronda a humanidade. Conhecendo nossa imaturidade, Deus quis proteger o homem e a mulher da influência do mal, proibindo “comer” do seu conhecimento. Tudo poderia ser comido no jardim, menos a árvore do conhecimento do bem e do mal (e a árvore da vida). O Criador sabia que, no dia em que dela comessem, “certamente morreriam”, porque se “abririam os olhos e, como Deus, seriam conhecedores do bem e do mal”. A curiosidade foi mais forte do que o temor e a obediência, e os primeiros humanos foram expulsos do Paraíso – embora não da presença de Deus (e isso é fundamental). A advertência a Caim é clara: “Se procederes mal, eis que o pecado jaz à porta; o seu desejo será contra ti, mas a ti cumpre dominá-lo.” (Gênesis 4: 7)

Infelizmente, o mal está em tudo quanto se faz debaixo do sol. A todos, bons ou maus, sucede o mal, e o coração dos homens está cheio de maldade e irracionalidade (Eclesiastes 9: 3). Sabendo da força superior do mal que ainda prevalece neste mundo, Jesus ensinou a orar pedindo ao Pai que não nos deixasse cair em tentação, e que nos livrasse do mal. Na oração sacerdotal, não pediu ao Pai que nos tirasse do mundo, mas que nos guardasse do mal (João 17: 15). Explicou também, na parábola do semeador, que são poucas as sementes da Palavra que germinam em solo fértil; em muitos casos, vem o maligno e arrebata o que é semeado no coração.

Como devemos fazer para lutar contra o mal? A começar dentro de nós mesmos (livrando-nos da influência negativa que recebemos de outros e de nossos próprios instintos), mas também em nossa sociedade?

A primeira coisa é romper com a lógica do mal, quebrando sua espiral que multiplica seus efeitos na relação com Deus e com os outros.

Na relação com Deus, o essencial é temê-lo e andar sempre na Sua Presença, obedecendo-o e afastando-nos das tentações e do pecado. “Pelo temor do SENHOR os homens evitam o mal” (Provérbios 16: 6). Pertencemos a Deus, somos filhos da Luz, mas o mundo inteiro ainda jaz no maligno (I João 5: 19). Mas o Senhor é fiel, e nos guarda do maligno (II Tessalonicences 3: 3).

Na relação com os outros, para evitar a influência do mal que fizeram sobre nós, Jesus nos ensina a bendizer aos que nos maldizem e a orar pelos que nos caluniam (Lucas 6: 28).

Paulo deu conselhos muito importantes:

“Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem” (Romanos 12: 21);

“Sejais sábios para o bem e símplices para o mal” (Romanos 16: 19);

“Na malícia, sede crianças; quanto ao juízo, sede homens amadurecidos” (I Coríntios 14: 20);

“Evitai que alguém retribua a outrem mal por mal; pelo contrário, segui sempre o bem entre vós e para com todos” (I Tessalonicences 5: 15).

Pedro, na mesma linha, nos recomenda: “Aparte-se do mal, pratique o que é bom, busque a paz e empenhe-se por alcançá-la” (I Pedro 3: 11).

Sabemos que nossa luta contra o mal não se dá no plano “do sangue e da carne”, e sim no reino “dos principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestes” (Efésios 6: 12). Para isso, temos que sempre agarrar o escudo da fé, com o qual podemos apagar os dardos inflamados do maligno (idem, 16).

O Deus da paz, que é Todo Poderoso, em breve, esmagará debaixo dos nossos pés ao próprio Satanás (Romanos 16: 19).

Nossa certeza e grande esperança é que o próprio Senhor enxugará de nossos olhos toda lágrima, e que, na Nova Jerusalém, a morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas terão passado.  Nunca mais haverá qualquer maldição, e o Cordeiro que se encontra no meio do trono nos apascentará e nos guiará para as fontes da água da vida. Vivamos, aqui na terra, as primícias dessas promessas maravilhosas, trazendo o Senhor para o centro de nossas vidas. (Apocalipse 7: 17, 21:4 e 22:3)

 

NOSSO CÉREBRO É INCLINADO AO PECADO?

 Segundo as neurociências, sim. Artigo da revista BBC Focus intitulado “O cérebro humano: construído para pecar” (“The human brain: Hardwired to sin”) apresenta pesquisas realizadas pelos principais centros de investigação na matéria e conclui que nosso cérebro estimula impulsos instintivos de alimentação, procriação e violência considerados negativos pelas convenções sociais, mas que teriam a função de garantir nossa sobrevivência num contexto de seleção natural e autodefesa. O artigo afirma que a evidência científica aponta no sentido de que “a natureza quer que sejamos maus”.

A revista toma como base os tradicionalmente considerados “sete pecados capitais” e aponta pesquisas específicas realizadas por universidades: lascívia (Northwestern University, Illinois), glutonaria, preguiça, inveja (National Institute of Radiological Sciences, Japão), orgulho (Montclair State University, Nova York), ira (University of New South Wales, Austrália, e King’s College, Londres) e ambição.

Segundo um dos cientistas entrevistados, somos marionetes da Natureza, dançando de acordo com uma música pré-ordenada e que se reforça ao longo de gerações. Será mesmo? Se neurologistas e biólogos têm essa visão, outros cientistas – antropólogos culturalistas, por exemplo – negam o determinismo biológico, e afirmam a poderosa influência da cultura na superação dos condicionamentos genéticos e ambientais.

Fonte: http://www.bbcfocusmagazine.com/feature/psychology/human-brain-hardwired-sin:

O QUE É BÍBLIA?

 A Bíblia é um livro extraordinário. É a obra mais lida da História, a primeira a ser impressa (em 1452) e a mais reeditada e traduzida, podendo ser lida em 2.508 línguas e dialetos.

Seus textos foram redigidos por quase 50 autores (reis, profetas, sacerdotes, poetas, sábios, intelectuais e gente comum) ao longo de 1.400 anos (de 1.300 a.C. a 95 d.C., aproximadamente), em vários lugares (Israel, Egito, Babilônia, Grécia, Ásia Menor, Roma) e línguas (hebraico, aramaico e grego).

Ela é não apenas um livro, mas uma pequena biblioteca de 66 livros divididos em duas partes: Antigo Testamento e Novo Testamento.

“Testamento” significa aliança, acordo, pacto, compromisso celebrado entre Deus e a humanidade.

O Antigo Testamento é a aliança feita por Deus com seu povo por meio de Moisés, no Sinai.  Seus livros conformam as Escrituras Sagradas lidas e seguidas pelos judeus.

O Antigo Testamento tem 39 livros que se dividem nos seguintes conjuntos:

i) Pentateuco: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio

ii) Livros históricos:  Josué, Juízes, Rute, Samuel (I e II), Reis (I e II), Crônicas (I e II), Esdras e Neemias e Ester

iii) Livros poéticos de louvor e sabedoria: Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes e Cantares

iv) Livros proféticos: Isaías, Jeremias, Lamentações, Ezequiel, Daniel, Oséias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias

O Pentateuco narra a criação do mundo e da humanidade e a formação do povo judeu, desde a promessa a Abraão e sua peregrinação à Terra Prometida, até a volta dessa nação à mesma Terra Prometida, sob a liderança de Moisés, após a escravidão no Egito e a revelação da “Lei”.

Os livros históricos contam a saga dos israelitas na conquista da Terra Prometida, sua organização social e política, com a constituição e sucessão dos reinados, a destruição pelos Assírios e o cativeiro na Babilônia, até o retorno do exílio e a reconstrução das muralhas e do Templo de Jerusalém.

Os livros poéticos e de sabedoria contêm cânticos de louvor escritos por Davi, Salomão e sacerdotes do Templo, reflexões e ensinamentos de validade eterna: continuam plenamente válidos hoje, apesar de alguns terem sido escritos há quase três mil anos.

Os livros proféticos contêm mensagens de advertência, admoestação, encorajamento e anúncio do tempo messiânico.

O Novo Testamento, nova aliança feita por Deus com o povo pelo sacrifício de Jesus na cruz, é lido e seguido pelos cristãos. Conta a história de Jesus, seus ensinamentos, sua morte e ressurreição (Evangelhos), as primeiras décadas do cristianismo e sua difusão desde Jerusalém até a Ásia Menor, Grécia, Roma e Etiópia (Atos dos Apóstolos), as cartas enviadas pelos Apóstolos, e termina com a descrição do final dos tempos e a renovação de todas as coisas (Apocalipse).

O Novo Testamento tem 27 livros que se dividem nos seguintes conjuntos:

i) Evangelhos: Mateus, Marcos, Lucas e João

ii) Atos dos Apóstolos

iii) Epístolas de Paulo: Romanos, Coríntios (I e II), Gálatas, Efésios, Filipenses, Colossenses, Tessalonissences (I e II), Timóteo (I e II), Tito e Filemon

iv) Epístolas de Pedro (I e II), João (I, II e III), Tiago, Hebreus e Judas

v) Apocalipse

COMO A BÍBLIA CHEGOU ATÉ NÓS?

 A Bíblia é o livro mais lido da História da humanidade.

Seus textos foram redigidos por quase 50 autores (reis, profetas, sacerdotes, poetas, sábios, intelectuais e gente comum) ao longo de 1.400 anos (de 1.312 a.C. a 95 d.C., aproximadamente), em vários lugares (Israel, Egito, Babilônia, Grécia, Ásia Menor, Roma) e línguas (hebraico, aramaico e grego).

Na verdade, ela é não apenas um livro, mas uma pequena biblioteca (bíblia, em grego, significa coleção de bíblion, livros, ou rolos). Compõe-se de 66 livros (72, no cânon católico), divididos em duas partes: Antigo Testamento (39) e Novo Testamento (27).

A Bíblia foi o primeiro livro impresso (por Gutenberg, em 1452), e é o livro mais reeditado e traduzido: segundo as Sociedades Bíblicas Unidas, pode-se lê-la hoje em 2.508 línguas e dialetos.

O fato de a Bíblia ter chegado até nós é um verdadeiro milagre, e o fato de estar disponível hoje em várias línguas e mídias (impressos, CDs, on line), um verdadeiro luxo.

Três processos foram fundamentais para a que a Bíblia fosse elaborada, autenticada e disseminada:

i) a redação dos originais;

ii) a escolha dos originais “canônicos” (de autenticidade e autoridade reconhecidas);

iii) a divulgação da Palavra (por meio da reprodução fiel dos originais, de traduções, de campanhas evangelísticas e de edições em versões modernas).

Os originais

Os originais foram escritos em papiros e pergaminhos em tendas no deserto, palácios, casas comuns, prisões ou cavernas, em momentos de liderança ou perseguição política, júbilo ou angústia, gratidão, esperança ou temor, estabilidade ou peregrinação, paz ou guerra.

Os primeiros textos bíblicos – a Torá, ou Pentateuco (os primeiros cinco livros da Bíblia) – são de autoria de Moisés. Segundo a tradição judaica, Moisés recebeu o essencial da Torá no Monte Sinai no ano 1.312 a.C.

Homem culto e inspirado por Deus, instruído nas ciências egípcias e com farto acesso que teve, ainda jovem, no Egito, a registros escritos e a tradições orais sobre o início da História humana, disponíveis para estudo da família real e da elite, Moisés redigiu a Torá com base nesse acervo espiritual e intelectual, e acrescentou a tradição oral de sua própria família hebraica e a sua própria experiência – tanto como testemunha ocular dos eventos quanto como ator diretamente envolvido, líder da libertação do povo escravizado e sua peregrinação pelo deserto, quando foram estabelecidas as primeiras regras de convívio e justiça sociais e de santificação.

Além dos mandamentos entregues por Deus a Moisés no Monte Sinai e no deserto, o Pentateuco recolhe tradições narrativas, morais e legislativas milenares do povo judaico, incluindo regras sacerdotais.

Aos livros escritos por Moisés juntaram-se outros textos redigidos por Davi, Salomão e por diversos profetas e outros escritores, que redigiram textos de adoração, louvor, consolação, admoestação, narração da história dos reinados e de alerta contra os desvios de conduta e de fidelidade. Juntos, esses escritos conformam o Antigo Testamento.

A elaboração do Novo Testamento tomou como base relatos orais e escritos das primeiras décadas após a vinda de Jesus, que foram conservados e transmitidos pelo testemunho pessoal de apóstolos e discípulos que haviam convivido com Ele. A necessidade de evangelização e as reuniões litúrgicas, especialmente a Santa Ceia, levaram os primeiros cristãos a sistematizar as informações recebidas pela tradição oral em conjuntos de parábolas, milagres, polêmicas, discursos e ensinamentos. Estes documentos e fontes primárias foram compilados pelos evangelistas.

Os primeiros escritos consolidados em seu formato definitivo foram as epístolas de Paulo, a partir da década de 50 d.C.

Evangelho deriva da palavra grega evangelion, “boa nova”, que por sua vez traduz o hebraico bissar (da qual deriva a palavra portuguesa, de origem árabe, “alvíssara”). Trata-se de anunciar a boa nova da salvação trazida por Jesus:

É chegado a vós o Reino de Deus”.

João Marcos, companheiro de Pedro e Paulo, redigiu o primeiro Evangelho, mais simples, factual e objetivo, para o público romano. O texto serviu de base para os Evangelhos de Mateus e Lucas – aquele, mais atento às tradições e à cultura judaicas de Jerusalém e da Síria, e este, mais detalhado e investigativo, dirigido a um público greco-pagão de Antioquia e da Ásia Menor. Esses três Evangelhos são chamados sinóticos (do grego syn + opsis, “olhar de conjunto”).

Lucas, gentio convertido, companheiro de Paulo em suas viagens missionárias – este o chamava “médico caríssimo” –, minucioso e rigoroso, também escreveu “Atos dos Apóstolos”, com o registro das primeiras décadas do cristianismo e sua expansão.

O Evangelho de João, tradicionalmente atribuído ao apóstolo, é distinto dos chamados “sinóticos”, visto que se preocupa menos pelos aspectos descritivos, narrativos e geográficos, e mais pela ênfase nos sinais de Jesus como Messias, Filho de Deus e Salvador.

A divulgação da Palavra

A reprodução fiel dos originais em cópias autênticas foi um milagre da História, da cultura e da organização social de judeus e cristãos.

Desde a construção do Templo por Salomão, no século IX a.C., o ensino da Torá era concentrado em Jerusalém, nas instalações do Templo Sagrado, onde ficavam guardados os originais e suas reproduções.

Com o esfriamento da fé, esses documentos ficaram esquecidos por um longuíssimo período no Templo de Jerusalém. Por volta de 650 a.C., o sumo sacerdote Hilquias, ao fazer a reforma do Templo a mando do rei Josias, encontra o Livro da Lei. Ele o entrega ao escriba Safã, que anuncia a descoberta ao rei e o lê. Josias, rei piedoso e temente, fica consternado ao ouvir seu conteúdo, rasga suas vestes, clama a Deus e reúne todo o povo para ouvir, no Templo, o Livro da Aliança que havia sido encontrado (II Reis 22: 8 a 23: 3; II Crônicas 34: 14 – 32).

Durante o exílio na Babilônia (século VI a.C.), com a destruição do primeiro Templo em 587 a.C., os judeus levaram consigo a Torá e os outros textos sagrados e passaram a reunir-se nas sinagogas, em comunidades menores, nas quais as Escrituras eram ensinadas e discutidas. O núcleo do judaísmo deslocou-se do Templo de Jerusalém para as sinagogas espalhadas em diversas cidades fora de Israel. Essa característica continuou válida mesmo após o retorno dos judeus após o exílio, e a reconstrução do Templo, em 516: a sinagoga passou a ser o local de culto, oração e leitura da Palavra. A destruição do segundo Templo na tomada de Jerusalém pelo Imperador romano Tito, em 70 d.C., pôs as sinagogas da diáspora, definitivamente, no centro do judaísmo.

Para viabilizar essa nova condição, disseminou-se a prática das cópias dos textos sagrados, para satisfazer à nova demanda de leitura e adoração em uma escala mais ampla e geograficamente dispersa. O papel do escriba, responsável pela reprodução dos textos, passou a ser central no novo contexto cultural israelense. Da mesma forma, assumiram crescente importância os fariseus, leigos versados nas Escrituras, que buscavam interpretá-las, ensiná-las e cobrar o cumprimento dos mandamentos.

No início do século V a.C., quando dezenas de milhares de judeus já haviam retornado do exílio, um escriba e sacerdote destacou-se sobremaneira na Babilônia: Esdras. Ele partiu do império persa e liderou em Jerusalém o reavivamento, a purificação e o novo pacto dos judeus retornados com o seu Deus. Esse processo de reconstrução da fé e da nação foi em larga medida baseado na organização e sistematização de todos os textos sagrados até então escritos. Quase todos os livros do Antigo Testamento foram colecionados e reconhecidos como canônicos por Esdras, que inclusive escreveu o livro de Crônicas e o livro que leva seu próprio nome.

Os sábios (tanaim) preservaram a Torá escrita e a comentaram e interpretaram à luz da Torá Oral (que, no século II d.C., seria compilada na Mishná). Dois séculos mais tarde (século IV d.C.), os sábios comentaristas (amoraim) compilaram os ensinos, debates e comentários rabínicos no Talmude (de Jerusalém e da Babilônia).

Durante a Idade Média (entre 600 d.C. e 950 d.C), os massoretas padronizaram as reproduções do Antigo Testamento. A fim de preservar a exatidão das cópias e conferir tais reproduções, examinavam cuidadosamente cada rolo, contando a média de letras de cada página, cada livro e cada segmento do texto. Além disso, transcreveram as vogais e acentos dos textos em hebraico (que usa, basicamente, consoantes) por meio dos chamados sinais massoréticos.

Os Manuscritos do Mar Morto foram reproduções rigorosamente fiéis dos textos sagrados do Antigo Testamento produzidas pelos essênios, judeus monásticos que moravam em comunidades messiânicas em Qumran (às margens do Mar Morto). Tendo profetizado a destruição do Templo e a dispersão de Israel, os essênios decidiram reproduzir as Escrituras e guardá-las em vasos de barro em cavernas daquela região. Os manuscritos se mantiveram em perfeito estado de conservação durante mais de dois mil anos, permitindo confirmar a exatidão dos textos bíblicos pela sua confrontação com as cópias disponíveis produzidas muitos séculos depois.

Até a descoberta dos Pergaminhos do Mar Morto, em 1947, as mais antigas cópias do Antigo Testamento eram textos massoréticos que datavam da Idade Média (895 d.C.). Essa descoberta confirmou a autenticidade de diversos livros sagrados: encontrou-se, por exemplo, um texto em hebraico do século II a.C. contendo todos os livros do Antigo Testamento, com exceção do de Ester. Esse texto, mil anos mais antigo que o manuscrito mais velho até então disponível, confirmou a precisão dos rolos que serviram de base para as Bíblias que estavam sendo usadas e traduzidas.

A reprodução e divulgação dos textos sagrados do Novo Testamento era feita, também de forma rigorosa e institucionalizada, pelos membros da igreja. Manuscritos de textos em grego e hebraico foram preservados nas igrejas ortodoxas orientais e começaram a chegar à Europa ocidental.

Para facilitar a leitura e recuperação de trechos específicos, a Bíblia foi dividida em capítulos em 1226 por Étienne Langton. Três séculos mais tarde, em 1551, Robert Estienne subdividiu os capítulos em versículos.

A divulgação das Escrituras foi fortemente acelerada pelas traduções, tanto clássicas, quanto, mais recentemente, para diversas línguas e dialetos autóctones.

Já no século V a.C. havia traduções aramaicas dos textos sagrados hebraicos, utilizadas pela comunidade judaica no Egito.

A Septuaginta, versão grega do Antigo Testamento elaborada no século III a.C., foi a primeira grande iniciativa de tradução da Bíblia, como resultado do trabalho de 72 rabinos de Alexandria, que teriam completado a tradução em 72 dias.

No século III d.C., foram também produzidas traduções latinas (versão Ítala), siríaca e copta.

A Vulgata, versão latina da Bíblia, foi elaborada por São Jerônimo por volta de 400 d.C.

Ao longo da Idade Média, diversos exemplares da Bíblia foram produzidos artesanalmente como verdadeiras obras de arte e pintura.

A Bíblia foi o primeiro livro impresso (Gutenberg, em 1452, imprimiu a Vulgata latina). Cópias impressas decoradas com pinturas à mão passaram a ser disseminadas. A técnica de impressão viabilizou a difusão ainda maior das Bíblias, que passaram a ser traduzidas em escala: antes de 1500, já estavam disponíveis em alemão, italiano, francês, tcheco, holandês e catalão. Até meados do século XVI, também haviam sido traduzidas para espanhol, dinamarquês, inglês, sueco, húngaro, islandês, polonês e finlandês.

Traduções clássicas em línguas europeias foram estimuladas pelo movimento reformista protestante, que defendia o estudo direto, sem intermediação eclesiástica, das Sagradas Escrituras (sola Scriptura). Surgiram, assim, as versões em inglês – Rei Tiago (King James) –, francês – Louis Segond –, espanhol – Reina Valeria – e português – João Ferreira de Almeida -, entre outras.

A Bíblia é o livro mais reeditado e traduzido do mundo, podendo ser lida hoje em 2.508 línguas e dialetos.

Nas últimas décadas, surgiram edições da Bíblia em linguagens atualizadas, para facilitar sua leitura e compreensão pelo público moderno, principalmente jovem.

Os cânones

Uma vez elaborada cada peça original, era necessário confirmar sua autenticidade, inspiração e autoridade divinas (regra da canonicidade), para que fossem consideradas, efetivamente, Escrituras Sagradas.

Praticamente todos os 39 livros do Antigo Testamento foram colecionados e reconhecidos como canônicos por Esdras (século V a.C.). Esses eram as Escrituras e a Lei às quais se referia Jesus em seus ensinamentos e quando afirmava que vinha cumpri-las, e não revogá-las.

Após a destruição do Segundo Templo, no ano 70 d.C., autoridades judaicas reuniram-se no Sínodo de Jamnia / Jabne (ocorrido entre 70 e 100 d.C.) e confirmaram os livros do Antigo Testamento que haviam sido selecionados por Esdras.

O cânon judaico foi então fixado em 24 livros (que correspondem aos 39 acima referidos, que aparecem aqui reagrupados), divididos em três segmentos:

i) a Lei de Moisés (Torá) – o Pentateuco;

ii) os Profetas (Neviim) – livros históricos e proféticos; e

iii) os Escritos (Ketuvim) – demais livros.

As iniciais desses três nomes formam, em hebraico, o acrônimo Tanach, que abrange o chamado Antigo Testamento dos cristãos.

A Bíblia católica incorpora outros livros que foram incluídos na tradução da Septuaginta, mas que não figuram na lista de Jamnia / Jabne: Macabeus, Sabedoria, Eclesiástico, Baruque, Judite e Tobias.

Os livros apócrifos não são considerados canônicos, quer por dúvidas em sua autenticidade e inspiração divinas, quer por confronto com a chamada “sã doutrina”. Apesar de serem respeitados e de conterem elementos importantes para a história do povo de Deus, não eram considerados no mesmo nível de autoridade, santidade e inspiração que os outros textos das Escrituras Sagradas. O Concílio de Trento (1548) reconheceu como canônicos os livros apócrifos, mas os reformadores protestantes rejeitaram essa decisão. A Bíblia protestante segue, portanto, o mesmo cânon judaico estabelecido no final do século I d.C.

Quanto ao Novo Testamento, a maioria dos textos já era reconhecida como autêntica poucas décadas depois de sua elaboração pelos apóstolos, na segunda metade do século I d.C. O primeiro concílio que reconheceu como canônicos todos os 27 livros do Novo Testamento foi o Concílio de Cartago, em 397 d.C.

Existem, hoje, mais de cinco mil manuscritos e fragmentos do Novo Testamento, muitos dos quais reproduções datadas do século II d.C. (muito próximas do período de elaboração dos originais), o que torna esse conjunto o mais bem documentado dos escritos antigos – incluindo qualquer texto de filosofia clássica ou outro. Além destes, há o Códice Sinaítico, o Códice Vaticano (ambos do século IV d.C.) e o Códice Alexandrino (século V d.C.).

 

OBJEÇÕES A JESUS E AO CRISTIANISMO

 Abaixo, algumas objeções correntes a seguir a Jesus ou a ser cristão. Você se enquadra em alguma(s) delas?

Não quero perder minha identidade

A identidade é o que há de mais importante na existência consciente do indivíduo e do grupo social. Somos produto de nossa cultura e de nosso ambiente.

Além disso, sofremos enorme pressão da família, dos amigos e de nosso entorno social para continuar a ser o que somos.

Mas se um dia o Deus Todo-Poderoso lhe tocar em sua essência, e você descobrir o quanto Ele lhe ama e quer salvá-lo, com Seu Poder e Sua Graça, você precisará refletir sobre como deve segui-lo e, ao mesmo tempo, manter sua identidade.

Você não deixará de ser jovem para segui-lo. Leve consigo sua alegria, sua disposição, seus sonhos, sua garra de juventude. Talvez precise rever alguns valores ou comportamentos que não são compatíveis com o caminho que Ele deseja para você. Mas precisa de coragem para aguentar, com dignidade, algumas “gozações da galera”. Não se preocupe, seus companheiros terão respeito pela sua coragem de mudar. Se você tiver atitudes de amor e bondade, sua atitude os fará refletir. Ore pelos seus amigos.

Jesus era judeu, nascido no seio de uma família judaica, zeloso com os costumes e rituais e fiel à Torá, e enfaticamente afirmou que veio, não para abrogar, mas para cumprir o que estava escrito. Sabia que o povo judeu era o povo eleito, e foi enviado, primeiro, aos “filhos / ovelhas perdidos da casa de Israel”. Amou até o fim o seu povo, e continua amando-o, desde a eternidade, no seio do Avinu Malkeinu, nosso Pai e Rei Eterno, ao lado de Abraão. Há dois milênios dezenas de milhares de judeus têm acreditado nisto, sem deixar de serem judeus – ao contrário, descobriram o verdadeiro sentido das promessas da Torá, e redobraram seu orgulho pela herança celestial dos filhos de Israel. Todos os primeiros milhares de cristãos foram judeus. A epístola que Paulo (Saulo) – esse grande fariseu, de profundas raízes e convicções judaicas, que nunca se perderam – dirigiu aos Romanos contém, no capítulo 11, um maravilhoso relato do plano de Adonai para o povo eleito. Em resumo, afirma que o que os judeus buscaram, outros povos encontraram, mas que Elohim salvará Israel, e agirá com misericórdia para com seu povo. O povo judeu é a videira original, e os “goim” (gentios), a videira brava, enxertada na videira original. No final dos tempos, quando vier o Mashiah (Messias), todas as dúvidas serão sanadas, e os verdadeiros adoradores de Elohim serão salvos e viverão eternamente com Ele. 

Islã significa submissão. Ora, devemos ser submissos e servos de Deus. Como disse Goethe, se isto é o Islã, então porventura não somos todos islâmicos? O Alcorão é baseado na Torá e na Bíblia, e Maomé foi profundamente influenciado (e ajudado) por cristãos e judeus em sua juventude. Os muçulmanos acreditam em Jesus (Issa) como profeta e como o Messias que virá para julgar no final dos tempos (ver quadro comparativo entre cristianismo, judaísmo e islamismo em “Filhos de Abraão”). Há milhões de muçulmanos profundamente crentes e fiéis ao Todo-Poderoso. O nome árabe “Allah” era a tradução de “Deus” usada por cristãos e judeus da Península Arábica antes mesmo de Maomé. No final dos tempos, quando vier o Messias, todas as dúvidas serão sanadas, e os verdadeiros adoradores de Allah serão salvos e viverão eternamente com Ele.

Seguir a Deus não exige violentar nossa identidade, mas implica algo mais profundo: nascer de novo. Despojamo-nos do “homem velho”, com “coração de pedra”, e somos “novas criaturas”, “novos homens e mulheres”, com um “coração de carne”, renovados em nossa vida, sentido de existência, esperança e verdadeira essência divina. Jesus quebra todas as barreiras culturais (“não há judeu nem grego, romano nem bárbaro”) e nos dá uma nova identidade, um novo nome, uma nova vida, um novo ser. Tornamo-nos todos filhos do Pai Eterno. Sem abandonar nossa identidade cultural, adquirimos uma nova cidadania, que é a cidadania celestial.

Erros históricos da Igreja

Lamentavelmente, a Igreja e os que se autoproclamavam cristãos cometeram erros e atrocidades brutais ao longo de toda a História, e isso tem sido um forte argumento para os que rejeitam seguir a Jesus.

Durante séculos, a Igreja perseguiu, torturou, matou, humilhou e desfigurou identidades e culturas.

Desde que a Igreja e o poder político-estatal se uniram, com o Imperador Constantino, no século IV d.C., a Igreja perseguiu bárbaros, muçulmanos (Cruzadas), protestantes (guerras religiosas), judeus (Inquisição), justificou ideologicamente a submissão de culturas autóctones pelas potências coloniais e assim por diante.

A história da Igreja, infelizmente, é cheia de escândalos.

“Ai do mundo, por causa dos escândalos; porque é inevitável que venham escândalos, mas ai do homem pelo qual vem o escândalo!” (Mateus 18: 7), advertiu Jesus.

Não se deve confundir a Igreja – instituição da Igreja – corpo de Cristo.

Os escândalos e crimes históricos, exemplos bárbaros de intolerância e violência, em nada representam os mandamentos de Jesus.

A Igreja que Jesus plantou na terra é um corpo de irmãos unidos pelo amor ao próximo e pela vocação de serviço à humanidade. Uma antecipação terrena das bênçãos celestiais. Sal e luz do mundo. Humilde, simples, pronta para servir e se sacrificar.

Muito longe do que vemos, em termos de atitudes de arrogância, intolerância, riqueza, ostentação, sede de poder terreno (as “bancadas evangélicas” e seus métodos políticos mundanos), corrupção, pedofilia…

Portanto, não se deve julgar a Jesus e rejeitar seus mandamentos pelos erros cometidos em Seu Nome. Os que perpetraram esses erros não são dignos de atuarem em Seu Santo Nome.

Ele ordenou à Sua Igreja pregar o evangelho e abençoar toda língua, povo e nação. Anunciar a salvação que Ele trouxe, e a vinda do Reino de Amor.

Portanto, vale deixar de lado a Igreja institucional, com os erros e escândalos de seus líderes e membros, e olhar somente para o Cristo crucificado e sua mensagem de amor e redenção para toda a humanidade.

Todas as dúvidas religiosas, históricas e culturais cairão quando, no Dia do Juízo, for ouvida a voz do Céu que diz “Vinde, benditos de meu Pai! Entrai na posse do reino que vos está preparado desde a fundação do mundo”.

QUADRO SINÓTICO DE SEMELHANÇAS
E DIFERENÇAS ENTRE
CRISTIANISMO, JUDAÍSMO E ISLAMISMO

 

Cristianismo

Judaísmo

Islamismo

Deus

Monoteísmo. Deus é o Soberano Criador do Universo. Compassivo, misericordioso e justo.

Monoteísmo. Adonai Elohim, Hashem, é o Soberano Criador do Universo. Compassivo, misericordioso e justo.

Monoteísmo. Allah é o Soberano Criador do Universo. Compassivo, misericordioso e justo.

Jesus

Filho de Deus. Estava com Deus desde a criação (“tudo foi feito por meio dele”). Despojou-se da divindade para viver e morrer como homem. Messias (Cristo), Salvador e “novo Adão”. Ressuscitou, retornou aos Céus e está sentado à direita do Pai, de onde voltará no final dos tempos.

Rabi e líder popular, provavelmente ligado aos essênios e fundador da seita dos nazarenos, Ieshuah pregava uma interpretação própria da Torá. Proclamando-se Messias, enfrentou-se com o sinédrio, os fariseus e os saduceus e foi punido com a morte pelos romanos.

Issa é o penúltimo profeta, antes de Maomé. Do mesmo nível hierárquico que os outros profetas do Antigo Testamento, como Moisés. Não é filho de Deus, nem morreu na Cruz (foi substituído), mas foi levado para o Céu. É o Messias que retornará no final dos tempos.

Messias

Jesus é o Messias (Cristo) que veio primeiro como sacrifício vivo (cordeiro) e Salvador, e que voltará como Juiz e Rei.

O Messias (Mashiah) somente virá no fim dos tempos, precedido pelo anúncio de Elias.

Issa é o Messias que veio primeiro como profeta e voltará como Juiz.

Trindade

Pai, Filho e Espírito Santo conformam uma unidade (não são três deuses). O Deus único se manifesta nessas três pessoas.

“Shema Israel, Adonai Eloheinu, Adonai Ehad” (“Ouve, ó Israel, o Senhor é nosso Deus, o Senhor é Um”). Adonai é único e indivisível.

Allah é único e indivisível.

Maria

Para os protestantes, a mãe de Jesus é um exemplo de mulher santa, mas não deve ser adorada. Para os católicos, ela é santa no sentido estrito, intercessora entre os homens e Jesus, e deve ser adorada.

Miriam é uma mulher judia, tal como milhões de outras ao longo da História.

Miriam é a mãe de Issa, o que a torna especial, mas apenas humana.

Povo de Deus

No sentido amplo, são tanto os judeus quanto os crentes em Jesus.

No sentido estrito do Antigo Testamento, é o povo judeu.

No sentido estrito do Novo Testamento, são os crentes em Jesus.

É o povo judeu.

São os muçulmanos, fiéis herdeiros de Allah. Os judeus e cristãos, que receberam primeiro os mandamentos, tornaram-se infiéis.

Centros

Para a Igreja Católica, Roma

Jerusalém

Meca, Medina e Jerusalém

Marcos históricos

Nascimento de Jesus (entre 4 a.C. e 6 a.C.)

Crucifixão de Jesus (cerca de 30 d.C.)

Deus revela a Torá a Moisés (1.312 a.C)

Destruição do primeiro Templo (587 a.C.)

Retorno do exílio na Babilônia (516 a.C.)

Destruição do segundo Templo (70 d.C.)

Criação do Estado de Israel (1948)

Hégira – migração de Maomé de Meca para Medina (622 d.C.)

Livros Sagrados

Bíblia (Antigo Testamento e Novo Testamento)

Torá (Pentateuco)

Tanach (Pentateuco, livros históricos e proféticos e outros escritos sagrados)

Talmude

Alcorão (que se inspira na Bíblia)

 

O “FATOR MELQUISEDEQUE”

O “Fator Melquisedeque” é o título em português de um livro de Don Richardson, cujo título original é “Eternity in their hearts”. Deus colocou o sentimento, a intuição e o desejo de eternidade nos corações dos homens de todas as culturas, línguas e nações. Nesse livro, o autor afirma que há uma revelação original de Deus que deixou importante rastro na memória e na cultura de todos os povos, que pode ser identificado em valores, ritos e práticas tradicionais de povos indígenas em diversos países e regiões que nunca tiveram acesso à Bíblia.

Inspirado nesse livro, esta parte do site deseja identificar elementos bíblicos inconscientemente contidos em diversas culturas e religiões, praticados e seguidos de forma às vezes automática e ritualística, como provas de que há padrões de consciência divina de eternidade espalhados por todo o mundo.

Alguns trechos desta parte são resumos do livro de Richardson. Outros serão objeto de investigações próprias e de diversos colaboradores.

Melquisedeque é um dos personagens mais misteriosos da humanidade. Ele personifica o universalismo do reino de Deus, que está aberto a todos os povos, raças, línguas e nações.

Seu nome, em hebraico, significa “meu rei é justiça”. Ele era rei de Salém (em hebraico, “paz” – portanto, “rei de justiça, rei de paz”), cidade antecessora de Jerusalém, e sacerdote do Deus Altíssimo (em hebraico, “El Elion”).  

Quando Abraão retorna de seu confronto com outros reis da região, Melquisedeque vai a seu encontro, trazendo pão e vinho, e o abençôa em nome do Deus Altíssimo (“El Elion”).

A autoridade espiritual e moral de Melquisedeque, portanto, é superior. Nenhum outro personagem humano na Bíblia acumulou os papéis de rei e sacerdote, e é ele quem abençôa Abraão, o pai de muitas nações.

A Epístola aos Hebreus descreve Melquisedeque como “sem pai, sem mãe, sem genealogia; que não teve princípio de dias, nem fim de existência; entretanto, feito semelhante ao Filho de Deus, [que] permanece sacerdote eternamente” (Hebreus 7: 3).

A mesma Epístola confronta o sacerdócio levítico e o sacerdócio de Melquisedeque.

O sacerdócio levítico é “segundo a ordem de Aarão” (irmão de Moisés), o primeiro sacerdote, descendente de Levi e de Abraão, e se baseia na Lei mosaica recebida no Sinai. Todos os sacerdotes (cohanin) do Templo eram levitas.

Já o sacerdócio “segundo a ordem de Melquisedeque” não tem descendência nem genealogia: é eterno.

Uma palavra sobre o significado do termo “da ordem de”. Em grego, a palavra é “taxin” (de “taxis”, ordem), que tem o sentido de classificação, de categoria, e não o sentido de uma ordem religiosa. Portanto, não se deve interpretar essa passagem como se Melquisedeque tivesse estabelecido ele mesmo uma ordem.

Segundo a Epístola, o sacerdócio levítico não conduziu à perfeição e teve fim, o que gerou a necessidade de que se levantasse outro sacerdote “segundo a ordem de Melquisedeque”, não contado.

Nessa perspectiva, Jesus tornou-se “Sumo Sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedeque” (Hebreus 6: 20). Veio, não da tribo de Levi, mas de Judá, que não tinha nenhum sacerdócio, e, “à semelhança de Melquisedeque” (em grego, “omoiotita” – semelhança)  se levantou, “constituído não conforme a lei de mandamento carnal, mas segundo o poder de vida indissolúvel”, tornando-se “fiador de uma aliança superior”, um sacerdote “santo, inculpável, sem mácula, separado dos pecadores e feito mais alto que os céus”, de um sacerdócio eterno, imutável, que continua intercedendo permanentemente diante de Deus, e “que não tem necessidade, como os sumos sacerdotes, de oferecer todos os dias sacrifícios … porque fez isto uma vez por todas, quando a si mesmo se ofereceu” (Hebreus 7: 16, 22, 24-27).

Referências:

Gênesis 14: 18 – 20

Hebreus 6: 20

Hebreus 7 (todo o capítulo)

CITAÇÕES

 

Muita oração, muito poder. Pouca oração, pouco poder (Anônimo)

Não diga a Deus que você tem um grande problema; diga ao seu problema que você tem um grande Deus. (Anônimo)

A língua de Deus e o dedo de Deus não podem contradizer-se. (Johannes Kepler)

Deus não escolhe os capacitados; Ele capacita os escolhidos. (Anônimo)

A vontade de Deus nunca irá levá-lo aonde a Graça de Deus não irá protegê-lo. (Anônimo)

Criastes-nos para Vós, e o nosso coração vive inquieto, enquanto não repousa em Vós. (Santo Agostinho)

Vivo como se Cristo tivesse sido morto ontem, ressuscitado hoje e voltasse amanhã. (Lutero)

Ter fé é assinar uma folha em branco e deixar que Deus nela escreva o que quiser. (Santo Agostinho)

Tome cuidado com sua vida; talvez ela seja o único evangelho que as pessoas leiam. (São Francisco de Assis)

Um pouco de ciência afasta de Deus. Muita ciência aproxima dEle. (Louis Pasteur)

Pregue o evangelho todo o tempo. Se necessário, use palavras. (São Francisco de Assis)

O demônio teme a alma unida a Deus como o próprio Deus. (São João da Cruz)

Quando Deus está em silêncio, é porque Ele está trabalhando. Não se desespere. (Anônimo)

A Bíblia é o único livro que vamos ler sempre na companhia do Autor. (Anônimo)

Perguntei a Jesus: “o quanto me amas?” Ele me respondeu: “assim te amo”. E abriu os braços, e morreu por mim.  (Anônimo)

Quem fica de joelhos diante de Deus fica de pé diante de qualquer circunstância. (Anônimo)

Se tiver de cair, caia de joelhos. (Anônimo)

Quando humilhas teu coração diante de Deus, Ele coroa tua cabeça. (Anônimo)

A presença de Deus em nós depende do espaço que reservamos para Ele. (Pe. Fábio de Melo)

O impossível é apenas uma das especialidades de Deus. (Anônimo)

Devemos amar nosso próximo, ou porque ele é bom, ou para que ele se torne bom. (Santo Agostinho).

Se o diabo tenta te lembrar do teu passado, você tem que lembrá-lo do futuro dele, que é em um lago de fogo, debaixo dos nossos pés. (André Valadão)

A primeira coisa que você precisa fazer quando o problema vem é orar: Deus, me ajude a ficar emocionalmente estável. (Joyce Meyer)

Acreditar que o universo não tem um Criador é o mesmo que acreditar que um dicionário é o resultado de uma explosão numa tipografia. (Benjamin Franklin)

A ação de Deus não se dá por mágica, mas pela constância, perseverança, paciência e esperança. É sempre uma ação transformadora rumo à perfeição que Ele planejou para nós.

Não crer em Deus é achar que é possível ler as frases do mundo sem um sujeito – apenas com predicados e objetos supostamente livres e soberanos.

[1] Gênesis 12: 2b.

[2] Mateus 12: 34a – 37.

[3] Mateus 5: 44-45a.

[4] Lucas 6: 27b – 28; 33; 36 – 37; 38 b.

[5] Romanos 12: 14; 17a; 20-21.

[6] Gênesis 1: 22 e 28.

[7] Gênesis 1: 28 – 30.

[8] Gênesis 12: 2b – 3.

[9] Gênesis 15: 1b; 5 – 6.

[10] Números 6: 24 – 26.

[11] Números, capítulos de 22 a 24.

[12] Deuteronômio 28: 3 – 13.

[13] Deuteronômio 28: 15 e ss.

[14] Deuteronômio 30: 19-20.

[15] Salmo 3: 8.

[16] Êxodo 34: 6.

[17] Lucas 1: 50.

[18] Salmo 23: 6.

[19] Salmo 90: 14a.

[20] Salmo 52: 8.

[21] Salmo 103: 17a.

[22] Salmo 106: 1.

[23] I Coríntios 15: 19.

[24] Filipenses 3: 20.

[25] Gálatas 2: 20.

[26] Isaías 55: 6-11.

[27] Romanos 10: 12.

[28] Efésios 4: 1-3, 5-6.

[29] Gálatas 5: 22-25.